Depois de um hiato de quase 2 anos, o cantor e compositor Tiago Iorc retornou, de surpresa, no último domingo (5). A ausência de Iorc foi justificado como uma tentativa de fugir da vida das redes sociais, sobretudo do Instagram, fazendo um “retiro” em Los Angeles, no Estados Unidos.
Para os fãs e admiradores de Tiago Iorc, a surpresa foi muito bem-vinda. Isso porque, não apenas lançou seu quinto álbum de estúdio, mas também porque trata-se de um álbum visual. Reconstrução conta com 13 faixas inéditas, todas acompanhadas com clipes roteirizados pelo próprio artista, disponíveis no Youtube. A Universal Music Brasil, gravadora que cuida de Tiago Iorc, também recebeu com espanto a obra, já que não houve, como normalmente acontece, qualquer planejamento de divulgação do disco.
Ao contrário do álbum “Kisses”, de Anitta, o de Tiago Iorc traz um álbum visual coerente, com uma proposta mais consistente. No entanto, a proposta não se distancia muito dos trabalhos anteriores do artista. O tema do romantismo ainda se faz presente no repertório do cantor, porém, desta vez, com mais densidade.
Iorc ainda aproveita o álbum para fazer referência a outros artistas da MPB, como aconteceu na faixa “Desconstrução”, que lembra a música “Construção”, de Chico Buarque. Na canção de Buarque, os versos são terminados por palavras proparoxítonas, enquanto na de Tiago, são finalizadas por oxítonas.
O filme é produzido por Tiago Iorc, que também atua na produção, ao lado da atriz Michele Alves, que fazem da trilha sonora o começo, meio e fim, à primeira vista, sobre a construção de um relacionamento.
Esse começo de uma paixão, sempre quente e passível a erros, figura-se nos vídeos “Hoje lembrei do teu amor”, “Deitada nessa cama”, “Fuzuê” e “Faz”. Depois, o amor toma um ar mais estabelecido, mostrando-se em “Nessa paz eu vou”, “Tua caramassa” e “Me tira pra dançar”. O desgaste vem, porém, e com ele as lágrimas de “Bilhetes”.
Vale salientar, também, a grande contribuição da atriz estreante Michele Alves no álbum visual de Iorc. Sem uma produção exagerada, tanto em cenografia, como em vestuário, Michele usa camiseta e bermuda e, às vezes, nem isso. O pouco se faz muito na carga dramática e na ótima interpretação que ela põe sobre sua personagem.
Sua atuação mostra a evolução da personagem durante a narrativa: autodescoberta, em “Reconstrução”; sensualidade, em “Hoje lembrei do teu amor”; euforia, em “Tua caramssa” e “Me tira pra dançar”; desolação, em “Bilhetes” e “Sei”.
Sem dúvida, é no clipe de “Tangerina” em que Michele deixa registrado o seu potencial. No vídeo, só aparece a boca da atriz, com um batom de tom alaranjado, o que remete ao título da faixa. Dramaticamente, ela recita os versos “Minha sina/ Gana suicida/ Morte divina/ Doce tangerina”.
Em apenas 1 dia de lançamento, Tiago Iorc alcançou, no YouTube, dezenas de milhões de visualizações e conseguiu colocar todas músicas no Top 50 das mais ouvidas no Brasil, no Spotify. Iorc embala o disco com baladas românticas, junto com o violão e piano, mas os arranjos trazem uma densidade inédita no repertório do músico. É um trabalho coeso, que responde à expectativa dos fãs, o que só reafirma Iorc como parte importante da renovação de ídolos que vive o pop brasileiro hoje.
TIAGO IORC Reconstrução [Universal, 2019]