ARTE, MAGIA OU TERAPIA?
Alejandro Jodorowsky chega às prateleiras com Psicomagia, um livro que consubstância todo torno criativo em volta de psicoterapia moderna, zen budismo, culturas antigas, reencarnação e gnosticismo
Por Fernando de Albuquerque
Psicomagia
Alejandro Jodorowsky
[Editora Devir, Págs.296]
Qualquer pessoa que leia o nome de Alejandro Jodorowsky pensa que ele é, no mínimo, tem ascendência em algum país frio e escuro do leste europeu. Mas ele é chileno. Pouco conhecido no mundo literário, Jodorowsky é festejado entre os iniciados no mundo dos quadrinhos pelo célebre “A Casta dos Metabarões” e pelo épico de ficção científica “O Incal”, com a arte do cultuado Moebius. Os que leram essa HQ
certamente viram que o parceiro de Moebius era mais que um coadjuvante. E quem foi atrás de pistas sobre este roteirista de imaginação fértil como a de poucos se surpreendeu com o que achou. Surpresa contudo é sua última publicação Psicomagia, em uma edição pouco lapidada da Devir.
Judeu, descendente de imigrantes russos, Alejandro Jodorowsky nasceu no Chile, em 1929. Sua vida adulta – e, portanto, sua produção artística – se passou entre o México e Paris (onde ainda vive, com sua esposa). Marcado por paixões pelo cinema e pela literatura, o trabalho criativo de Jodorowsky começou no teatro, com a animação de bonecos e a mímica. Ao lado do dramaturgo espanhol Fernando Arrabal e do artista visual Roland Topor, criou o movimento Pânico.
Das performances do trio, influenciadas pelos surrealistas Artaud e Buñuel, marcadas pelo choque, a violência e o simbolismo, Jodorowsky
tirou as linhas mestras por trás de sua obra no cinema e nos quadrinhos. Surrealismo, erotismo, filmes de faroeste, mitologia, tarô, textos sagrados e ficção científica têm suas fronteiras borradas em tudo que Jodorowsky produziu. E tudo gira em torno de um resultado para lá de paradoxal e sempr dotado de uma beleza capaz de embrulhar o estômago. Toda sua produção é quase sempre voltada à histórias épicas
com preferência pela ficção científica, escrita como se fosse um texto sagrado, mítico, com a presença não-moralizante de sexo, drogas e violência.
Contudo, Psicomagia é um livro muito controverso. O texto, que fala sobre uma possível autocura mistura arte, psicoterapia moderna, filosofia oriental (em particular o zen budismo), misticismo, culturas antigas, reencarnação, gnosticismo e Nova Era com uma influência especial de autores como Gurdjieff e Carlos Castaneda. Enfim, um saco de gatos que tem como premissa um possível visão holística nem um
pouco convencional.
Constantemente ele recai em contradições de suas próprias teorias. Na terapia psicoanalítica que ele apregoa, Jodorowsky tenta traduzir a
linguagem dos sonhos que pertencem ao inconsciente; mas, segundo ele mesmo o inconsciente não é traduzível, ele é totalmente caótico, por esse motivo, o inconsciente não seria capaz de adotar uma expressão racional. Na psicomagia se propõe que se utilize o caminho inverso na comunicação consciente-inconsciente, que seja a parte racional das pessoas a aprender a linguagem do inconsciente.
E depois de tanta preleção sobre algo que ele tenta traduzir, mas que afirma a inexistência de tradução Jodorowsky afirma que sua psicomagia não pretende ser uma ciência e sim uma forma de arte que possui virtudes terapêuticas. Medo!
NOTA: 5,0