O REALITY SHOW MAIS PINTOSO DA TV
No divertido RuPaul’s Drags Race o babado corre solto
Por Alexandre Figueirôa
Editor da Revista O Grito!
Quando achamos que os conteúdos dos reality shows já se esgotaram nos deparamos com uma novidade mais absurda (ou divertida) que nos deixa estupefatos. As emissoras do mundo inteiro estão repletas deste tipo de programa (o formato é uma marca globalizada). E será até possível alinhavarmos uma historiografia (cruzes!) do gênero em que aparecerão sistematizados – isto só no Brasil – grupos de celebridades em baixa correndo atrás de porcos e galinhas, bombados e bombadas falando besteira por meses a fio, gente obesa se matando para não quebrar a balança e por aí vai. But, hello, hello hello… RuPaul’s Drag Race, em exibição já em segunda temporada, na VH1 é hors-concours. O reality show reúne drag queens disputando uma maratona de desafios sugeridos pela antológica drag nort e-americana RuPaul onde transformações devem ser executadas e a menos inspirada é eliminada a cada semana.
O programa parece nos colocar dentro do camarim de um show de transformistas de boate gay. As concorrentes já se tornaram noivas, roqueiras e até tiveram como missão vestir e trazer de volta à ribalta drags aposentadas para serem apresentadas como mães delas próprias. Não precisa dizer que a pegada é bem pop, mas as doses de uma estética beirando o kitsch ou de mau gosto mesmo são o que domina a cena. Tudo bem. Elas são divertidas e cumprem com altivez as maluquices propostas. Jujubee, Pandora Boxx, Tyra Sanchez, Tatianna e as demais meninas se desdobram em pintas e rabiçacas, mas também dão um duro danado para cumprirem as tarefas e não serem desclassificadas no final do episódio. A cada semana RuPaul traz uma novidade para o programa e até antigas estrelas de Hollywood aparecem por lá. Recentemente quem esteve na comissão julgadora foi a veterana atriz Debbie Reynolds.
No meio do glamour, dos números de dublagens também tem espaço para lavagem de roupa suja. E as garotas – elas sempre se tratam no feminino, inclusive RuPaul – não pestanejam em alfinetar as concorrentes. Durante a preparação da prova elas vão destilando veneno e até na passarela no desfile final perante um jurado pode, de repente, pintar um clima. Mas não há espaço para atitudes excessivas, no máximo um “fuck you!”. Também nada de alusões explícitas a questões sexuais. Tudo é politicamente correto, RuPaul age como uma dama e trata suas meninas com carinho e atenção. Rola só uma falsidade básica, mas normal.
Apesar de reinar inversões de papéis e o simulacro ser o signo mais gritante, o reality leva vantagem perante os demais programas do gênero. A farsa é um elemento inerente à performance dos protagonistas e isto nos faz esquecer a existência ou não de um rabisco de roteiro orientando os passos das concorrentes. Ao não realizar esforço para parecer natural e espontâneo como o Big Brother, RuPaul’s Drag Race – que ganhou uma tradução infeliz no Brasil (RuPaul e a Corrida das Loucas) – acaba divertindo. E nele ser bicha não é motivo de insinuações, desmentidos, ou elemento pitoresco para animar gente que posa de bofe e tem dificuldade em dizer que é do babado. A temporada terminou e as candidatas continuam botando pra quebrar e sonhando em ouvir a frase mágica pronunciada lentamente por Ru e que po de coroá-las com o sucesso até o final da temporada: You are safe!