A cantora, compositora e produtora Sarah Abdala busca suas raízes latino-americanas em um disco que une MPB com referências sonoras de diversos países vizinhos. Pueblo é um registro minimalista de voz, guitarras, viola e violão, carregados com camadas de sintetizadores.
A busca de Abdala é tanto estética quanto política. Ela traça um paralelo com autores que trabalharam as feridas abertas do continente, como Eduardo Galeado, na delicada “Oração Para as Américas”, além de fazer um exercício de tentar se enxergar. Quem são os latinos? Qual a ligação que temos em comum? De onde vem a noção de isolamento que sentimos em relação à América Latina? “Você não vai me reconhecer no nosso povo”, canta ela em “Ave Sem Ninho”. Longe de demarcar alguma noção histórica ou teórica, a cantora quer apenas deixar transparecer essas inquietações, o que de fato soa bastante autêntico. Esteticamente, o álbum busca fazer pontes entre sonoridades, mas não se aprofunda em pesquisas de ritmos ou algo parecido, se situando como uma carta aberta mais pessoal e subjetiva.
Mas essa busca, este desejo de compreensão é também de ordem afetiva. Goiana de origem libanesa, Sarah Abdala mostra interesse em discutir essa desterritorialidade, como deixa claro na canção “Migrante”, lançada antes como single. Sua carreira ainda curta na música mostra que ela sempre buscou projetos conceituais interessantes. Futuro Imaginário (2014), trazia um lado mais existencialista e no disco Oeste (2017), trabalhava suas raízes goianas. Com mixagem e masterização de Rogério Sobreira, o disco tem participações de nomes como Lucas Vasconcellos, Marcelo Callado, Tai Fonseca e Felipe Fernandes.
SARAH ABDALA Pueblo [Pomar, 2020]
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