POP E CINEMA INDEPENDENTE PAUTAM NOVO OSCAR
Kathryn Bigelow entra para a história como a primeira mulher a vencer o Oscar de melhor diretora. Avatar amargou fracassos
Por Paulo Floro e Rafaella Soares
Editor e Repórter da Revista O Grito!, em Recife
Um embate entre o pequeno e o grande, ou melhor, entre Guerra ao Terror e Avatar, marcou a 82ª edição da cerimônia de entrega do Oscar, nesse último domingo (7). O filme independente dirigido por Kathryn Bigelow levou seis estatuetas, enquanto que a milionária produção de ficção-científica de seu ex-marido, James Cameron, ficou apenas com três. Este Oscar também entrou para a história por premiar a primeira mulher a receber o prêmio de melhor diretor, para Bigelow.
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Com grande parte das categorias disputadas por esses dois, o Oscar seguiu previsível e premiando praticamente todos os favoritos. A exceção foi Preciosa, que levou o prêmio de melhor roteiro adaptado. Como já era esperado, Sandra Bullock venceu melhor atriz, confirmando que este era sua grande chance de ser homegeada por seus mais de 40 filmes já feitos para Hollywood.
Não que Um Sonho Possível, filme pelo qual concorreu, seja fraco ou desmerecedor, mas é que outra chance como esta para Bullock seria remota. Concorrendo com novos nomes como Carey Mulligan e Gabourey Sidibe, a única que poderia tirar o prêmio da Miss Simpatia era Meryl Streep, mas a Academia concordou que Julie & Julia não era o melhor que Streep já fez. No mesmo dia, Sandra recebeu o Framboesa de ouro de pior atuação, por Paixão Maluca.
Ator foi outra homenagem tardia. Jeffrey Bridges poderia ter vencido por outros filmes, entre eles o clássico cult O Grande Lebowski, mas a Academia viu neste filme o momento ideal de, enfim, premiar o ator, que completou 60 anos. Em Coração Louco, Bridges interpreta um cantor de country. Ator e atriz coadjuvantes não tiveram surpresas: Mo’Nique emocionou a todos com o discurso. “Primeiro você precisa fazer o que é popular, para depois fazer o que é certo”, disse. Christoph Waltz recebeu mais um prêmio por sua interpretação de um nazista em Bastardos Inglórios.
A apreensão da guerra entre Avatar e Guerra ao Terror foi até o bloco final, quando Kathryn Bigelow levou prêmio de melhor diretora, seguido de melhor filme. Entregue por Barbra Streisend, que já foi indicada na categoria, mas nunca levou, Bigelow fez história. E levou ainda num filme que se configura como representante de um cinema urgente em discutir questões atuais.
Pouco conhecida, Bigelow é conhecida por filmes cheios de ação e bastante masculinizados. Outro ponto a favor dela, por quebrar questões de gênero ainda muito relevante em Hollywood. Elegante e bonita num discreto vestido, ela estava sentada à frente de seu ex-marido, James Cameron, que levou apenas três prêmios para seu blockbuster Avatar (efeitos especiais, direção de arte e fotografia).
Outros prêmios também aguardados foram a melhor animação para Up – Altas Aventuras e o melhor roteiro original para Mark Boal, jornalista estreante no cinema, que venceu por Guerra ao Terror. Surpresa mesmo foi o argentino O Segredo dos Seus Olhos levar melhor filme estrangeiro. Todos contavam com A Fita Branca como o melhor.
TARANTINO – Em seu melhor momento, o diretor Quentin Tarantino foi ofuscado por Guerra ao Terror. Diretor sempre ignorado pela Academia, ele finalmente foi reconhecida por sua auto-intitulada obra-prima, Bastardos Inglórios. No final, acabou levando apenas melhor ator coadjuvante, para Christoph Waltz.
O que se lamenta é que, mesmo que se, no futuro distante (e incerto), Tarantino levar um Oscar, não será por um filme tão representativo de sua carreira e tido pelo próprio como seu trabalho mais autoral.
A FESTA NA TV – Tentando se aproximar ainda mais do público que movimenta a engrenagem do cinema no mundo, o que se viu nesse domingo foi um Oscar cheio de concessões ao pop. A começar pela quantidade de astros teen entre os apresentadores e mesmo no tapete vermelho. Taylor Lautner, Kristen Stewart, Zac Efron, sem falar nas indicadas Carey Mulligan e Anna Kendric, mostraram que a Academia tenta renovar a lista de astros de seu panteão.
Nos clipes já conhecidos, mais cultura pop: homenagem a John Hugues, morto ano passado e um especial com os filmes de horror, um gênero sempre ignorado pela Academia. Só esqueceram de colocar Farrah Fawcet entre as menções póstumas deste ano.