Na noite desta quinta-feira (29) o Paço do Frevo inaugurou sua nova exposição principal: “Frevo Vivo”. A mostra, que antes ocupava as salas no térreo do Museu em uma versão menor, foi expandida para todo o terceiro andar, com duas novas salas adicionadas ao circuito, além redistribuição dos elementos que já ocupavam o salão antes da reforma. O Paço é o museu público municipal mais visitado da capital – mais de 1 milhão de pessoas já o visitaram desde a sua abertura.
A nova exposição principal apresenta um retrato do frevo no presente e dos seus territórios, dentro e fora de Pernambuco. Esse recorte cronológico e geográfico se ampara em um dos mais potentes motores de inovação do Frevo: as comunidades. Se o centro das cidades é o palco, a coxia e os bastidores ficam nas comunidades periféricas que o renovam e recriam.
“Eu acho que tem um trabalho muito grande da gente do Paço, que é tentar apresentar o frevo como uma manifestação convidativa a todos. Eu acho que quando a gente fecha [o frevo] numa paleta de cor específica ou num jeito específico de dançar que seja muito difícil, que desafia o corpo, a gente tem uma dificuldade de convidar novos públicos, sobretudo o público que é de fora de Pernambuco. Então se a gente apresenta o Frevo com a roupagem que, de fato, ele tem nas suas comunidades, numa maior multiplicidade de cores, rostos, de repertório e corpos dançando. Um Frevo que seja mais convidativo a pessoas idosas, pessoas gordas, enfim. Então, o que a gente quer mostrar para esse visitante que vem de fora é muito mais do que aquela casca das cores primárias, da sombrinha, do que é vendido através do turismo, sabe? Ele tem uma fundamentação nas periferias do Recife, de Olinda, de uma manifestação real”, explica o pesquisador e coordenador de curadoria da exposição, Luiz Vinícius Maciel.

A nova configuração da exposição propõe uma visita aos bastidores e aos personagens que fazem o Frevo ser o que é, dando destaque aos locais onde há marcos históricos ligados à manifestação: os bairros do Recife, de Olinda, as cidades do interior do Estado, além das esquinas do Brasil e do mundo onde o Frevo pulsa.
A experiência dos visitantes é aprofundada com duas novas salas imersivas: “Nós no Frevo”, uma projeção, concebida e dirigida pela passista e professora Rebeca Gondim, que traz coreografias inéditas a voltadas para a diversidade dos corpos de passistas e em espaços por todo o Recife. Já na “No Compasso do Frevo”, o visitante vira maestro. Através de uma tela é possível comandar a música, destacando cada um dos instrumentos que a compõem, e ainda eleger se a composição será executada no compasso do frevo de rua, frevo de bloco ou frevo-canção.
O salão do terceiro foi reformado e os estandartes expostos, que antes ficavam no chão, foram redistribuídos pelo teto e em vitrines, pedido que veio da escuta feita pelo museu aos artistas e pela comunidade do frevo. Representando os calungas, o Homem da Meia-Noite a Mulher do Dia são os primeiros bonecos gigantes escolhidos para a exposição, que revezará bonecos ilustres ao longo dos meses.
O investimento é da ordem de R$ 5 milhões em recursos incentivados via Lei Rouanet, mecanismo de fomento do Ministério da Cultura. A exposição tem apresentação do Instituto Cultural Vale e patrocínio da Nubank.
“Esse investimento veio por meio da Lei Rouanet, lei de incentivo, e ele cuidou de duas coisas: primeiro da obra física do prédio, desse bem material, então a gente restaurou o telhado, reforçou a estrutura metálica do telhado, trocou os vidros, fez uma iluminação cênica. E depois a exposição, com tanta tecnologia, com tantas fotografias, tantos artistas, que tiveram aqui seus cachês, porque cada pessoa que está aqui ganhou para trabalhar. E eu acho que o retorno de tudo isso é a comunidade do Frevo estar aproveitando dessa casa, esse espaço ampliado, com essa tecnologia para receber mais apresentações, mais produções. Eu acho que vai possibilitar que a comunidade do Frevo venha mais para trazer seus espetáculos e usufruírem dessa casa, porque essa casa é deles. Em termos de contas, se você investir 5 milhões, você não vai tirar 5 milhões jamais, mas sabendo que o retorno é social, não é financeiro. A gente está tudo muito feliz. Eu acho que a comissão foi cumprida.”, diz Luciana Félix, diretora do Paço do Frevo, à Revista O Grito!.

Paço do Frevo
O Frevo é patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco e do Brasil pelo Iphan e um convite à celebração da vida. Em Pernambuco, o Paço do Frevo é seu lugar máximo de expressão. Reconhecido pelo Iphan como Centro de Referência em ações, projetos, transmissão, salvaguarda e valorização de uma das principais tradições culturais do nosso país, o museu atua nas áreas de pesquisa e formação em dança e música e na difusão das agremiações por meio da ativação de memórias, personalidades e linguagens artísticas.


