Thor: Amor e Trovão
Taika Waititi
EUA,2022, 1h59, 12 anos. Distribuição Disney Studios
Com Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tessa Thompson, Christian Bale
No ano de 1941, a Marvel lançou seu primeiro filme de super-herói: As Aventuras do Capitão Marvel. O longa era na verdade, um compilado da série televisiva de 12 capítulos já assistida por parte do público, porém foi o filme inaugural de um universo expansivo e plural, que tomaria conta das salas de cinema por décadas. Na atualidade, a Marvel já adentra a sua quarta fase no cinema, se despedindo de personagens aclamados pelo público, dando boas vindas a uma nova geração e, no meio disso, buscando consagração cada vez maior àqueles super-heróis e heroínas que permaneceram.
Dessa forma, Thor: Amor e Trovão se enquadra justamente na terceira categoria e tenta provar que o Thor (interpretado por Chris Hemsworth) é capaz de se reinventar quantas vezes for preciso e continuar marcando o universo Marvel como um dos personagens mais queridos e poderosos. Talvez por essa sede de inovação, o novo longa-metragem traz para as telonas um estilo, digamos, mais piadista de contar sua história.
- Resenha: Lola e Seus Irmãos é uma típica comédia sem pretensões (até demais)
- Resenha: Seguindo Todos os Protocolos: Transando com máscara e álcool gel
A premissa do filme é básica: o poderoso Thor, depois de se recuperar de seu estado de tristeza e inércia, ajuda os Vingadores na batalha contra o vilão Thanos e para seguir salvando pessoas (ou outros seres vivos), decide se juntar aos Guardiões da Galáxia. Quando ele percebe, porém, um nova ameaça em sua terra natal, Asgard, o herói decide voltar para casa e batalhar contra o vilão Gorr, um matador de deuses. Em paralelo na narrativa, também reencontramos Jane Foster (Natalie Portman), antiga namorada de Thor, que viaja até a terra do amado, onde é escolhida pelo antigo martelo do deus, Mjolnir, para ser a nova pessoa a empunhá-lo, se tornando a Poderosa Thor. Assim, Thor parte em uma aventura junto à ex namorada, a amiga de longa data, Rei Valquíria (Tessa Thompson) e Korg (Taika Waititi) para lutar contra Gorr (Christian Bale).
O grande problema da obra é que, mesmo com uma história simples e já comum no universo dos super-heróis, a narrativa se afunda completamente nas piadas e no humor constante. O diretor do longa, Taika Waititi é conhecido por filmes com passagens irreverentes, como Jojo Rabbit (2019), mas desta vez, muitas das falas soam forçadas e as situações enfrentadas pelos personagens, deslocadas da própria obra.
A comédia em Thor tomou a frente em quase todas as cenas, apagando a narrativa e criando uma dificuldade em fazer com que o espectador sinta empatia pela história e personagens. Em meio a tantas pausas dramáticas para um punchline muitas vezes tosco, uma piada visual ou fala engraçadinha, os personagens foram engolidos e se tornaram quase totalmente sem graças.
O grande protagonista do filme, Thor, sempre foi um super-herói carismático, que arranca risadas do público pela pose de importante e os comentários sem noção, mas também encanta com a compaixão e força de vontade. Em Amor e Trovão, porém, ele se torna quase um personagem de comédia pastelão de filmes americanos e todas as suas características supostamente engraçadas, quando elevada a um nível alto demais, tornam o personagem raso.
Com a narrativa em segundo plano, é apenas no final da obra que cenas com menos risadas passam a acontecer, porém sem uma boa construção dos personagens, fica mais difícil se apegar a eles e consequentemente, a emoção sentida pelo espectador não é tão grande quanto poderia ser.
O filme buscou uma mudança da fórmula perfeita já desenvolvida para os grandes protagonistas de filmes de super-heróis, o que vem sendo um projeto da Marvel com as séries aclamadas no Disney+ como WandaVision, Loki e What If?, além dos últimos filmes, tal qual Doutor Estranho e Shang-Chi, porém com Thor: Amor e Trovão, a intenção não vingou.
Com espaço para explorar o sentimento de amor para além do romance vivido pelos protagonistas, Taika infelizmente não desenvolveu as relações e a grande lição que o filme busca passar fica ofuscada pelas piadas sem graça.
Mais resenhas de filmes
- “As Polacas”: melodrama de João Jardim nasce datado e desperdiça eficiência do elenco
- “Queer”: Quando desejo e drogas alucinógenas se dão os braços
- “Clube das Mulheres de Negócios”: boas ideias esbarram em narrativa acidentada
- “Wicked”: adaptação do musical da Broadway é tímida, mas deve agradar fãs de Ariana Grande
- “Herege”: com boa premissa, novo suspense da A24 se perde em soluções inconvincentes