Segundo filme pernambucano mais visto em 2019, Recife Assombrado está prestes a ganhar uma sequência. Mais uma vez sob a direção de Adriano Portela, o novo terror promete ampliar o universo das lendas urbanas introduzido no primeiro longa, que agora deve se desdobrar como uma trilogia. Todos os detalhes foram compartilhados na manhã dessa terça-feira (5) em coletiva de imprensa que antecedeu o início das gravações.
Carregando o título de Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias, o filme vai mergulhar nas histórias da famosa assombração da portuguesa de origem judaica tida como a primeira senhora de engenho do Brasil colonial. Reza a lenda que seu fantasma faz aparições no Riacho do Prata, no bairro de Dois Irmãos, onde ela teria lançado suas joias quando soube da chegada da Inquisição ao Brasil. Até hoje, seu espírito assombra o local e vigia o tesouro.
“Eu não posso entregar muito, mas vamos ter uma liberdade poética que vai brincar com essa personagem e ao mesmo tempo vai jogar uma luz para as pesquisas sobre a parte histórica dela”, contou Adriano Portela. “Ela vem de uma forma diferente do que estamos acostumados a ver nos documentários e livros. Vamos trazer a personificação da Branca Dias de uma forma fantasmagórica, que vai levar as pessoas a querer saber mais sobre a personagem.”
“O Recife Assombrado é multiplataforma. Então, o filme não vai apresentar historicamente quem é a Branca Dias, mas vamos também ter um livro, que vai ser lançado junto”, revelou o produtor Ulisses Brandão, que já confirmou um terceiro filme (“será uma trilogia”) e adiantou que uma série derivada (spin-off) deverá ser rodada ainda este ano.
Com a introdução de novos personagens, o elenco do segundo longa vem inteiramente renovado, com exceção de Daniel Rocha, Márcio Fecher e Washington Machado. Estreiam na franquia a gaúcha Vitória Strada e os pernambucanos Aramis Trindade e Mônica Feijó. Também estão entre as adições Pally Siqueira, Gil Paz e Rebeca Barreto. “Adoro fazer coisa diferente como atriz e nunca fiz um filme desse gênero que lida com assombração”, confessou Strada.
Na trama, o protagonista Hermano (Daniel Rocha) está de volta como um empresário bem-sucedido no ramo de transporte após herdar a empresa do pai e contrata um grupo especializado em investigar fenômenos paranormais no Recife com o objetivo de encontrar o tesouro afundado de Branca Dias. Mas outras assombrações também vão fazer aparições. A mais emblemática delas é a Perna Cabeluda, adiantou o produtor Ulisses Brandão, que poderá ser materializada graças ao uso de novas tecnologias de efeitos especiais.
“Será o filme pernambucano que mais vai usar efeitos especiais. Teremos um personagem sem cabeça, uma perna cabeluda em 3D e uma série de recursos tecnológicos. É um filme em que quisemos avançar muito na parte narrativa, mas também na tecnológica”, garantiu. No total, serão mais de 80 cenas gravadas no Estúdio Nahsom, um dos poucos no Brasil a empregar a tecnologia LED para a criação de efeitos visuais.
Com início nesta quarta-feira (6), as filmagens vão durar 19 dias e a previsão é que se encerrem em 24 de março. Locais marcantes da história e da paisagem da capital pernambucana como o Teatro de Santa Isabel, o Arquivo Público e o Forte das Cinco Pontas serão utilizados como locações. Segundo o produtor, o foco será trazer uma “geografia assombrada do Recife”. Além disso, parte das imagens serão gravadas na cidade de Vicência, na Zona da Mata. “Foi lá que encontramos o melhor cenário para filmar a casa de Branca Dias, já que, infelizmente, a original está bem destruída.”
No entanto, o filme esbarrou em dificuldades para sair do papel, em razão, sobretudo, à conjuntura política do país durante a pandemia. “Todos os projetos cinematográficos no Brasil estavam suspensos. Não eram aprovados”, relatou Daniel Rocha, que agora assume também o cargo de produtor associado. “Não tem uma pessoa que paga o filme, então precisamos de leis governamentais e dinheiro público para fazer o cinema acontecer, mas durante quatro anos ficamos sem essa verba. Não foi só o nosso filme que parou, foram vários outros. Então, acho que esse foi o maior desafio, mas conseguimos sobreviver.”
“Poder continuar esta história é uma satisfação enorme, porque é a gente levar o legado que Gilberto Freyre nos entregou em forma de livro, Assombrações do Recife Velho, que é como um manual para todos nós que gostamos desse universo. É levar também um legado que Beto [Roberto Beltrão, jornalista e criador do projeto O Recife Assombrado] começou no site, que tem mais de 20 anos, tratando sobre assombrações, os causos, as lendas”, celebrou Adriano Portela.
“Então, agora damos continuidade a esse documento histórico em formato de cinema, por esse meio divertido que é a ficção, tendo a liberdade poética de brincar com esses personagens e enraizar esse universo da lenda, do folclore, do mito na cabeça do pernambucano, quiçá do resto do Brasil”, concluiu. Com produção da Viu Cine, Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias tem previsão de estreia para o segundo semestre de 2025.
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