A Identidade Secreta dos Super-Heróis é uma leitura prazerosa sobre como os supers se tornaram um dos maiores fenômenos pop do Ocidente
O mito do super-herói é parte já intrínseca da cultura ocidental e os personagens extremamente populares da Marvel e DC são a faceta mais pop e lúdica de um ideário desse fenômeno. É quase impossível imaginar um mundo sem nomes como Superman, Mulher-Maravilha, Batman e Hulk. Até pessoas alheias às histórias protagonizadas por eles nas HQs, no cinema e na TV são influenciadas de alguma forma ou, no mínimo, sabem de sua existência. É raro ver algo parecido com qualquer outra obra de ficção.
É por essa importância sentida em nosso cotidiano que cada vez mais estudos sobre super-heróis estão ganhando relevância na academia e na literatura. O novo livro, A Identidade Secreta dos Super-Heróis, de Brian J. Robb (com tradução de André Gordirro) traz os bastidores que fizeram desses personagens fantasiados um sucesso tão grande. Ainda que não discorra em profundidade sobre o mito do herói e como os esquemas narrativos dos deuses e heróis gregos deram origem aos “super” heróis de hoje, Robb se esforça mais em contar a ascensão dos supers de um ponto de vista industrial. O que também faz todo o sentido: foi a popularização da impressão em larga escala que garantiu o sucessos dos “pulp stories”, que dariam origem mais tarde às revistinhas de Superman e cia.
Leia Mais
Mulher-Maravilha é o filme que toda heroína precisava
Marvel entre a nostalgia e a renovação
A chegada do Superman, no final da década de 1930, foi determinante para a indústria dos comics de super-heróis dos EUA, o que influenciaria o mundo todo tempos depois. O sentimento de que o mundo precisava ser salvo (em uma época instável de entreguerras) aliados aos mitos do heróis gregos, além de uma pitada de messianismo, deu origem ao primeiro e mais importante herói já criado. Os criadores Jerry Siegel e Joe Shuster criaram um arquétipo que influenciaria todo o mercado, o que nos faz refletir que todo super-herói que veio depois deriva, de alguma forma, do Superman.
Aliado ao patriotismo e a defesa dos ideias do capitalismo norte-americano, a chamada Era de Ouro dos Quadrinhos (entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1950) foi o período de maior popularidade dessas HQs até hoje. Robb conta em detalhes o florescimento dessa indústria, que gerou ainda personagens populares como Capitão América, Mulher-Maravilha, Capitão Marvel, entre outros. Todos representando facetas caras ao ideal de sociedade proposto pela América. Há capítulos que destrincham em detalhes as criações dos personagens mais famosos como Batman, além de editoras como Marvel, DC e a popularização em outras mídias, como o cinema.
O livro é bastante didático e tem uma leitura muito prazerosa, o que o distingue de outras obras mais densas que já trataram do assunto. Aqui, o espírito é o mesmo de ler uma boa HQ clássica de super-herói, mais escapista. Entretanto, apesar da linguagem acessível, Robb não se furta em problematizar, como o capítulo que trata da relação dos super-heróis com a Segunda Guerra Mundial. Há também um interessante capítulo sobre a desconstrução dos super-heróis, quando autores passaram a tratar de temas mais densos a partir de personagens populares e da narrativa dos heróis, a exemplo de Watchmen e O Cavaleiro das Trevas.
O capítulo final retoma a ideia do mito do super-herói e como ele está enraizado em nossa cultura, o que deixa claro que a batalha desses personagens (bem como seu sucesso) estão longe do fim.
A IDENTIDADE SECRETA DOS SUPER-HERÓIS
Brian J. Robb
[Valentina, 304 páginas, R$ 44,90]
Tradução de André Gordirro