Por: Rafaella Soares
Fotos: Dellany Meira
O verdadeiro culto formado na órbita da figura de Mano Brown e a reputação dos Racionais MC’s explica a lotação do Teatro da UFPE na madrugada deste domingo (16). Os rappers vieram ao Recife depois de um jejum de anos, para fechar a 8ª edição do Festival No Ar: Coquetel Molotov.
Os manos do Capão Redondo já chegaram muito bem ambientados no Teatro da UFPE, lotadaço para uma apresentação que tem muito mais de expectativa controversa, do que de ameaça real à integrante física de qualquer pessoa que assista ao show, use ele Havaianas ou camisa de holograma da Hollister.
O coletivo formado por Mano Brown, Ice Blue, Edy Rock e KL Jay parecia genuinamente disposto a dar o espetáculo de costume, desfilando suas letras que são verdadeiras crônicas atemporais, que falam direto à quem vive nas periferias dos grandes centros, ou apenas se identifica com a crueza lascinante das músicas. No caso, a àrea estava lotada com os manos da Zona Oeste (que compreende os bairros da Várzea, Cidade Universitária, Dois Irmãos, Iputinga, Cordeiro, Monsenhor Fabrício, Engenho do Meio, entre outros) e o respeito dava o tom.
A atitude no discurso dos caras não dá espaço para mise-en-scène:uma atrás do outro, os clássicos do Racionais foram sendo executados: Vida Loka (parte 1 e 2), O Homem na estrada, Eu sou 157, Jesus Chorou, Nego Drama. Redundante falar que eram cantadas em uníssono.
Apesar da tensão crescente que é típica de eventos aguardados, sejam esportivos ou de gênero musical que arrasta uma massa e divide opiniões, o ponto alto da noite, com a última música, “Vida Loka”, e o palco sendo ocupado pelo público, foi mais uma catarse coletiva do que um acidente de percurso. E no fim, um espetáculo que agregou gente e subtraiu preconceito de quem soube tirar uma lição real das ideias que Mano e sua turma passam
Aforismos dos trutas sangue-bom:
“Zona sul é o invés, é stress concentrado,
Um coração ferido, por metro quadrado…”
“O que tiver que ser / Será meu / Tá escrito nas estrelas / Vai reclamar com Deus.”
“Que cê qué?/ Viver pouco como um rei / Ou muito, como um Zé?”
“Um pedaço do inferno, aqui é onde eu estou / Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou.”
“Miséria trás tristeza e vice-versa”