Thom Yorke é um mestre em criar atmosferas hipnóticas em bases tão bem construídas que ressoam no cérebro horas depois de terminada a audição. E ele consegue esse feito novamente em Anima, seu mais novo trabalho solo.
O curioso é que Yorke alcança esse nível de envolvimento com o ouvinte em um disco feito deliberadamente para ser obscuro, sombrio, cheio de texturas que remetem a uma narrativa distópica e pessimista. De fato, o disco é parte de um projeto audiovisual mais ambicioso que inclui um curta-metragem disponível no Netflix e dirigido pelo amigo de longa data do músico, o cineasta Paul Thomas Anderson.
O disco teve produção de Nigel Godrich, que produziu obras-primas do Radiohead, como OK Computer e Kid A. O estilo é bem parecido – eletrônica e rock experimental com ecos de jazz, mas o estilo pessoal de Yorke se sobressai em sua carreira solo, que apela para uma proposta mais próxima do house.
É possível inclusive dançar com essa extrovertida distopia semi-apocalíptica que traz novamente temas recorrentes do trabalho de Yorke, sempre marcado por uma visão de um mundo às voltas com sua própria devastação. O melhor trabalho de Thom Yorke solo até aqui.
THOM YORKE Anima [XL, 2019]