Nostalgia
Martio Martine
ITA, 2022. 1h58. Distribuição: Pandora Filmes
Com Pierfrancesco Favino e Rione Sanità
Nostalgia (2022), de Mario Martone, trabalha simultaneamente passado e presente numa trama calma, detalhada e dramática. A trama acompanha o empresário Felice Lasco – vivido pelo ator Pierfrancesco Favino – que volta à sua cidade natal, Nápoles, 40 anos depois de sair repentinamente de casa para trabalhar. Junto com a cidade, Felice deixou também sua mãe, Teresa, e o melhor amigo, Oreste. Ao retornar à sua cidade, e mais especificamente seu bairro, Rione Sanità – uma das vizinhanças mais pobres de Nápoles – Felice lida com aquilo que deixou para trás tão abruptamente, mas ao mesmo tempo fica encantado com a sensação de que aquele lugar continua o mesmo; no entanto, ele está enganado
Aos poucos percebemos que o crime organizado é uma presença forte na região, e que, na realidade, desfigurou o bairro, com demonstrações de violência nas ruas e a alienação dos jovens para que se juntem à Camorra, a famosa máfia napolitana. Enquanto anda pelo bairro, Felice cruza com o padre Luigi, o pároco do bairro que busca afastar os jovens da marginalização o máximo possível, o que faz com o protagonista se interesse pelo trabalho padre, principalmente porque se identifica com os jovens da área lembrando de sua própria juventude.
Paralelamente, o longa-metragem faz entender os motivos de Felice para querer permanecer na vizinhança, ao mesmo tempo que os diálogos com outros personagens – com diversos avisos e alertas, fazem o espectador entender, também, que o problema do crime organizado é de proporções muito maiores. Outro ponto que impede o protagonista de enxergar a dimensão do perigo é a sua antiga relação com Orestes, antes seu melhor amigo, que agora é chefe do sindicato do crime no bairro.
Embora a construção do filme necessite de um ritmo mais lento para construção dos suspense e da carga dramática do filme, o filme poderia ser mais ágil. A trama envolve, também, o grande segredo carregado pelo protagonista, mas não é possível sentir toda a carga emotiva que o segredo tem para ele, justamente pelo tempo que o filme leva para nos apresentar o segredo em si e os seus resultados. Destaque para as cenas entre Felice e Oreste, que são muito mornas principalmente considerando tudo que a dupla divide.
Como personagem emotivo e expressivo temos Padre Luigi – e aqui um destaque ao ator Francesco Di Leva, que dá vida ao padre Luigi, um dos personagens mais envolventes da trama. Os diálogos de Luigi e Felice são bonitos, alguns até profundos. A agitação do padre contracena muito bem com a quietude do protagonista.
Ainda que com um desenrolar lento, Nostalgia nos faz entender quais espaços ocupam em nós sentimentos como culpa, saudades e amor, e até onde esses mesmos sentimentos podem nebular nosso julgamento e percepção da realidade. A culpa pelo abandono e o saudosismo de Felice pelo passado de sua juventude o impedem de perceber a distância existente entre ele e o Sanità.
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