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Serpentwithfeet celebra sensualidade e autoaceitação gay em “GRIP”

Terceiro disco de Josiah Wise continua explorando o microcosmo gay e preto, agora com uma mistura mais dançante de R&B e pop

Serpentwithfeet celebra sensualidade e autoaceitação gay em “GRIP”
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Serpentwithfeet
GRIP
Secretly Canadian, 2024. Gênero: R&B, pop


O músico estadunidense (radicado em Los Angeles) Josiah Wise segue explorando o amor gay no seu projeto artístico Serpentwithfeet neste novo disco GRIP. Aos relacionamentos e questões do universo queer, Wise adiciona nuances ligadas às vivências enquanto homem preto na América atual. É essa vulnerabilidade na sua poética que sempre foi seu diferencial desde que surgiu com Soil (2018), disco mais experimental e que se seguiu com o ótimo DEACON, de 2021, em que refinou ainda mais sua mistura de R&B e pop, explorando o alcance do seu vocal inspirado no gospel americano.

GRIP adiciona mais uma camada sonora no balaio de influências do Serpentwithfeet ao colocar os pés na pista de dança. É um trabalho em que seu estilo “crooner”, de cantor virtuoso, encontra um pop mais solto, e em alguns pontos, mais acessível. Há espaço para uma aproximação com o rap mais comercial, como a deliciosa “Damn Gloves”, em que traz Ty Dolla $ign como participação especial. “Safe Word”, toda safadinha, mistura batidas eletrônicas minimalistas com uma base R&B super sexy e fala sobre brincadeiras sexuais e todas as possibilidades possíveis quando dois corpos se entregam com cumplicidade.

“Spades”, que oscila entre uma balada romântica e uma faixa dançante ideal para pistas, fala do poder libertador de assumir uma paixão guardada há tempos. O disco todo abraça o otimismo, como uma continuação natural do trabalho anterior, em que Wise lidava com questões complexas atravessadas por temas como raça e gênero. Aqui há um olhar mais celebratório, de autoaceitação, com mais sensualidade. A presença marcante de sintetizadores, melodias mais solares e batidas mais imediatas, pop, confirma essa proposta.

O disco, no entanto, acaba dando voltas ao redor de si mesmo em determinado momento, com algumas faixas que trazem letras mais genéricas e batidas pouco inspiradas ali pela metade do disco. É quando o trabalho perde em texturas e profundidade (“Black Air Force”, com as rimas genéricas de Mick Jenkins surgindo do nada é um bom exemplo).

O trabalho reconquista o nível dos discos anteriores na poderosa “Ellipsis” e finaliza como um dos trabalhos queer mais interessantes lançados recentemente.

Ouça Serpentwithfeet – GRIP

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Editor