A eleição da escritora Ana Maria Gonçalves para a Academia Brasileira de Letras (ABL), realizada na última quinta-feira (10), foi acompanhada por ampla repercussão pública. Aos 55 anos, a autora de Um Defeito de Cor ocupará a cadeira número 33 da instituição. Esta é a primeira vez que uma mulher negra é eleita para o grupo fundado há 127 anos.
A escolha foi feita por 30 dos 31 votantes. A professora e escritora indígena Eliane Potiguara, também candidata, recebeu o voto dissidente. Outros nomes estavam na disputa, como Ruy da Penha Lobo, Célia Prado, João Calazans Filho, entre outros.
Diversas autoridades e figuras públicas comentaram a eleição. A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, afirmou: “Ana Maria Gonçalves foi eleita imortal pela Academia Brasileira de Letras (ABL). A primeira mulher negra a ter esse reconhecimento. Que a chegada de Ana Maria inaugure um tempo de valorização de escritoras negras nesse espaço!”
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também se pronunciou: “Histórico! Ana Maria Gonçalves, autora de Um Defeito de Cor, é a primeira mulher negra eleita para a Academia Brasileira de Letras. Uma conquista para a literatura, para a memória do nosso povo e para esse Brasil que já está mudando: mais justo, mais plural e com a nossa cara!”
O presidente da ABL, Merval Pereira, destacou a relevância da obra da autora e o compromisso da instituição com a representatividade: “O livro Um Defeito de Cor foi considerado o mais importante da literatura brasileira dos últimos 25 anos. Só por isso, merece entrar para a ABL. Além disso, é uma mulher negra e a ABL está empenhada em aumentar sua representatividade entre seus pares. Ana Maria terá a função de demonstrar que a ABL está sempre querendo aumentar sua representatividade de sexo, cor, e qualquer tipo que represente a cultura brasileira. Queremos ser reconhecidos como uma instituição cultural que represente o Brasil, a diversidade brasileira. Ela aumenta nossa vontade de estar sempre presente nos movimentos sociais relevantes.”
Membro da ABL e professora da USP, Lilia Schwarcz também comentou a eleição em publicação nas redes sociais: “Fez um livro que desfilou na Sapucaí e foi considerado pela Folha de S. Paulo o livro mais importante do século XXI. É muito fundamental este lugar que ela vem ocupar e todo o mérito que é dela, e toda a luta que é dela. Vem representando as mulheres negras e um feminismo muito importante.”
Em outra publicação, Schwarcz acrescentou: “Uma mulher negra que inaugura uma linhagem na Academia que se pretende diversa, plural e atenta ao passado, ao presente e ao futuro. Foi um passeio. Trinta votos.” A postagem recebeu comentários de celebração da cantora Zélia Duncan e da escritora Aline Bei, que reagiram com “viva”.
Ana Maria Gonçalves é a 13ª mulher a ocupar uma das 40 cadeiras da Academia. A primeira mulher eleita foi Rachel de Queiroz, em 1977. Atualmente, há outras cinco mulheres entre os membros da ABL: Ana Maria Machado (cadeira 1), Lilia Schwarcz (cadeira 9), Rosiska Darcy de Oliveira (cadeira 10), Fernanda Montenegro (cadeira 17) e Míriam Leitão (cadeira 7).
A eleição da escritora marca um momento simbólico na trajetória da instituição, cujo primeiro presidente foi o escritor Machado de Assis (1839–1908), homem negro e uma das principais figuras da literatura brasileira.


