O mundo pop está passando por uma grande mudança do final de 2018 até agora. Novos nomes surgiram; outros, se afastaram. Novos nomes apareceram. Em meio a tantas novidades, Taylor Swift abandona polêmicas e controvérsias que foram tanto repercussão como temas de seus álbuns anteriores com o novo trabalho: Lover. Assim como o gênero musical, a cantora também não é mais a mesma.
A fórmula encontrada por Swift em Red (2012) e 1986 (2014) perdurou por muito tempo nos seus lançamento seguintes e também marcou a transição de Taylor do country para o pop. Mas, foi em Reputation (2017) em que ela encontrou sua própria voz. Brincando com a identidade de “cobra” apontada pela imprensa e por outros “colegas” de profissão, ela fez de suas críticas uma excelente jogada de marketing. No entanto, ainda que bem produzido, o álbum soava como uma recauchutagem dos discos anteriores.
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Abastecido com composições românticas e uma fase mais colorida, em Lover Taylor Swift quebrou o estereótipo criado no álbum anterior. São dezoito músicas, todas compostas pela cantora. Falando de temas que vão de aceitação, amor e respeito às diferenças, Taylor ressurge mais assertiva e interessante, adicionando camadas de complexidade às letras. Chega também mais aberta, emotiva e até mesmo sincera.
A primeira aparição dessa nova era foi com o lançamento do single/vídeo “ME!”, em que ela fez parceria com Brendon Urie, da banda Panic! At the Disco. O colorido do clipe, o alto astral e as batidas criaram uma nova imagem para Swift. A forma escapista e até quase infantil, que também se apresenta na própria capa do álbum, nos faz da Taylor a Xuxa do nosso tempo.
As raízes do country também vieram neste novo projeto da eterna princesinha do gênero. Em “Soon You’ll Get Better”, parceria com Dixie Chicks. A música é uma referência à família de Taylor Swift e fala da batalha travada pelos seus pais contra o câncer. Sem dúvida, é a música mais profunda e bem embalada do Lover.
E, a faixa-título do álbum também não deixa a desejar. A música caminha entre o country e o retrô e lembra-nos o começo da carreira da compositora. O romantismo é fortemente referenciado no single que, embora lento, nos permite adentrá-lo. Nela, Taylor abandona o óbvio predominante na música pop e mostra-se madura, conduzindo o álbum para uma outra direção estilística e sonora.
Uma das mais divertidas e premiadas das canções é “You Need to Calm Down”. Um pop gostoso de se ouvir, e também vintage, cujo objetivo vai além das pistas de dança. O teor político se faz muito presente, de forma sucinta, na letra. Em contrapartida, o clipe vem para promover uma Taylor madura e militante. Através do videoclipe, que conta com a participação de drags queen e outros famosos como Katy Perry e Ellen DeGeneres, cria uma ambiente de defesa dos direitos da comunidade LGBTI+. Além da mensagem sobre a guerra constante da mídia em querer comparar, toda hora, mulheres ao patamar de “nova Rainha do Pop”.
Mas, se aqui é possível ser mais pessoal, minha favorita é “False God”. Essa balada intimista e, ao mesmo tempo, política, nos permite fazer uma analogia com o mundo real, mesmo que sem compromisso com ele. A ideia de pregar o ódio, a intolerância em nome de um “Deus” é, na visão da música, cruel e incoerente, uma vez que o Deus, nessa visão, é aquela entidade que prega o amor. Para aqueles que discursam contra, mantém-se a ideia do false god.
A estética sonora do álbum como um todo nos lembra muito de um pop entre 2011 – 2014 e nenhuma faixa deixa a desejar. Talvez, se o álbum fosse melhor polido, estaria num patamar de perfeição. Isso porque, ao longo das 18 músicas, é possível perceber uma repetição de sonoridade e temas. A repetição do mesmo padrão estético por quase 60 minutos de duração torna o álbum cansativo e prolixo. Mas, de uma forma geral, Taylor Swift apresentou um novo pop, resgatando suas raízes do country, adicionando camadas de complexidade em seu pop, falando de diversidade, amor, generosidade, fragilidade e política num álbum que, realmente, é um lover.