Panda Bear Sinister Grift portada
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Panda Bear troca experimentação pela nostalgia pop em “Sinister Grift”

Gravado em Portugal, Noah Lennox se abre a um som mais palatável em disco que se equilibra entre a tristeza e a superação

Panda Bear troca experimentação pela nostalgia pop em “Sinister Grift”
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Panda Bear
Sinister Grift
Domino, 2025. Gênero: Pop/Rock, Rock Alternativo

O músico estadunidense Noah Lennox foi desenvolvendo ao longo das décadas uma carreira solo baseada na experimentação que o levava a explorar recônditos pouco trafegados no rock, pop e eletrônica, indo além do óbvio na instrumentação e nas letras (é um dos mais talentosos compositores no indie-rock de sua geração). Ouvir os primeiros acordes de Person Pitch (2007), um dos seus primeiros álbuns fora de sua banda, o Animal Collective, é daquelas experiências musicais raríssimas em que podemos exclamar nunca ter ouvido nada parecido.

E foi nesse intento de sempre apostar nessa experimentação como um mote artístico que Lennox buscou trazer ao Panda Bear sons inusitados, cheios de reentrâncias sonoras nem sempre coesas, muita psicodelia, reverbs, camadas e mais camadas de som e um maximalismo que por vezes beiravam a cacofonia, mas que ao final, soavam como obras bem orquestradas em que abordava temas amplos sobre amor, vida, morte e espiritualidade. O caos, como forma e objetivo, sempre foi muito deliberado.

É curioso que Sinister Grift, seu primeiro disco em cinco anos, se afasta um pouco da proposta artística, mas ao mesmo tempo a revitaliza, uma vez que buscar um tom mais pop é também uma forma de experimentação no que entendemos da persona do Panda Bear. Aqui, o maximalismo da produção dá lugar à melancolia e uma nostalgia pop que se apoia no auge do Beach Boys e no rock solar da virada dos anos 1950/60. É uma excelente porta de entrada ao trabalho de Lennox, uma vez que há claramente um som mais palatável, mas sem abandonar a assinatura musical única construída ao longo dos anos.

As letras trazem uma maior maturidade do músico, que alcançam aqui tons de nuance e profundidade que chamam atenção pela poética complexa, mas sutil, quase singlea. A maneira como consegue criar imagens visuais criativas, a exemplo de “Praise”, que abre o disco ou memso “Anywhere but Here”, com trechos em português cantadas pela sua filha Nadja Lennox, impressionam. A temática vai variando entre o otimismo de evoluir/amadurecer até avançar para temas mais sombrios em que fala de temas como tristeza e isolamento (caso de “Elegy for Noah Lu”).

O encerramento do disco, com “Defense”, no entanto, retoma o tom solar falando de recomeçar, com participação de Cindy Lee. É uma audição em que os temas vão ficando mais pesados à medida em que nos aproximamos do fim, mas que finalizam de maneira recompensadora, sem soar forçado. Sem abandonar o tom conceitual de seus trabalhos anteriores, Lennox soou familiar aos seus fãs, mas convidativo aos novos ouvintes.

Panda Bear photo by Chris Shonting
Panda Bear: um disco com tristeza, mas com final otimista. (Foto: Chris Shonting/Divulgação).

Ouça Panda Bear – Sinister Grift

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