“Time may changed me…”
Bowie foi o artista que mais metamorfoses realizou em sua carreira. Mas essa sua capacidade de reinvenção, a esta altura, já é notória demais. Lenda do pop e um dos nomes mais revolucionários da música, ele pareceu estar sempre mexendo com o seu próprio tempo, seja trazendo inovações ousadas para a época, seja fazendo trilhas para as transformações do mundo à época. Em alguns períodos ele apenas tentava dar sua contribuição para as tendências do momento – caso dos anos 1980 e sua fase disco e a prolífica (mas errática) dos anos 90.
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Foi com um personagem alienígena, Ziggy Stardust, que Bowie chacoalhou o mundo pop. Os anos 1970 tinham começado e com ele diversas mudanças políticas. Era a época de desilusão após o idealismo da década anterior. Bowie vinha de um disco clássico, mas de moderado sucesso comercial Hunky Dory, onde já rascunhava as inovações que traria ao rock nos álbuns seguintes. The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars iniciava uma série de discos temáticos com Ziggy onde anunciava um mundo pós-apocalíptico. O alien veio à Terra para trazer alento à humanidade e um aviso: as pessoas tinham apenas cinco anos após o fim do mundo. Ziggy também era o rockstar clássico: promíscuo, drogado, consumido pelos excessos, mas que trazia uma mensagem de esperança e paz. Um idílico improvável.
Na metade dos anos 1970, Bowie, já com Ziggy morto e enterrado, se reinventa como ícone do soul pop em Young Americans. O álbum traz seu colaborador de longa data, o produtor Tony Visconti, e busca atrair as influências do R&B e da música negra americana. Em meio a uma explosão do rock e punk inglês, Bowie foi ao encontro das tradições americanas para um disco bem funkeado e dançante. Nos anos seguintes, em uma fase inspirada, Bowie sofre novas metamorfoses. Flerta com o experimentalismo em Station to Station, altamente influenciado por bandas eletrônicas alemãs, Neu! e Kraftwerk. O trabalho serviu de ponte para sua trilogia de Berlin, gravada com Brian Eno entre 1977 a 1979, Low, Heroes e Lodger.
Após esta fase Bowie encarnou um novo grande personagem, Tin White Duck, que liderou a banda de hard rock, Tin Machine. Os anos 1990 traria para Bowie uma fase de experimentações com a eletrônica, com resultados diversos. O ápice veio com Earthling, feito em parceria com o amigo Trent Reznor, do Nine Inch Nails. Bowie passou por uma fase prolífica neste período, com diversas colaborações, participações em trilhas e shows.
Após um ataque do coração, ele decidiu se recolher e passou 10 anos longe dos holofotes até surpreender a todos com The Next Day (2013), álbum feito em parceria com Visconti mais uma vez e onde mostrava que não viveria mais como mito. Tanto esse álbum quanto o novo, Blackstar, eram uma prova do vigor criativo do Bowie, um artista que se recusava a ser confinado a um tempo.
Selecionamos as melhores músicas de David Bowie em toda sua carreira, como uma homenagem. #RIP. Ouça abaixo no Deezer.