O pesquisador e quadrinista Lucio Luiz publicou neste ano o Relatório Quadrinhopédia, uma base de dados inédita que analisa quantitativamente o mercado editorial brasileiro. O documento analisa percentuais de 2021 e 2022 em relação ao número de publicações, divisão do mercado entre editoras, circulação de títulos por preço de capa e mais.
O trabalho minucioso de Lucio trabalha com uma série de regras metodológicas que explicam claramente quais os critérios utilizados por ele para trabalhar os números extraídos na sua pesquisa, agora disponíveis através do site da Quadrinhopédia.
Em entrevista a O Grito!, Lucio afirmou que pretende dar continuidade ao projeto, com edições a cada ano, a fim de construir um panorama do mercado editorial nacional e entender suas movimentações a longo prazo.
“Claro que apenas dois anos não dão uma visão ampla do mercado. Mas como a intenção, se tudo correr bem, é dar continuidade a esse levantamento a cada ano (e, na medida do possível, levantar alguns dados “retroativos”), acredito que dentro de alguns anos teremos uma noção mais concreta da importância desse estudo. E também espero que isso estimule outras pessoas a também fazer estudos semelhantes”.
Constatações
O relatório não considerou os títulos lançados de forma independente ou online, já que não ofereciam uma base sólida, por isso a pesquisa foi realizada com os números das editoras de grande, médio e pequeno porte.
O relatório constatou que a Panini (com suas subdivisões) concentra 50% dos lançamentos nacionais, enquanto outras editoras de médio e pequeno porte dividem a outra metade do mercado com lançamentos independentes. Vale lembra que, tecnicamente, a Panini é uma filial da editoria italiana.
Além dos números em relação editoras, a pesquisa também analisou as publicações por seus países de origem. Neste setor, percebe-se que o mercado brasileiro é alimentando, principalmente, pelos Estados Unidos, Japão – que tem ganhado força com a popularização dos mangá – e a Itália, que tem uma fatia significativa dentro do circuito brasileiro.
Lucio comenta que os números do relatório também pretendem ajudar em pesquisas e produções acadêmicas futuras, servindo como base quantitativa, para que sejam dispensados alguns “achismos” comuns da área.
“Se você pega artigos sobre quadrinhos, geralmente as pessoas acabam se pautando em percepções particulares (que sempre são prejudicadas por causa, por exemplo, das ‘bolhas’) ou até mesmo ‘achismos’. O problema é que, como muitos desses ‘achismos’ são os mesmos para as pessoas que estão envolvidas com o meio, os pesquisadores acabam ficando ‘confortáveis’ em utilizá-los.”, destaca.
Aquecimento do debate
O pesquisador também se surpreendeu com a resposta do público em relação aos resultados da pesquisa e o interesse dos consumidores em entender as dinâmicas do mercado. “Estou bem feliz com isso, na verdade. Está alcançando um público maior do que eu imaginei. Pensei que leitores, por exemplo, só veriam as “curiosidades” dos gráficos, mas o pessoal está analisando de forma bem detalhada.”
“Vejo que ele [o Relatório Quadrinhopédia] está alcançando muita gente que não é da área de pesquisa e levantando algumas discussões bem interessantes, como a questão do preço de capa, ou o crescimento dos mangás ao mesmo tempo em que há uma perda de espaço dos super-heróis norte-americanos, e por aí vai.”
Em relação ao que espera alcançar com os resultados da pesquisa, Lucio diz que espera dos editores a percepção das “oportunidades” que surgem no mercado, com a intenção de promover preços mais acessíveis, e diversificar as marcas e títulos em circulação, com mais materiais “de outros países que não apenas Estados Unidos, Japão e Itália.”, afirma.