A MALDIÇÃO DE JUMA MARRUÁ
Emissora de Silvio Santos ressuscita Pantanal, a novela que desbancou a Globo nos anos 90
Por Gilberto Tenório
No início dos anos 90 uma atração da extinta TV Manchete conseguiu uma proeza até então impensável para os padrões da televisão brasileira: superar a audiência da Rede Globo no horário nobre. Com picos de 50 pontos no Ibope, a responsável por esse feito foi Pantanal, novela escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Jayme Monjardim. Agora, 18 anos após sua exibição original, a trama está de volta, desta vez na tela do SBT. O relançamento deu fôlego novo à combalida emissora de Silvio Santos, em que muitos dias a novela tem dado picos de 15 pontos, e esquentou ainda mais a guerra que vem sendo travado no horário mais valioso para as TVs.
A reestréia de Pantanal foi tratada como segredo de Estado pelo SBT. Uma semana antes de seu lançamento a emissora colocou no ar chamadas dizendo que uma “arma secreta” iria mexer com o horário nobre e incomodar a concorrência. Ao ligar a TV na segunda-feira, nove de junho, o telespectador se deparou com as tomadas amplas, a natureza exuberante e as cenas de nudez que fizeram a fama da novela durante a sua primeira exibição. Entretanto, apesar de ter sido um marco na teledramaturgia e inovando em vários quesitos, a estética de Pantanal se mostra um tanto envelhecida nesse final de anos 2000.
As imagens perderam o tom inovador, em boa parte devido à má qualidade das fitas compradas pelo SBT, e a nova edição em muitos momentos soa brusca e confusa. Sem falar na nova abertura que segue o já conhecido ar de cafonice tão característico das produções do homem do baú. Também é extremamente engraçado, para não dizer constrangedor, ver que a moda e o visual dos atores mudaram bastante nesse intervalo de tempo. Calças semi-bag, pantalonas e cabelos à la Chitãozinho e Xororó são apenas alguns dos itens que compõem o style da novela.
Entretanto, é inegável que a reprise de Pantanal tem seus atrativos. O texto de Benedito Ruy Barbosa está muito acima da média das frases telegráficas de Mutantes – Caminhos do Coração da Record, por exemplo. A direção de Jayme Monjardim é inspirada, ousando mostrar novos lugares numa época em que os arranha-céus de São Paulo e as praias cariocas das novelas globais eram os únicos cenários oferecidos ao público. O elenco, formado por veteranos como José Dumont, Cássia Kiss e Cláudio Marzo, além de rostos novos como Cristiana de Oliveira, Marcos Palmeira, Marcos Winter e Ângelo Antonio, se mostrou afiadíssimo.
Outro detalhe que deve prender a atenção do publico são as famosas e ousadas cenas de nudez. As novelas da Manchete sempre usaram desse artifício para atrair a atenção do telespectador, porém em Pantanal, as seqüências ganharam um destaque acima do normal e, sem dúvida, ainda devem despertar algum interesse, principalmente em tempos onde a nova classificação indicativa deu uma freada no festival de apelação que vinha tomando conta das novelas.
Diante de todo isso a guerra do SBT com a Globo e a Record esquentou nas últimas semanas. A primeira alega que comprou os direitos do texto de Pantanal do autor Benedito Ruy Barbosa. Especula-se, inclusive, que a emissora carioca pretendia fazer um remake de Pantanal em 2010, quando a novela completa 20 anos. Agora a briga corre na justiça. Já a Record está assistindo a fuga de boa parte dos telespectadores do horário para a saga pantaneira. Satisfeita com os resultados conseguidos com suas últimas novelas, em especial com “Caminhos”, a emissora não pensa em duelar novamente com o SBT pelo tão disputado “segundo lugar”. No meio do tiroteio está o telespectador brasileiro que com tantas “boas e variadas” opções no horário nobre (os ótimos temas do programa de Luciana Gimenez, as chatíssimas séries globais ou a insossa programação da Band) tem que se refugiar entre as bundas e os fauna da Passárgada televisiva do SBT.
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