André Bushatsky Foto de Flavio Santana 02

“Pigalle”, de André Bushatsky, um livro para ler e ver

Segunda obra literária do cineasta André Bushatsky retrata o bairro boêmio de Paris combinando elementos da crônica, dos contos e da memória

Foto: Flávio Santana/Divulgação.

O cineasta e roteirista André Bushatsky está lançando o seu segundo livro, Pigalle, uma coleção de textos que desafiam gêneros literários, combinando elementos da crônica, dos contos e da memória. Realizador de filmes documentários e de ficção, entre os quais o mais recente é o longa metragem Domingo à Noite (2022), com Marieta Severo, Bushatsky se isolou na região parisiense de Pigalle, conhecida por sua vida boêmia, durante a pandemia da Covid-19, período que o inspirou e tomar notas e produzir uma obra que retrata de maneira muito pessoal o cotidiano parisiense.

Pigalle, com sua prosa poética e bem-humorada, convida o leitor a uma jornada divertida e sentimental onde imaginação e realidade se confundem, mas, ao mesmo tempo, é capaz de transmitir a atmosfera de um tempo, de uma experiência e de um lugar.

Para Bushatsky a literatura e o cinema, apesar das diferenças, são escritos que o desafiam e o encantam. Seu primeiro romance Moridea tinha elementos da literatura fantástica, mas desta vez o autor quis desenvolver suas ideias com mais liberdade, como se estivesse produzindo um filme experimental. 

André Bushatsky conversou com a Revista O Grito! e nos contou um pouco sobre seu trabalho.

O Grito! – O quartier (bairro) de Pigalle, em Paris, está associado a boêmia e a ideia de uma Paris libertina, mundana. Podemos associar esta imagem de liberdade ao fato de seu livro ser uma obra que não segue uma classificação formal para o seu conteúdo?

André Bushatsky – Para mim, Pigalle é sinônimo de liberdade. Paris também. Viver lá, passear, olhar, estudar, ler me fez querer falar ainda mais de vários assuntos que estavam na minha cabeça, que me levaram a escrever as crônicas, contos e anedotas sem me preocupar com uma classificação formal. Se fosse para colocar numa prateleira seria a do momento que estávamos vivendo, a experiência internacional, o quartier, a pandemia, enfim os meus sentimentos.  

Num dos contos (ou crônica, ou anedota) você fala da pseudologia fantástica e inevitavelmente estabelecemos uma relação com os textos que estamos lendo. As personagens, as situações, as memórias que você descreve são reais, imaginadas ou isto não importa?

Acho que não tem nenhuma real, mas tem muitos fragmentos reais. Tem memórias, exageros e criações. Tudo junto. Quando falo dos vizinhos, por exemplo, eles existem, só que eu não sei nada deles, mas podíamos observá-los da nossa sacada e eles a gente!  

Seu primeiro livro foi um romance, algo próximo de um de seus modos de expressão que é a narrativa cinematográfica ficcional. Pigalle tem uma estrutura narrativa bem menos convencional. Ao mesmo tempo, alguns dos textos têm uma forte carga imagética, como se fossem cenas de um filme. Podemos dizer que Pigalle seria como se estivéssemos vendo um filme experimental?

Gostei do “vendo um filme experimental”. Eu diria que Moridea que caminha no realismo fantástico está mais para o filme experimental. Pigalle entra no experimental pelo fato de ser solto, ter diferentes linguagens que são transformadas em crônicas e contos. São vivencias durante um período difícil da humanidade, que não dava para colocar numa caixinha. 

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Embora tenha sido elaborado durante a pandemia, o teu livro não expressa, a meu ver, a angústia e sofrimento do período. Seria ele então, diante da impossibilidade de fazer filmes por conta do confinamento, um momento de recolhimento, uma pausa para pensar sobre as pequenas coisas do cotidiano, para descobrir uma poesia do prosaico?

Acho que sim. Aprendemos bastante durante a pandemia. Todos nós. Alguns textos de Pigalle falam de solidão como “Fidelidade” e outros de esperança como “Concórdia”.  Mas no geral são textos que querem achar as pequenas coisas do cotidiano e a poesia do prosaico porque é aí que a gente acha amor e felicidade.

É mais fácil ser cineasta ou escritor?

Não sei! Boa pergunta. As duas manifestações artísticas são difíceis, tem particularidades e algumas semelhanças no processo. O legal do cinema é reunir uma equipe para contar uma história. É gostoso estar no set, filmar, montar, pensar na trilha sonora e lançar. Por outro lado, escrever literatura exige disciplina e solidão. O que gosto também. É escrever e reescrever. Achar o tamanho adequado da frase, a palavra certa. Mas o roteiro também tem disso. Uma boa vantagem da literatura é que você pode escrever qualquer coisa e não precisa se preocupar com o custo da diária de filmagem e com os efeitos especiais, como por exemplo: “Um míssil acabou de explodir na lua…”

Entre os seus próximos projetos artísticos, existe algum voltado para a criação literária?

Existem vários. Terminei de escrever meu novo livro Um Tango para Cronos, que fala sobre a passagem do tempo, que pretendo lançar em breve. Já comecei o próximo. Vou me dividindo entre argumentos e roteiros de ficção e documentário e literatura. 


Pigalle
André Bushatsky
Faria e Silva, 144 páginas, R$ 62,90


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