Fenômeno de público por onde é realizado, o Gongada Drag é um show para quem ama comédia, arte drag e muitas alfinetadas. O espetáculo é a fusão entre o estilo “roast” de comédia, um pouco de stand up, e claro, a energia criativa das drag queens do Brasil. O evento reúne comediantes e drag queens de programas como Drag Race Brasil e Caravana das Drags, celebrando as lendárias drag queens da cena noturna do país, sempre com uma grande homenageada. “É um produto coletivo, a gente não teria essa qualidade sem o talento das drags e sem o humor dos comediantes que agregam. Então realmente é uma coletividade da equipe toda: técnica de produção e desse elenco”, destaca o humorista Bruno Motta, idealizador e apresentador do espetáculo.
A expressão “gongar” é um código comum da comunidade gay, quer dizer fazer piada de alguém em público, com o objetivo de fazer todos rirem – inclusive o alvo. Nos palcos, a ideia virou comédia e deu origem ao espetáculo “Gongada Drag”, sucesso de público em várias cidades como São Paulo, Rio Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. E claro, celebrando as lendárias rainhas da cena noturna do Brasil e as maiores personalidades do mundo LGBTQIA+, sempre com uma grande homenageada e elenco diferente nas apresentações.
Bruno Motta é um dos pioneiros da comédia stand-up no Brasil. Ele se tornou um dos mais conhecidos apresentadores do espetáculo “Improvável”, com Barbixas, e um dos criadores do fenômeno Furo MTV. “É esse olhar de qualidade, de humor, desse tipo de comédia que agrada a gente e que não tinha, não tinha nem essa comédia e não tinha um produto para a nossa comunidade.”, ressalta Motta, sobre o Gongada Drag.
Tamanho o sucesso que o espetáculo será levado para outras cidades do Brasil, em 2025, a exemplo de Porto Alegre e, chega, também, de forma inédita ao Nordeste, às capitais Fortaleza (CE) e Salvador (BA). Além disso, os fãs do Snatch Game do Drag Race vão poder curtir duas edições especiais do Gongada, com o “Jogo das Divas”. A primeira edição desse novo formato do show conta com as presenças das queens Hellena Malditta (revivendo a socialite Narcisa Tamborindeguy); Dallas de Vil (revival da ex-presidente Dilma); e Suzy Brasil (imitando a apresentadora Helen Ganzarolli).
Confira entrevista exclusiva à Revista O Grito! com Bruno Motta sobre o Gongada Drag, humor, carreira e mais:
O Gongada Drag é um sucesso, reunindo drags e comediantes da diversidade, tendo você como o grande maestro. A que atribui esse fenômeno da iniciativa que completou um ano no final de 2024?
Acho que um elemento principal desse sucesso é ter reconhecido que não tem espetáculos para nós, para esse público. E o pouco que tem não atinge a qualidade que a gente quer. E é um público que tem um nível de qualidade altíssimo. A partir daí, é um espetáculo muito grandioso, feito por uma iniciativa minha, como produtor, e que coloco à disposição das drags o meu know-how, não só de produção, como de comediante, para a gente conseguir atingir esse objetivo de comédia, que é um resultado final.
Também é um produto coletivo, a gente não teria essa qualidade sem o talento das drags e sem o humor dos comediantes que agregam. Então realmente é uma coletividade da equipe toda: técnica de produção e desse elenco. Mas com esse olhar que todo mundo precisa estar no ‘mesmo carro’ e indo para o mesmo lugar, senão a gente também não chegaria nesse sucesso de hoje. E é esse olhar de qualidade, de humor, desse tipo de comédia que agrada a gente e que não tinha, não tinha nem essa comédia e não tinha um produto para a nossa comunidade.
É uma mistura de stand-up, improviso, auditório, realities shows e muito talento drag, pra rolar de rir. Como define o Gongada Drag?
Achei curioso uma vez que eu li pela primeira vez que parecia um programa de auditório e as pessoas, às vezes, falam comigo e se referem ao Gongada Drag dizendo que gostam muito do programa. Entendo, provavelmente, porque elas assistem cortes, não sabem direito de onde estava e acho que parece um programa pela minha natureza mesmo. E é uma mistura justamente disso tudo: stand-up, improviso, reality shows, drag. A melhor definição do Gongada é que é imprevisível, essa é a melhor definição para mim. A gente prepara tudo para na hora poder ser imprevisível e é muito engraçado, é muito potente o que acontece na hora. A gente não tem a menor ideia do que vai acontecer e a gente se diverte muito.
De onde surgiu a ideia de fazer um programa de xoxação de drags?
Embora o nome seja “Gongada Drag”, a ideia não foi fazer um espetáculo para as pessoas se xoxarem. Tanto que a gente tem as nossas gongadas de honra para a gente fazer uma homenagem. Gongar é justamente se divertir com a outra pessoa. As pessoas do elenco sabem que seriam gongadas, então elas se colocaram à disposição. Isso não tem nada mais do que rir de si mesmo, do que isso. Você se coloca lá e fala: “Podem rir de mim”. Mas depois é minha vez. E a gente se diverte. E isso é construir um lugar seguro.
A gente usa tudo aquilo que falaram contra a gente, a gente potencializa e se diverte, tanto com a plateia quanto com a gente mesmo. Fui uma criança gay que não tinha isso para poder assistir. Tinha que fugir para ir na balada com 16, 17 anos. No dia que tinha show e era só um pouquinho com as pessoas querendo que o show acabasse para voltar à balada acabasse para voltar para o show. Então agora ofereço esse show no teatro, com hora marcada, para o público chegar, sentar e assistir esses comediantes LGBT e essas drags com a atenção que eles merecem.
Fico impressionado com a qualidade do elenco: Silvetty Montilla, Naza, Suzy Brasil, Rita Von Hunty, Valenttini, Márcia Pantera e Júnior Chicó… Como conseguir reunir tanta gente boa? Qual o segredo?
Posso dizer que eu fico impressionado com aquela idade de elenco, mas eu acho que são 25 anos de carreira e essas pessoas sabem quem eu sou, de onde eu vim. A gente faz essa brincadeira, essa piada, eu sou gongado por ser a Marlene Mattos das drags e só acho graça nisso porque eu não sou. Elas sabem disso, elas sabem o quanto eu acompanho elas e o quanto eu acompanho desde antes. Então, acho que tem muito respeito, quando convido, abrem a agenda porque elas sabem que é por uma coisa, por um projeto, por uma coisa maior. E acho que também é muito divertido fazer, também tem isso. Hoje em dia, quando convido algumas que não foram convidadas, elas ficam, ai que bom que chegou esse convite, eu fico tão honrado, sabe, demorou a bater pra mim.
Bruno, você é um dos pioneiros da comédia stand-up no Brasil, dos mais conhecidos apresentadores do espetáculo Improvável, com Barbixas, e um dos criadores do fenômeno Furo MTV. Como e quando você começou na comédia?
Gosto de lembrar que eu nunca fiz outra coisa senão comédia. Só foi isso que eu fiz desde que eu tenho poucos anos de idade, eu escrevia livros, piadinhas, fazia showzinhos, showzões, fui fazer teatro, teatrinho, teatrão, do colégio, fora do colégio, na faculdade, fiz jornal, escrevia só os artigos de comédia, as brincadeiras, propunha os eventos. Profissionalmente, comecei ganhando prêmios com 16 anos, fazendo um festival de comédia, o Chico Anysio me chamou no palco, me chamou depois pra fazer vários shows com ele, chamado “Chico e Amigos”, e depois o prêmio Multishow e vários outros, televisão, que sempre é uma linguagem que gostei muito. Gosto de dizer que comecei profissionalmente com 18 anos, no prêmio de humor do Multishow, 1998, para ter um simbólico, mas comecei desde sempre.
Fãs de outros Estados – inclusive este entrevistador – estão na expectativa de que o espetáculo chegue a outras regiões do Brasil, a exemplo do Norte, Nordeste e Sul. Houve um ensaio de uma plataforma on-line, ao vivo. Há pretensões a respeito?
A gente quer ir para todos os lugares, todos os estados. A gente também quer ter um bom conteúdo disponível audiovisual. Queria que as pessoas entendessem que é muito mais difícil do que parece, porque a gente quer fazer tudo isso com qualidade. Não é só o que a gente quer fazer, porque não adianta chegar no estado da pessoa, na cidade da pessoa, de um jeito que ela não quer ver a gente, de um jeito pobre, mambembe. E a gente, do outro lado também, é um espetáculo caro para ser essa produção. A gente precisa chegar com bastante tempo de antecedência, com todos os ingressos vendidos.
A mesma coisa com o material audiovisual. Nesse momento, é um espetáculo que acontece em teatros. A gente grava pra ter um conteúdo para disponibilizar, que é a nossa divulgação. Ele não é um conteúdo audiovisual. A gente tem plena consciência. As pessoas ficam pedindo, e quando a gente coloca um pouco mais no ar, elas reclamam que não está bom. Por que não está? A gente sabe. Ele não é produzido para ser um conteúdo audiovisual.
A gente gostaria demais que fosse. Mas isso demanda mais gente, mais tempo, mais equipe. Claro que a gente torce pra que um streaming, por exemplo, uma produtora que seja, compre a nossa ideia e a gente possa apresentar esse espetáculo online pra todo mundo. E a gente está começando a nossa turnê em 2025. Já posso adiantar para algumas cidades que a gente não foi ainda. A gente continua com a nossa base, aqui é São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campinas. Também vamos para Porto Alegre, Fortaleza, Salvador, para o interior e vários outros lugares.
Ingressos à venda neste link.
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