MELANCOLIA E ESQUISITICES
Com disco de nome impronunciável, Sigur Rós flerta com indie rock e lança sua primeira música com letra em inglês transgredindo os próprios cânones
Por Paulo Floro
SIGUR RÓS
Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust
[XL/EMI, 2008]
O Sigur Rós se tornou uma banda tão ímpar que só é possível resenhar seus lançamentos a partir de suas obras. Trabalhando apenas com seus conceitos por mais de uma década, a banda sempre andou à margem do pop mundial, criando um estilo exclusivo. O novo disco, o altamente impronunciável Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust, lançado esta semana reforça as mais conhecidas característica da banda.
Este hermetismo em parte, fez a fama do Sigur Rós, mas este novo disco aponta diálogos com outras vertentes, entre elas o indie-rock. O produtor Flood ( do Nine Inch Nails) pode ter sido o responsável por esta “abertura”, mas é fato que a banda, mesmo buscando outras referências para o seu som, não abandonou o minimalismo e melancolia características. Enquanto em Takk… (2005) existia uma predileção por evidenciar a estranheza da banda, Með Suð… quer mostrar o lado pop, se aproximando talvez da obra mais conhecida, Ágætis Byrjun (1999).
Existe até uma música em inglês, a primeira de toda a carreira da banda. “All Alright” é delicada, quase toda dedilhada ao piano, e com um inglês quase incompreensível. Ainda assim, não deixa de significar uma mudança significativa na atitude incorruptível da banda. Mais transgressora é “Gobbledigook”, que lembra riffs do brit-pop, e causa espanto ao colocar o ouvinte para dançar – o efeito comum da audição da banda é se encolher num canto e sofrer.
O flerte com o indie-rock continua em “Inní mér syngur vitleysingur”, com aquele efeito animado, porém melancólico que norteia o trabalho de bandas como Death Cab For Cutie e Beulah. “Við spilum endalaust”, apesar da letra desoladora (as traduções do islandês para o inglês já estão na net) também tem o vigor caro ao rock inglês e estranho ao Sigur Rós. A morosidade depressiva da banda só volta a dar as caras em “Festival”, disponibilizada no programa de rádio de Colin Murray, na BBC, no início de junho. Quem a ouviu nunca poderia imaginar as mudanças promovidas pela banda no álbum.
Este quinto álbum dos islandeses mostrou que a banda pôde dar um salto criativo sem abandonar seus rígidos conceitos sonoros. Como se o iceberg Sigur Rós, que segue à deriva no oceano pop ameaçasse derreter, sem com isso naufragar. Ainda frios, os integrantes fizeram do disco a mais divertida – e corajosa – aventura do grupo.
NOTA: 9,0
Gobbledigook – Full Version