QUARTA TENTATIVA
De carreira irregular, banda mantém prestígio entre os fãs e se dá bem em novo disco
Por Lidiana de Moraes
THE VERVE
Forth
[Parlophone, 2008]
Algumas bandas acabam. Outras acabam, mas voltam. Quando isso acontece, logo surge um batalhão de inquisidores para fazer a mesma pergunta: qual o interesse deste grupo que o fez voltar? No fundo o desejo crítico dos outros impede que a pergunta certa seja feita: essas bandas ainda têm algo de bom para mostrar?
Nove anos depois de encerrado, The Verve retoma as atividades com o álbum Forth. O nome é simples, mesmo assim significativo: o quarto disco da banda pode ser visto como uma retomada, não um recomeço, afinal eles não precisam reescrever sua história, é apenas uma questão de continuá-la.
O que muita gente não sabe é que Forth não é o primeiro retorno do The Verve. Em 1995, depois de lançar The Northern Soul, divergências entre os integrantes acabaram com um dos queridinhos dos críticos. Depois de dois anos de pausa, a volta grandiosa aconteceu com o disco Urban Rhymes e a sublime “Bittersweet Simphony”. A segunda retomada da banda inglesa não é tão majestosa, mas Forth mostra que Richard Ashcroft e companhia, ainda têm muito para dar aos fãs de música.
Na abertura de “Sit And Wonder”, os fãs mais fervorosos podem imaginar Ashcroft, Simon Tong, Nick McCabe, Simon Jones e Peter Salisbury ressurgindo das cinzas ou então transpassando a densa fog londrina para retornar à luz clamada na letra da canção. No primeiro single, “Love Is Noise”, as influências modernas e ruidosas de mixagem tão usadas pelo vocalista, especialmente em seus primeiros trabalhos solo “Alone With Everybody” e “Check The Meaning”, são integradas ao estilo dos ingleses.
Ruído é um conceito que se repete ao longo de Forth. Seja em “Noise Epic” ou “Columbo”, há uma tentativa de se desprender da idéia melódica depressiva e amarga, para criar um ambiente mais propício a uma catarse espiritual do que a uma sessão de terapia. Já “Numbness” faz juz ao título e parece remeter aos velhos dias do vocalista magrelo e branquelo, afundado nas drogas ou dentro de si mesmo, sendo confrontado pelo sucesso. O clima é tenso e melancólico, como se a banda estivesse cansada, em um estado torpe, que deixa o ouvinte ligado, esperando o próximo acontecimento, que normalmente aparece nos riffs de guitarra de McCabe.
O tempo de separação parece ter feito bem aos rapazes. No hiato de quase uma década, eles se envolveram em projetos interessantes – vide The Good, The Bad and The Queen – e carreiras solos respeitáveis. Mas a vontade de voltar a ser uma banda criou uma atmosfera positiva presente nas canções do quarto disco. E talvez o único problema deste trabalho esteja justamente ai: bate uma saudade da atitude lacrimejante, quase derrotista, dos anos 90. Nem mesmo canções mais suaves como “Valium Skies” e “Appalachian Springs” soam tão tristes como um dia soaram “Sonnet” e “This Drugs Don’t Work”.
Antes do lançamento do disco, The Verve já havia retornado aos palcos dos grandes festivais do Reino Unido. A reação do público não poderia ter sido melhor, até mesmo com as músicas novas. No entanto, no novo trabalho os rapazes de Wigan não produziram hinos como costumavam fazer. Mas em um período com bandas tão inconsistentes e sucessos tão recicláveis, as boas canções de Forth bastam para fazer com que o público agradeça a volta da banda.
NOTA: 7.5
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The Verve – “Love Is Noise”