“Arte educa, eu como artista não consigo fazer arte sem ser político”, assevera o cantor e compositor pernambucano Ciel Santos. Ele cresceu na zona rural de Bezerros, no Agreste do estado, num vilarejo chamado Sacapurana. Filho de agricultores, o artista só começou a compreender seus traços identitários quando se tornou artista, ingressando no Papanguarte Balé Popular daquela cidade.
O mais recente de Ciel, “Enraizado”, apresenta uma sonoridade que funde elementos da cultura regional com a música pop atual, marca característica do artista pernambucano. “A cultura popular com toda sua riqueza rítmica é uma fonte que nunca seca”, afirma. Disponível nas plataformas digitais, o disco tem canções autorais do show, duas delas feitas em parceria com Maurício César, que assina a direção musical. Ao todo, são onze faixas, incluindo uma regravação da música Carcará, de João do Vale e José Cândido, sempre presentes no repertório do artista.
O cantor se apresenta no domingo (30), no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no Palco Regionalidades, e promete levar a liberdade de ser e fazer o que quiser em todo o discurso do disco, e sempre ressaltando de onde veio. “Sou um matuto convicto e orgulhoso”, destaca.
Batemos um papo com Ciel Santos sobre sua carreira, papel da arte e representatividade LGBTQIA+. Confira:
Vamos falar um pouco da sua história. Por que você começou a cantar? De onde surgiu a necessidade de criar músicas que falassem sobre a realidade a sua volta?
Cantar para mim é algo que me desafoga da vida, faço desde menino e tem me feito muito bem. Cantei muitos anos na noite e acho que sou um bom intérprete por causa disso. Então chegou um momento que eu queria cantar minha história com minhas palavras e isso tem um gostinho especial.
Música, dança, teatralidade e cultura popular: isso resumo a arte que você produz?
Sim! Me sinto envolvido e completamente encantado pela arte nas suas variadas vertentes. Minha música tem influência direta da cultura popular. Sou do palco, deixo meu corpo seguir os impulsos que estão vindo naquele momento e deixo o caminho livre para expressar isso, seja cantando, dançando ou atuando.
Você é natural da zona rural de Bezerros, no Agreste do estado. De que forma este lugar ocupa você? De que forma influencia o seu trabalho?
Me ocupa até o tutano! Sou um matuto convicto e orgulhoso. Trago isso de cara em tudo que faço no palco não poderia ser diferente, né?
Em suas apresentações, você aborda a androgenia da sua voz. Concorda que é preciso sair do muro e levantar bandeiras? Há representatividade LGBTQIA+ no pop e no meio alternativo, mas pouco na cultura popular?
Arte educa, eu como artista não consigo fazer arte sem ser político. A minha voz e meu corpo são ferramentas e bandeiras. Hoje temos conquistado um espaço maior no mercado, mas ainda precisamos ressignificar algumas narrativas e criar novos protagonismos. A cultura popular, também está nesse processo de abraçar a diversidade.
Quais são as suas principais influências na música e nas artes?
A cultura popular com toda sua riqueza rítmica é uma fonte que nunca seca. Vivemos cercados por mestras e mestres que mantém a nossa ancestralidade, essas pessoas me inspiram. Moda, escultura e pinturas também ajudam no meu processo de identidade e criação artística.
Você acha que o papel dos artistas é de resistência, mas também despertar esperança?
Acredito que sim. A arte nos dá a possibilidade de pensar novas alternativas de futuro. É o que alivia a dor da vida.
Você é uma das atrações do FIG deste ano. O que o público pode esperar dessa apresentação?
Muito remelexo, swing e suor! Cantarei com minha banda músicas do álbum Enraizado com músicas do nosso cancioneiro popular. Será um show para dançar, se emocionar e se esquentar no frio de Garanhuns. Aguardo vocês lá!