Política e mistério em Face Oculta
Ugo Pastore, um filho de um rico comerciante italiano vai até a Etiópia para ajudar o pai em uma negociação com a monarquia local. O jovem acaba se envolvendo com as questões sociais do país africano e é bastante afetado pela figura do Face Oculta, espécie de guru místico da região. Lançada pela editora Sergio Bonelli, em 2007, na Itália, a obra é fumetti (quadrinhos italianos) da melhor qualidade.
Gianfranco Manfredi, nome conhecido na área, usa a HQ para abordar questões políticas do passado colonialista da Itália. Apesar de ser uma ficção que utiliza todos os elementos clássicos de mistério e investigação, a série é muito apoiada por relatos históricos e pesquisa. Para quem é fã dos fumetti, Face Oculta é praticamente irrepreensível. Quem não é acostumado com essa área bastante rica dos quadrinhos, esta aí uma ótimo oportunidade. Com seus 14 volumes, a obra é perfeita para iniciados.
Além disso, a Panini apostou na venda em bancas, como forma de popularizar o formato, e deixou o preço convidativo. O ruim é a periodicidade, bastante confusa e cheia de atrasos (supostamente, a série é mensal, mas nenhum volume apareceu este ano).
FACE OCULTA 1 e 2
Gianfranco Manfredi (texto) e Goran Parlov (arte)
[Panini Comics, 96 páginas / 2012 e 2013]
Tradução: Tatiana Yoshizumi
Preço: R$ 12,90
Nota: 8,3
O espírito do tempo em 20th Century Boys
Entre os fãs de mangá, 20th Century Boys, de Naoki Urasawa era um dos títulos mais aguardados. A obra mostra um grupo de amigos que inventaram um plano de dominação mundial como uma brincadeira quando crianças. Já adulto, Kenji, um dos garotos, descobre que tudo o que eles criaram está sendo executado por um misterioso líder messiânico conhecido como “Amigo”. A trama se passa no final do século 20 e discute temas como apocalipse, armas biológicas, religião, totalitarismo, além de fazer referências com fatos históricos.
Urasawa colocou nas páginas sua paixão pela cultura pop. O nome da série foi retirada de uma música do T-Rex, grupo seminal do punk rock dos anos 1970. Há ainda trechos de “Jumpin’ Jack Flash”, dos Rolling Stones, entre outros elementos que ligam Ocidente e Oriente em um diálogo afiado. Esses ícones também servem de contraponto para evidenciar a monotonia dos personagens já trintões, hoje bem distantes que imaginavam para si mesmos quando crianças. É uma HQ que tem um painel de personagens muito rico e por isso o autor gasta tempo desenvolvendo cada um. Todos eles fazem parte de um quebra-cabeça que – esperamos – fará sentido ao final.
A narrativa deixa pistas para o capítulo seguinte tornando a leitura viciante. Não à toa, a obra se transformou num dos maiores sucessos em todo o mundo. Em 2007, o Ministério da Cultura do Japão colocou a série como um dos 50 mangás mais importantes de todos os tempos, ao lado de Akira, Dragon Ball, entre outros. A Panini lança por aqui bimestralmente, e planeja publicar todos os 22 volumes. Como um plus, cada edição traz curiosidades e notas explicando as referências usadas pelo autor.
2OTH CENTURY BOYS 1, 2 e 3
Naoki Urasawa (texto e arte)
[Planet Mangá/Panini, 208 páginas, Bimestral / 2012 e 2013]
Tradução: Dirce Miyamura
Preço: R$ 10,90
Nota: 8,4
Wolverine professor em fase pouco inspirada dos X-Men
Chegou ao Brasil a série Wolverine e os X-Men, que tem para os brasileiros uma expectativa a mais: é nela que irá aparecer a nova mutante brasileira, Iara, a garota que se transforma em um tubarão (!) e é moradora do Recife. Ou seja: Quem é fã da Marvel E pernambucano, tem uma desculpa no mínimo plausível para acompanhar a revista (por mais ridículo que seja o conceito de uma menina-tubarão). O mote deste título: Logan agora é diretor da Escola Jean Grey de Mutantes como resultado da saga Regênesis. Ao lado de Fera, Tempestade e Kitty Pryde, ele vai usar seu carisma torto para dirigir uma leva de jovens com poderes.
A história já foi vista outras vezes em histórias dos X-Men, por isso, leitores antigos terão dificuldade em processar tanto dejavú. O texto de Jason Aaron tenta trazer dinamismo, focando no lado humano dos personagens e trazendo a improvável Krakoa (na verdade, o “neto” da ilha viva que foi vilã dos X-Men) como estudante, mas tanta reciclagem torna a série mais uma prova da crise de criatividade que viveu a Marvel entre 2011/2012. A arte de Chris Bachalo está mais “rabiscada”, um lado do artista mais experimental que vimos na ótima Geração Nova, em A Era do Apocalipse. Se quiser esperar por Iara, vale a pena acompanhar a HQ. Caso não, caia fora sem medo.
WOLVERINE E OS X-MEN
Jason Aaron (texto) e Chris Bachalo (arte)
[Panini Comics, 100 páginas, publicado na revista mensal Wolverine / 2013]
Tradução: Bernardo Santana
Preço: R$ 7,20
Nota: 4,8