Perfil Orlandeli

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ALÉM DAS TIRINHAS DO JORNAL
Cartunista Orlandeli lança livro com coletânea da suas tiras e mostra que gênero vive momento fértil

Por Lidianne Andrade
Colaboração para a Revista O Grito!

O ano de 2010 está sendo feliz para o mundo dos HQs, especialmente para os nacionais. Muitos lançamentos nas livrarias, e mais um chegando esta semana, (Sic), do cartunista Walmir Orlandeli. Com edição da Conrad, a obra teve lançamento no último dia 8 de setembro, em São Paulo. 2010. Com tiras domingueiras publicadas no jornal Diário da Região e em seu blog, “(SIC)” veio da necessidade do autor de desenvolver histórias mais trabalhadas, tanto no aspecto artístico como narrativo. ‘Como trabalho com tiras desde 1995, achei interessante explorar o formato em livro. Um reunião dos temas”, comenta o autor em entrevista a Revista O Grito!

O livro reúne tiras publicadas entre março de 2009 e julho de 2010 e não tem personagem fixo. São pequenos contos com narrativa fora do convencional, sem linearidade na história, obedecendo ou não ao formato de três quadros, convencional no jornal. “É um trabalho que me deixa bastante satisfeito, muito até pelas conquistas em tão pouco tempo de existência. Lançar uma coletânea desse material serve meio que para coroar toda essa trajetória”, fala empolgado Orlandeli.

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A obra surgiu como prêmio do Salão de Humor de Piracicaba, o qual o cartunista foi vencedor da categoria em 2008. “Já em março de 2009 negociei a publicação semanal no Diário da Região, que já publicava o Grump. Meses depois inscrevi o projeto de coletânea dessas tiras no ProAc (Programa de Ação Cultural do Governo do Estado) e mais uma vez a tira foi premiada, garantindo a publicação do livro”, conta.

Natural da cidade de Bebedouro, São Paulo, Orlandeli ingressou cedo no mundo dos quadrinhos, quase uma ‘alfabetização conjunta’ entre livros e os HQs. “Não recordo de qualquer período em minha vida que não estivesse lendo “gibis””, relembra. Desde pequeno nutre o gosto pelas coleções e ainda possui guardados alguns exemplares de quando garoto, quando começou a copiar os traços até produzir sozinho.

O passatempo da infância era o desenho e nutriu durante anos um hobby comum de muitos até hoje: desenhar no caderno. No meio de uma aula ‘chata’, abrir o caderno em uma página qualquer e começar a desenhar aleatoriamente era costume. No caso de Orlandeli, os primeiros personagens surgiram assim, em folhas de caderno, aos 12 anos. “Desenhava várias histórias em um caderno que era passado de mão em mão entre os colegas da escola. Alguns até tinham um potencial bacana: Jeka Bond, um investigador super violento; Skroton, um mosquito afetado pela radiação do Césio 137 no desastre que aconteceu em Goiânia em 1987; também tinha uma série de tiras chamada ‘Ratos, várias histórias protagonizadas pelos roedores”, relembra o artista.

“Não recordo de qualquer período em minha vida que não estivesse lendo “gibis””

Em 1995 Walmir já levava os quadrinhos a sério, indo para a sua primeira publicação: a tira Violência Gratuita, no jornal Diário da Região. No princípio não tinha personagem fixo, mas aos poucos um cara baixinho e de cabelo espetado começou a aparecer com mais freqüência que os outros. “Aparecia tanto e fazia tanto sucesso que decidi dar um nome para ele. Assim nasceu o Krumb, anos mais tarde rebatizado de Grump e publicado até hoje em alguns jornais”, conta o quadrinista sobre o seu primeiro personagem oficial, ao menos o primeiro que ganhou mídia.

Sua área de formação acadêmica é publicidade. Por que? Porque como muitos da área da ilustração, a falta de cursos específicos os fizeram migrar para o mais próximo de seus talentos. No caso de Orlandeli, o curso era o mais próximo de suas aptidões com o desenho e sua casa e, em São José do Rio Preto. “Tirando a área gráfica, o resto não me interessava muito. Mas foi fundamental para um dos passos mais importantes da minha vida, largar o negócio da família, produtos alimentícios, e começar na área gráfica, em uma agência de propaganda”, reflete o artista.

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Tentava imitar desenho do Henfil. Hoje, não abre mão do Photoshop (Foto: Divulgação)

Quadrinhos de formação
Como todo bom menino brasileiro, os quadrinhos de Maurício de Souza fizeram parte da sua infância quase predominantemente. Na adolescência vieram as loucuras de Chiclete com Banana, e daí só os mais conhecidos: Angeli, Laerte, Glauco. Foi a partir das obras desses artistas que resolveu ser cartunista.

Dentre os seus quadrinistas de preferência, o artista destaca seu maior influenciador: Henfil. Apesar de ter conhecido o trabalho dele no dia de sua morte, não deixou de estudar e tentar imitar os traços até encontrar seu próprio estilo. “Vi na capa do jornal ‘Morre o maior cartunista do Brasil’ e pensei: ‘putz’, o cara era considerado o maior cartunista do Brasil e eu mal conheço o trabalho dele. Fui atrás e através de um amigo consegui várias tiras recortadas do Estadão. Virei fã de carteirinha’, relembra. No final, o estilo de Orlandeli é uma mistura de sua formação com aprendizado, leitura de cabeceira e autoral. Como ilustrador, tem um trabalho com forte influência de Samuel Casal e Daniel Breno, semelhante a desenho com vetores.

Como processo de criação, o artista é adepto da tecnologia. O esboço continua no papel, mas a finalização é toda em Photoshop. Nos primórdios usava caneta e pincel, mas depois de adquirir a habilidade da tablet tudo virou mais rápido no processo digital. Dependendo a ilustração, tudo vai ser feito na tablet. “O processo é semelhante a uma mesa de luz: jogo o esboço em um layer e traço a arte final no layer de cima”, explica.

Nos próximos meses ainda temos muito o que esperar de Orlandeli. Há a intensão de lançar uma coletânia de tiras do Grump, publicadas na revista Mad Nº20, pois há muito material ainda publicado em diferentes lugares que o autor gostaria de reunir em um livro. Há ainda planos de trabalhar com historias mais longas. “Talvez um livro reunindo algumas histórias de dez, quinze páginas”, comenta Orlandeli, que chegou a publicar algumas nesse estilo no álbum Front. Apenas planos, mas para deixar os fãs na expectativa.

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