Sofia Freire
Ponta da Língua
Independente, 2024. Gênero: Pop, Indie-pop
Sete anos depois de seu último lançamento, Sofia Freire se renova com Ponta da Língua em uma exploração diferente de seus dois primeiros lançamentos. Como ela disse em entrevista à O Grito!, o disco chegou depois de um processo angustiante e criativamente pausado, criado pelo contexto do isolamento social e caos político da pandemia do coronavírus.
Esses pensamentos, as questões e angústias são transmitidos em seu novo álbum de um jeito inteligente e poético. A composição introspectiva de Freire é certeira em ilustrar todas as inquietações da mente – um território complicado de se elaborar e colocar em versos. As canções passam pelos desejos, contradições e, em algumas faixas, a necessidade de romper, de viver um momento catártico, explosivo.
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Todos esses pensamentos são transformados em poesia nas letras da artista, que compôs todas as canções do álbum, de um jeito real e ainda sim muito sensível. “Arrebento” e “Dentro de mim” são dois destaques nesse quesito.
A produção do disco brilha por si. Os synths, percussões e outros sons eletrônicos trabalhados por Sofia Freire são de um tom experimental e sofisticado, e de maneira muito certeira complementam os sentidos abstratos e íntimos das letras. As experimentações vão além dos componentes da canção, e a artista também brinca com mudanças no ritmo da música, acelerando ou diminuindo; distorcendo e repetindo vocais.
Aliás, o tratamento que Sofia dá a sua voz como instrumento é outro destaque do álbum, que traz um uso intuitivo tanto dos seus backing vocals quanto da sobreposição de seu vocal para produzir harmonias. Esse uso da voz como um instrumento adiciona mais detalhe à produção. Um momento que exemplifica a técnica é a parte final da faixa “Mormaço”, em que a cantora junta diversos vocais seus para uma espécie de clímax na música, com um resultado que impressiona.
A produção do Ponta da Língua é o melhor resultado possível de todo o estudo que Sofia teve durante a pandemia. A artista leva adiante os experimentos com a sonoridade avant garde e o resultado soa como algo produzido por uma artista muito segura de seus conhecimentos e de seu território sonoro.
Ouça Ponta da Língua, de Sofia Freire:
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