A arte pop da Serigrafia
Por Lidianne Andrade
Para os nascidos no século XX, viver de arte no Brasil parece ilusório, uma utopia sem previsão de revisão em seus conceitos. Mas a arte é mutável, adaptada ao contexto histórico e social presente e assim, formando novas cabeças, novos mundos e mais arte. É assim com Paulinho do Amparo? Bom, ele diz que sim: “sou fruto do meu tempo, da minha arte”. Nascido na Bahia, Paulo Magno Lins de Aragão, filho de Humberto Magno e Maria Luíza, artistas plásticos, criou-se nas ladeiras de Olinda. Sua casa e ateliê faz jus ao sobrenome artístico, na Rua do Amparo, Ateliê Iza do Amparo, aberto diariamente. Músico com projeto independente, a banda 3 ETs, a arte na vida de Paulinho é veio desde sua formação.
Serigrafia – Serigrafia ou silk-screen é um processo de impressão direta de tela direta na superfície através de uma tela. É considerado o quarto processo de impressão, ao lado da tipográfica, rotogravura e da impressão plana. Para pintar o papel, a tinta não é aplicada diretamente pela matriz, mas nos espaços em branco da tela para que esta atravesse e fixe no plano abaixo. Paulinho diz nunca ter aprendido o estilo de serigrafia original, simplesmente faz do seu jeito. Joga a tinta com seus desenhos e, depois, trabalha direto no tecido, seu diferencial. O resultado são telas originais que rimam com a musicalidade presente em seu ser.
Segundo alguns especuladores da arte de Paulo do Amparo, seu tema é a marginalidade anarquia niilista, como o plágio, a pirataria, o direito de mentir livremente, o alcoolismo como arte e atitude de vida. “Pinto o que está dentro de mim, o que vem do meu ser. Passo para a tela o que estou sentindo, muito de minha música, mas meu objeto preferido é a mulher, traços, movimentos e feições.” Alguns veículos da imprensa costumam chamar seu estilo de “serigrafia guerrilheira”, sempre em defesa dos estilos alternativos. Sua produção musical é uma prova disso. No momento, está trabalhando com desenhos animados, que serão publicados apenas pela internet. “É Youtube pra cima!”, declara aos risos. “O desejo de produzir desenho vem de uma frustração por não conseguir trabalhar com este tipo de coisa, estou tentando aprender mais”. Já sua veiculação apenas pela internet, é necessidade mesmo. “Artista é artista o tempo todo, precisa produzir, criar, e não pode esperar aparecer patrocínio ou ficar refém do interesse da mídia. Vou fazendo, se a galera gostar agente manda bronca,” explica o artista das ladeiras.
A serigrafia deveria ser um ato estático, já que desenha-se e depois passa para a superfície que quiser (papel, plástico, borracha, madeira, vidro, tecido, etc..). O diferencial vem no trabalho posterior à impressão. Catarina, irmã de Paulinho e com trabalhos expostos no mesmo ateliê, utiliza a técnica em camisetas, posteriormente trabalhada com glíter ou tinta. O mundialmente conhecido artista plástico carioca Cícero Dias(1907-2003), também era um adepto do estilo de serigrafar. Ele fez da serigrafia um ponto de equilíbrio estético, deixando a possibilidade de vislumbrar camadas variantes da figuração ao abstrato. Mesmo conhecendo os renomados, afirmar nunca ter estudado artes. Sua formação acadêmica é de engenheiro elétrico, e não perdeu sua utilidade. “Os conceitos aprendidos no CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco, na Várzea) são úteis até hoje, na gravação de CDs, meus projetos sonoros. Tudo é válido,” diz Paulo.
Nos seus trabalhos, Paulinho trouxe a inovação da técnica para outros meios. Foi ilustrador da capa do recentemente lançado CD da Orquestra Contemporânea de Olinda. Parakuki, primeiro álbum solo de Shina, também leva sua arte. Mundo Livre S.A., Bêbado Groove também já experimentaram do seu estilo. Ilustrar capas de CDs, na verdade, foi o motivo pelo qual Paulo começou a serigrafar. “Queria um trabalho diferente para as minhas capas, e fui aprender a técnica”, explica. Isso foi em 2002, agora está tão habitado que renova a cada quadro, estes podendo ser observados em exposição em cartaz no Bar Central até 7 de julho. Suas telas também estão na IX Bienal do Recômcavo, na Bahia.
Vivendo de arte
Conhecido em toda a Cidade Alta de Olinda, Paulo é um forte exemplo de sobrevivência das artes nos tempos modernos. Nunca saiu da cidade para expor, mas manda suas telas por quem queira levar para expor, puro interesse comercial. “Tenho nojo de dizer isso, mas estou me adaptando ao meio comercial, pinto muitas vezes o que pedem, mesmo sabendo que posso fazer melhor”, declara. Segundo muitos profissionais da área, hoje é a época do modismo, sem muita apreciação para novos estilos artísticos e inovações. Não é incomum notar-se pintores repetindo trabalhos para vender mais ou adaptando seu estilo há feiras e eventos, local que surge o dinheiro. “Vivo de arte, mas tem mês que é não dá, tem que esperar, correr para outras áreas”, comenta o serigrafista. Segundo o mesmo, em conversar com os amigos artistas, a reclamação é geral. “Gostaria de viver de arte para mim, poder ser bancado para criar e ficar ao léu, apenas colocando meus devaneios em prática”. Para os mais novos, um conselho: “consiga um bom patrocínio e crie, crie muito. Só assim dá pra criar de verdade.”
Exposição Paulinho do Amparo
Onde: Bar Central
Rua Mamede Simões, 144, próximo à Assembléia Legislativa do Estado.
Entrada Franca
Confira abaixo algumas ilustrações (clique para ampliar)