O universo visual, sonoro e tátil do Maracatu de Baque Solto, também conhecido como Maracatu Rural, é fonte infinita de inspiração artística. As cores, texturas, estampas e a música produzidas na brincadeira secular são um verdadeiro encantamento para quem ama a cultura popular, como é o caso da designer Mariá Vilar.
Foi justamente dessa paixão pelo maracatu que nasceu o projeto Na Marcha do Terno, através do qual ela desenvolveu desenhos exclusivos a partir de um trabalho coletivo com integrantes do Maracatu Cruzeiro do Forte, grupo de Maracatu de Baque Solto mais antigo do Recife, em atividade há 95 anos, para estampar a camiseta oficial do grupo no Carnaval deste ano. O trabalho final será apresentado ao público no dia 23 de fevereiro, em uma grande celebração festiva e musical na sede do Cruzeiro do Forte, no bairro do Cordeiro, a partir das 18h.
Executado com recursos do Funcultura, o projeto de Mariá nasceu a partir do seu TCC em Design, em 2020, mas a linha do tempo de sua relação com a imagética do maracatu rural é bem mais antiga. Filha de brincantes, ela cresceu indo às sambadas e vendo seus pais tocando e dançando no Maracatu Piaba de Ouro, de Olinda, fundado pelo saudoso Mestre Salustiano nos anos 1970. Uma relação da vida toda, estimulada no ambiente familiar e continuada por vontade própria. Um encantamento que nunca se apagou e que virou referência de pesquisa acadêmica pois assim parecia óbvio e natural.
“A cultura da gente sempre foi pra mim um norte nos meus trabalhos, nas minhas inspirações, desde a faculdade de Design. Eu tenho uma marca de moda autoral e esse universo também é o mote das minhas roupas. Faço estampas com significados, que contam histórias. Quando chegou o momento de fazer o TCC eu percebi que queria unir as duas coisas que eu mais gostava, que é essa minha relação com o maracatu e o design. E poder contribuir com melhorias através do que chamamos de estamparia participativa”, explica Mariá.

Assim nasceu Na Marcha do Terno, que logo cresceu e se transformou em um projeto cultural em que a designer pode colocar em prática toda a teoria desenvolvida na universidade. O nome faz alusão à marcha, um improviso cantando pelo mestre de maracatu na abertura das sambadas, e ao terno, termo usado para designar o conjunto de músicos do Maracatu Rural. Em outubro passado ocorreu a oficina “Estampando o Brinquedo”, na sede do Maracatu Cruzeiro do Forte, um grupo com o qual Mariá já tinha aproximação e admiração. A atividade foi facilitada por ela e pela também designer Joana Velozo e consistiu em experimentações gráficas realizadas por integrantes do maracatu e moradores do entorno que resultaram na estampa final.
O Maracatu Cruzeiro do Forte tem uma vasta e importante história na cultura pernambucana. Fundada em 7 de setembro de 1929, na comunidade dos Torrões, no Cordeiro, Zona Oeste do Recife, a agremiação inicialmente se chamava Clube Carnavalesco Misto Cruzeiro do Forte, assumindo o nome atual em 1980, mesmo ano em que Dona Netinha assumiu a presidência, tornando-se a primeira mulher a presidir um maracatu na capital pernambucana.
Coletividade e artesania
Todo o processo só foi possível graças ao forte senso de coletividade e de parceria inerente às brincadeiras populares. “O maracatu é uma manifestação cultural que depende de várias mãos para acontecer. Porque é uma brincadeira popular, uma manifestação popular que depende da tradição para se manter viva. Os saberes são transmitidos de geração em geração nas famílias e é assim que eles têm continuidade. Então a coletividade é muito importante para a sua manutenção, seja na música, na dança, no cortejo e na confecção dos figurinos”, ressalta a designer.
Na oficina foram realizados exercícios usando recortes de papel, giz, hidrocor, nanquim e colagens. Todo o resultado foi então fotografado e foram feitos murais de referência com o trabalho. “A partir daí pude realizar as estampas num trabalho pós-oficina, em arquivo digital para ser impresso nas camisetas. Cheguei em três estampas finais, eles escolheram uma que não só vai para as os músicos e a diretoria como também será comercializada no dia do evento”, complementa Mariá.

As estampas finais deram origem a uma camisa de botão para os músicos, que será utilizada por eles no dia do evento; uma camisa polo pra diretoria do maracatu e uma camiseta para venda ao público, a exemplo dos modelos dos blocos de rua.
A culminância do projeto acontece no próximo dia 23 de fevereiro, em um evento na sede do Cruzeiro do Forte, no bairro do Cordeiro, no Recife. O público vai poder conferir uma exposição com as estampas da oficina, uma exibição das fotografias e dos registros em vídeo. Além da mostra haverá o tradicional ensaio do grupo, transformando o lançamento das camisas em uma grande festa da cultura popular pernambucana.
O Na Marcha do Terno tem incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco e Governo de Pernambuco.
O projeto tem elaboração, design de estampas, design gráfico e organização de Mariá Vilar, que também fez a facilitação da oficina, ao lado de Joana Velozo. A coordenação de produção e expografia foi feita por Arthur Braga e a produção cultural e executiva por Cecília Pessôa. A produção audiovisual é de Júnior Teles, enquanto a montagem da exposição é assinada por Sara Régia e a interpretação de Libras e acessibilidade é da Jaks Interpretações.
Culminância do projeto Na Marcha do Terno, com lançamento da camisa e apresentação artística
Local: Sede do Maracatu Cruzeiro do Forte (Rua Taió, 43, Cordeiro)
Data: 23 de fevereiro de 2025
Horário: 18h
Entrada gratuita