Papo com os artistas do Projetemos: “Somos a voz do povo. O que muitos queriam dizer, está dito nas paredes”

Projecionistas Mozart Santos, Bruna Rosa e Felipe Spencer falam sobre a exposição inédita do Museu de Arte Contemporânea de SP, que traz projeções com forte posicionamento político

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Obra de Achiles Luciano, artista visual negro nascido em São Paulo, desde 1993 (Foto: Divulgação)

O “Projetemos”, cocriado pelo pernambucano Mozart Santos, está representando o Brasil em uma exposição inédita do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. Intitulada Além de 2020. Arte italiana na pandemia, a mostra fica em cartaz até o dia 22 de agosto e traz também obras de mais 40 artistas, a exemplo do chinês Ai Weiwei e diversos outros.

Vários artistas e projecionistas foram convidados para construir a obra através de suas de suas abordagens e lutas pessoais. Entre eles, Maria Gadú que traz por meio da palavra dos povos originários, um vídeo-arte sobre os rios que existem ou existiam em São Paulo.

Achiiles Luciano, que apresenta uma obra mesclando a pintura analógica com a pintura digital para retratar expressões e grandes personalidades que se destacam nas lutas contra o racismo. E Raquel Diógenes, que desencadeia a linguagem contemporânea do vídeo e da música eletrônica para debater questões feministas. “A exposição se propõe a ser também uma ativação coletiva”, contam os organizadores.

Para visitar a mostra é necessário fazer um agendamento prévio, gratuito através do site. Para saber mais detalhes, conversamos com os projecionistas Mozart Santos Bruna Rosa e Felipe Spencer:

Como surgiu a ideia de criação do PROJETEMOS?

O projetemos é a soma de experiências de Felipe Spencer, Brunna Rosa e Mozart Santos que individualmente projetavam em paredes ou formavam redes ou mesmo gerenciavam atividades políticas. Ao surgimento do da pandemia decidimos nos juntar em uma só hashtag para lançar luzes contra fakenews e incertezas quanto aos procedimentos corretos contra a Covid-19. Convidamos várias projecionistas a participarem. E formamos uma rede nacional de projecionismo, onde qualquer pessoa pode participar projetando, criando conteúdos ou compartilhando nossos posts.

É verdade que o projeto nasceu no Recife e foi co-criado por um pernambucano convidado para representar o Brasil na exposição?

Eu sou cocriador. Também tem DNA de Recife. Felipe me ligou com a ideia dessa rede e eu fiz minha parte tecendo entre ligações e contatos para fazer ela se tornar realidade. Sempre os três, eu Brunna e Felipe fizemos isso acontecer de forma complementar, mas não sozinhos, cada pessoa que participa conosco está dentro desse guarda-chuva.

A exposição é muito importante. Reúne os nomes mais relevantes da arte contemporânea mundial. Somos os representantes do Brasil. O trabalho de arte política e intervenções urbanas criaram mesmo uma ruptura em paradigmas nesse parâmetro de arte-cidade e vídeo mapping. Creio que é um dos motivos de sermos convidados.

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‘Projetemos’ traz imagens que narram nossa história (Foto: Divulgação)

O projeto visa dar apoio e resistência ao Brasil nesse cenário pandêmico? Quais pretensões e expectativa de impacto na sociedade brasileira?

Somos a voz do povo. O que muitos queriam dizer, está dito nas paredes. Já denunciamos um caso e horas depois alguém que cometeu o crime contra um grupo quilombola estava detido. O que projetamos, o fazemos em escala monumental, há uma quebra na monotonia do caminho de quem passa ali ou até quem está quadras longe e vê por cima do prédio. E o que falamos defende classes, grupos, pensamentos. Somos uma ideia.

A exposição se propõe a ser interativa. Como se deu o processo de concepção desse trabalho?

A exposição se propõe a ser também uma ativação coletiva. Lá ensinamos a fazer uma ferramenta de projetar a distancia com uma lupa, uma lanterna e um cano de pvc. Tem também uma instalação com estas ferramentas projetando palavras do chão. Estas palavras retiramos de um livro, mas da forma q foi colocada a narrativa do livro se desconstrói e o visitante liga as palavras e cria novas frases como quiser. Também convidamos parceiros projecionistas a criarem vídeos para narrar suas lutas, que também são nossas lutas. Maria Gadu criou um vídeo q traz o debate sobre os indígenas e os rios urbanos de São Paulo, alguns tamponados, outros extintos. Luciana Marçal fala sobre a Cozinha Revolucionária, que ela distribui comida que ela mesma faz. Entre outros tão importantes e queridos para nós.

Ao todo, qual o número de obras? De onde são os artistas e qual abrangência da exposição?

Temos artistas do mundo todo, mas em sua maioria de italianos. Certamente mais de 50 obras.

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Criado em Pernambuco, Projetemos participa de exposição internacional (Foto: Divulgação)

A exposição reúne diversos artistas. Qual o desafio de sintetizar e dar unidade ao projeto?

Essa síntese já veio da curadoria italiana que reuniu artistas que criaram trabalhos relacionados a pandemia. Ainda tivemos uma ajuda preciosa de Mamé Shimabukuro para conversar e nos ajudar na construção poética de nossa obra.

Outras cidades também vão receber a iniciativa?

São Paulo foi a única parada no Brasil. Depois segue para outros países.