Cantor e compositor de destaque na nova safra da música brasileira, PC Silva lançou na última sexta (18) o álbum Me dê notícias do universo em todas as plataformas digitais. Com participações de Zeca Baleiro, Juliana Linhares e dos conterrâneos Marcello Rangel e Ezter Liu, o novo projeto apresenta uma versão mais festiva e vibrante do artista sertanejo, entremeada pelas letras bem costuradas nas quais ele ora abre caminhos para idas e voltas reflexivas sobre os mistérios e as agruras do mundo ora se entrega a flertes sensuais e provocantes.
Com sonoridade mais preenchida e marcada pela bateria e percussão, o álbum conta novamente com produção musical do requisitado Juliano Holanda, amigo e coautor em mais de uma dezena de músicas, e foi gravado com Juliano (guitarras), Rostan Junior (bateria), Miguel Mendes (baixo), Gilú Amaral (percussão). Pensado como uma amostragem de vários núcleos sonoros possíveis que se comunicam entre si. Com 11 faixas, foi construído a partir de parcerias – são sete ao total -, apontando para um novo momento do artista, que em seu primeiro álbum dividia apenas duas canções.
Em seu segundo álbum, PC Silva volta a mesclar retratos conceituais e visuais com o refino poético que marca sua trajetória de letrista. A faixa-título, “Me dê notícias do universo”, é canção de amor não romântico que parte do Sertão do Pajeú. “Cada frase é sobre uma característica que acho bonita na pessoa do meu pai. Muito além disso, é uma declaração de amor à vida e à nossa existência nesse plano”, explica.
Ele também presta tributo, em “A flor das algarobas”, à poeta Severina Branca, conterrânea quase octogenária sem oportunidade de educação formal e autodidata na arte de transpor para os versos as inspirações captadas em amores, saudades, perdas, tradições, decepções e sofrimentos no dia a dia e nos cabarés frequentados na sua juventude boêmia.
Como indica na canção de abertura, “De Nova Orleans até Taperoá”, na qual aproxima o berço do jazz e a cidade do interior paraibano conhecida por ser onde nasceu Ariano Suassuna, ele viaja por múltiplas referências para ilustrar mensagens sociais sobre cor e injustiças. Sem recorrer à pressa dos atalhos, como versa em “Sinto que estou bem”, composta e gravada com o conterrâneo Marcello Rangel, o cantor degusta as palavras embaladas na percussão volumosa de Gilú Amaral.
Em dueto com a potiguar Juliana Linhares, curte o deleite de matar o desejo e descer ladeira sem freio nas estrofes da sensual “Arrodeio”, com a qual se apresenta como certeiro compositor de amores quentes. O mergulho se repete em “Lambada exuberante”, parceria dançante e provocante com o maranhense Zeca Baleiro. “Depois desta já compusemos outras quatro músicas. PC é um cara muito musical, bom melodista, bom cantor. A música ficou incrível, estou muito feliz com essa parceria e honrado com o convite para participar da gravação”, comemora Zeca.
O novo álbum também vibra na frequências dos desafios contemporâneos, intensificados pela realidade dos dias pós-pandemia. “Nós tivemos que fazer parte de um fim do mundo a cada dia, nos últimos e terríveis anos, especialmente aqui no Brasil. Pela pandemia e pela tensão política que tornou tudo mais difícil. Os avanços tecnológicos, a nova agenda de exploração espacial, a chegada da inteligência artificial e a ascensão de tantos bilionários ao redor do mundo, entre outros pontos, por mais controverso que pareça, também dão impressão de fracasso da humanidade que assiste à fome crescer, à destruição das florestas e das reservas de água, as guerras, aos genocídios, ao fascismo e a tantas outras pragas”, reflete o artista.
PC enxerga o trabalho do artista como um beija-flor ao tentar apagar um incêndio em uma floresta. “Sinto que nosso papel é esse no mundo e devemos continuar apagando esse fogo, enquanto pudermos”, diz ele, cujas músicas responsáveis por torná-lo um dos compositores mais festejados da nova geração já foram escolhidas para serem gravadas por nomes como Ney Matogrosso, Mariana Aydar e Simone. O sentimento fica explícito em “Beira de Mar”, primeiro single lançado, em que ele e Ezter Liu cantam um futuro distópico no qual apenas trilionários sobreviveram e questionam a forma como a humanidade lida com o meio ambiente e a ganância.
As reflexões sobre sentimentos, a falta do lar e a passagem das horas, herdados do álbum de estreia, “Amor, saudade e tempo”, persistem em “Rosa das horas”, tecida a partir de tema lançado por Juliano Holanda tal qual num desafio de repente, no passeio por vários destinos de “Lá vou eu” – que se torna ainda mais especial para o artista com a presença da voz de sua filha Nina, de 5 anos -, nos olhos fechados para recordação de “Águas da lembrança”, gravada com o violão da coautora Joana Terra, e na sina existencial de “Idas e voltas”. Entre os passos para a imensidão do mundo a conquistar pela música e o retorno poético às origens inspiradoras, PC Silva entrega um álbum dedicado à beleza da vida aqui e agora de lugares físicos e abstratos, das pessoas com as quais cruzou ao longo da vida e de possíveis Brasis.