Edição: Paulo Floro, Tulio Vasconcelos. Textos por Paulo Floro.
Há alguns anos, numa perspectiva da evolução das HQs no Brasil, discutíamos onde os quadrinhos poderiam chegar. Hoje, prêmios tradicionais como o Jabuti dão destaque ao meio (Jeremias – Pele, merecidamente, foi o vencedor desta edição). Também se falava muito de um “boom” da produção nacional, isso lá pelo iniciozinho dos anos 2010. Corta para esse 2019 bem diversificado, com artistas brasileiros experimentando na linguagem, narrativa e temas, sem falar da quantidade enorme de lançamentos, como se viu no Beco dos Artistas da CCXP. Victor Bello, Mário Cesar, Aline Zouvi e Helô D’Angelo são apenas alguns desses novos nomes que chegam com uma voz bem marcada. Mas o cenário autoral está cheio de trabalhos interessantes de artistas de diversos estilos!
Talvez essa “explosão” tenha se transformado em algo perene, o que é ótimo. Em mais um ano de retração no mercado editorial e um cenário político conturbado, o meio dos quadrinhos se mostrou novamente aquecido e vivo, ainda que distante de outros períodos mais efusivos. Todas as editoras, umas mais outras menos, aumentaram seus catálogos com títulos de diferentes gêneros e estilos. Isso mostra uma maturidade da cena, mas é bom frisar que ainda há muito a ser alcançado.
As HQs ainda aparecem como um meio artístico emergente e volta e meia identificamos a tentativa de enquadrar todo esta arte em um único nicho (“geek”, “nerd”, etc). Outro aspecto que denota essa disparidade em relação a outras expressões artísticas é a falta de uma política pública pensada para a área, o que se reflete na ausência de linhas de ação específicas para quadrinhos em muitos editais de incentivo à cultura. Quais os espaços de debate sobre essas políticas que são essenciais em qualquer meio artístico? Talvez seja a hora de pensarmos, cada vez mais, nas HQs como uma atividade da economia criativa, de modo a criar um ambiente saudável para artistas e profissionais. O mesmo vale para o pensamento crítico e a cobertura especializada, essencial para discutir novos rumos, debater a relevância da produção atual e também auxiliar o público na busca de informações de qualidade. Que ótimo ver a volta da Plaf e a chegada da Banda, revista que também tem como proposta discutir a produção de quadrinhos. Vale a pena ler esse texto de Ramon Vitral sobre a importância de um ambiente crítico e independente na imprensa que cobre essa área. É hora também de enaltecer e dar mais apoio aos coletivos de críticos e estudiosos. Este ano, o Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos da USP alcançou novo recorde de inscritos, tornando-se o maior evento acadêmico da área na América Latina.
2019 serviu para reforçar a importância dos quadrinhos em desvelar aspectos de nossa história, que ganham novos contornos quando trazidos para a narrativa sequencial. Depois de clássicos em anos anteriores como Holandeses de André Toral e Angola Janga, de Marcelo D’Salete, este ano tivemos O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos, que traz adaptações de arquivos do DOPS para as HQs.
E também foi o ano da chegada de cânones dos quadrinhos mundiais em edições nacionais, caso de Minha Coisa Favorita é Monstro, de Emil Ferris, O Homem Sem Talento, de Yoshiharu Tsuge e Intrusos, de Adrian Tomine.
A nossa lista de melhores quadrinhos do ano tenta refletir todas essas transformações e também dar conta das inúmeras possibilidades criativas que os quadrinhos proporcionam. Unimos brasileiros e gringos em um mesmo bolo para também reforçar a relevância artística dos artistas locais. E por fim, vale lembrar: listas são olhares subjetivos. Um recorte. Ainda que nosso site tenha as HQs como uma das coberturas mais importantes, é difícil abarcar tudo. Mas sentimos que a lista dá um apanhado bem interessante dos quadrinhos lançados no país em 2019.
Pra finalizar, um merchan rapidinho: a Plaf está de volta e lançou este ano o terceiro número, com capa de Aline Lemos e HQs de Jota Mendes e Luiz Gê. E em 2020 tem muito mais novidades, fiquem ligados!
Simbora pra lista!
Leia Mais
As melhores músicas de 2019
30
Tira, de Berta V, Eduardo Nascimento e Nathalia Fonseca
Independente
Financiado por um edital de jornalismo investigativo, a HQ traz três histórias reais de mulheres que fizeram o aborto e que tiveram suas vidas transformadas. A HQ tem como sua maior força humanizar o que, em geral, é tratado apenas como estatística. O aborto clandestino é uma violência contra a mulher. As histórias relatam casos de assédio por parte dos médicos que realizaram os procedimentos abortivos, o descaso dos genitores e as péssimas condições das clínicas ilegais do Recife. O roteiro da HQ é ágil e tem boas saídas para entrecortar as histórias. Nathália e Eduardo também conseguem destacar o lado psicológico dessas mulheres, que passam a lidar com a culpa e com todos os problemas ligados àquela decisão. | Leia Online.
29
I Am A Hero Vol. 7, de Kengo Hanazawa
Planet Manga / Panini; Tradução de Lídia Ivasa
I Am A Hero é um mangá de terror japonês que foge das convenções das histórias clássicas de zumbi. Enquanto o tema atinge a saturação com blockbusters como Walking Dead, a série de Hanazawa busca canalizar as angústias e paranoias da vida moderna em uma trama cheia de cenas impactantes e tensão crescente. | Compre.
28
São Francisco, de Gabriela Güllich e João Velozo
Independente
De Belém do São Francisco, cidade pernambucana banhada pelo Velho Chico, cruzando todo o estado de Pernambuco e chegando a Monteiro, na Paraíba, a dupla percorreu mais de 1.000 quilômetros durante mais de 15 dias para retratar de maneira aprofundada todas as contradições, histórias e perspectivas envolvendo o São Francisco e as populações de seu entorno. O projeto aborda três aspectos: água, seca e obra, temas que são um tripé essencial para compreender a importância que o rio tem para o Nordeste. Leia nossa entrevista com Gabriela Güllich. | Compre: Twitter da autora.
27
Bendita Cura #2, de Mario César
Entre Quadros
Finalista do Prêmio Jabuti na categoria de quadrinhos, a série Bendita Cura escancara as violências em nome da religião. Submetido a tratamentos de “reversão sexual” para tratar da homossexualidade, o jovem Acácio é uma vítima da homofobia no Brasil. O gibi de César tem doses altas de emotividade, carregadas por uma narrativa muito fluida e desenhos realistas, que ganham contornos dramáticos pela colorização bicolor de azul e rosa. Leia a entrevista com Mário César. | Compre: Amazon / Mario.Net.
26
Luz Que Fenece, de Barbara Baldi
Pipoca e Nanquim; Tradução de Julio Schneider
Um dos nomes mais interessantes da cena italiana de quadrinhos atual, Barbara Baldi trouxe lirismo e tensão nessa sua obra que ganha o leitor pela imersão e clima. Inspirada em romances vitorianos, a autora mostra a vida de duas irmãs que são afetadas drasticamente após a morte da avó matriarca da família. Com uma trajetória construída com fluidez, a HQ leva a reflexões sobre resiliência, melancolia e superação. | Compre.
25
Pão Francês, de Aline Zouvi
Ed. Incompleta
Aline Zouvi é uma das vozes mais importantes do novo quadrinho brasileiro. Nesta nova HQ, ela usou seu traço realista e bem-humorado para ilustrar suas experiências pessoais na França. Interessada pela cultura francesa desde a adolescência e, posteriormente, professora do idioma, Zouvi aproveita duas viagens a Estrasburgo para vivenciar os hábitos locais e desenhar o dia a dia comum, descobrindo lugares, músicas, receitinhas e ponderando sobre a nossa relação com “o diferente”. | Compre: Ed. Incompleta.
24
Polinização, de Cavani Rosas e Julio Cavani
Cepe HQ / Cepe
Na nova HQ de Cavani Rosas (feita em parceira com seu filho, o escritor e cineasta Julio Cavani), os habitantes da fictícia Deep River lutam pelo direito de consumirem o pólen, um alucinógeno extraído de uma planta cultivada clandestinamente. A obra traz personagens antropomórficos para falar de temas bastante atuais como resistência política, legalização de drogas, liberdade de expressão e até golpe de estado. Ainda assim, apesar dos paralelos, a HQ tem uma força criativa bem livre e atemporal, o que leva a debates sobre liberdade, independentemente da época e lugar. O traço de Cavani, desenhados à bico de pena, são estonteantes e é muito bom ver o autor – na ativa desde os anos 1970 – lançar sua primeira obra em formato livro. | Compre: Cepe.
23
A Morte de Thor, de Jason Aaron e Russell Dauterman
Panini Comics; Tradução Jotapê Martins
Já foi dito diversas vezes que editoras mainstream de quadrinhos vivem correndo em volta do próprio rabo quando o assunto é narrativa de super-heróis. Por isso vale exaltar obras que vão em um caminho contrário, caso dessa série A Morte de Thor. Além de chacoalhar as estruturas basilares de um personagem clássico, o gibi ainda aposta em uma narrativa que utiliza com maestria elementos do gênero ação e aventura. De quebra, ainda provou que é possível correr riscos na grande indústria (e também que Jane é uma personagem incrível). | Compre.
22
Tina – Respeito, de Fefê Torquato
Maurício de Sousa Produções / Panini Comics
Criada em 1970, a personagem Tina, de Maurício de Sousa, sempre apareceu como uma representante da juventude dentro do universo da Turma da Mônica e também canalizava questões femininas. Agora, na sua primeira HQ dentro da coleção Graphic MSP (que reinterpreta de maneira autoral histórias da Turma), a personagem representa um tema urgente e necessário, o assédio sexual. Fefê Torquato coloca Tina como uma jornalista em início de carreira tendo que lidar com as pressões do amadurecimento ao mesmo tempo em que enfrenta um chefe assediador. O traço em aquarela embala uma trama coesa que trata o tema com a sensibilidade necessária. Uma das melhores edições da coleção. | Compre.
21
Dora e a Gata, de Helô D’Angelo
Independente
Helô D’Angelo é mais um nome importante do quadrinho autoral que faz a transição das redes sociais para o impresso. Com um trabalho consistente e regular online, a autora trata de temas diversos, de política a relacionamentos abusivos. Neste seu primeiro álbum, a personagem-título embarca em uma jornada de autocuidado em parceria com sua gata como forma de superar um namorado possessivo e um trabalho angustiante. Os traços em aquarela e o uso das cores – marcas do trabalho de D’Angelo – ajudam a criar uma atmosfera de envolvimento na leitura. | Compre: Ugra Press.
20
Pluto Vol. 8, de Naoki Urasawa
Planet Manga / Panini
Este aclamado mangá de Naoki Urasawa reinventa uma das maiores criações do mangá de todos os tempos: Astro Boy, de Osamu Tezuka. Símbolo da cultura nipônica, o simpático robô Átomo combate crimes em uma sociedade futurista e se tornou referência para diversas narrativas do gênero. Na visão de Urasawa, a trama adquire contornos mais soturnos e o protagonista Gesicht – um robô da polícia europeia – investiga assassinatos. Este oitavo e último volume lançado este ano traz um ápice de ação e suspense que revitaliza uma das mais importantes obras do mangá. | Compre.
19
Floresta dos Medos, de Emily Carroll
Darkside Books; Tradução de Bruna Miranda
A cartunista e quadrinista canadense Emily Carroll é uma amante de obras clássicas de autores como os Irmãos Grimm. Essas histórias, que remontam às narrativas orais da Idade Média, possuem em sua essência um senso de proteção que comunicam, basicamente: o mundo é cheio de perigos. Mais do que exercitar uma experiência nostálgica com essas tramas, Carroll investe em boas saídas estéticas, uso de tipografias inusitadas como parte das cenas e uma atmosfera de suspense que ajudam a construir o estado de horror que permeia a obra. | Compre.
18
Jeanine, de Matthias Picard
Veneta; Tradução de Maria Clara Carneiro
A HQ biográfica Jeanine é um daqueles casos de histórias reais que são tão boas do ponto de vista narrativo-ficcional, que nem parecem verdade. O artista Matthias Picard tratou com leveza e sensibilidade a história da prostituta franco-argelina que dá nome à obra. Ela foi atleta premiada de natação, se envolveu em diversos assuntos políticos (entre eles a defesa de melhores condições de trabalho para profissionais do sexo), chegou a ir à ONU em defesa dos direitos das prostitutas, salvou duas crianças de um genocídio, foi presa e viveu um grande amor (seguida de uma forte desilusão). Revelando camadas de complexidade da protagonista, Picard nos entrega uma obra que traz um debate importante sobre igualdade de direitos e empatia. | Compre.
17
Cannabis – A Ilegalização da Maconha nos Estados Unidos, de Box Brown
Mino; Tradução de Diego Gerlach
A história da proibição da maconha em todo o mundo esconde muito do racismo e preconceito de classe contra negros, latinos e comunidades nativas. É isso que mais se destaca na HQ Cannabis – A Ilegalização da Maconha nos Estados Unidos, um misto de ensaio e documentário assinado por Box Brown, uma das principais vozes do quadrinho alternativo nos EUA hoje. A resenha completa aqui. | Compre.
16
A Mão do Pintor, de María Luque
Lote 42; Tradução de Mariana Sanchez
A Mão do Pintor mistura autobiografia familiar com fantasia. O tataravô de María, Teodosio Luque, foi um estudante de medicina enviado à Guerra do Paraguai. Para salvar o soldado e pintor Cándido López de um grave ferimento, ele teve de amputar uma de suas mãos. No livro, Cándido volta para pedir a María Luque que o ajude a finalizar uma série de pinturas relacionadas ao conflito. A artista visual e quadrinista María Luque é um dos nomes mais interessantes da cena autoral argentina e traz um olhar sensível sobre um dos conflitos mais sangrentos da história. Seu traço detalhista forma painéis carregados de emotividade e sua narrativa foge das convenções para contar uma história que busca novas perspectivas sobre o tema. Leia resenha completa. | Compre: Amazon / Tatuí.
15
O Alpinista, de Victor Bello
Escória Comix
O quadrinista Victor Bello nos ganha pelo choque, pelo espanto. Poucos trabalhos atuais tem uma visceralidade e um impacto visual como o seu. Escatologia, bizarrices, transtornos e um constante estado de tensão fazem parte de sua obra (entre seus trabalhos estão Úlcera Vórtex e Incontinência Tripária). O Alpinista é sua primeira narrativa longa e seu melhor gibi até aqui: narra as aventuras de Landoni, o maior alpinista de todos os tempos que tem uma morte trágica após uma missão de escalada que parecia impossível. Segue-se então uma trama de suspense em uma investigação que revela conspirações envolvendo políticos e aliens. | Compre: Ugra Press.
14
Solitário, de Chabouté
Pipoca e Nanquim; Tradução de Pedro Bouça
O francês Chabouté criou uma narrativa praticamente sem nenhum diálogo – a primeira fala aparece lá pela página 30. Essa habilidade, aparentemente simples, requer um domínio preciso da narrativa sequencial e da própria linguagem dos quadrinhos. O autor apostou em enquadramentos que fogem do óbvio para contar a história, além de tensão entre claro-escuro, que guiam a leitura e trazem informações importantes à trama. Essa proposta artística serviu bem à obra, que aborda a solidão e como ela nos afeta. | Compre.
13
Golias, de Tom Gauld
Todavia; Tradução de Hermano Freitas
A versão do quadrinista Tom Gauld para a história bíblica de Golias ganha tons melancólicos em uma história que é um libelo anti-violência, uma denúncia dos absurdos da guerra, mas também uma parábola para questões do mundo moderno. Com um traço bem simples e cores básicas, Gauld faz uso do minimalismo no modo de narrar e se vale de soluções visuais bastante criativas, que exploram elementos intrínsecos à linguagem dos quadrinhos. O modo como consegue uma síntese de sentimentos e reflexões com uma economia de texto e imagem é brilhante. Veja a resenha completa. | Compre.
12
David Boring, de Daniel Clowes
Nemo; Tradução de Jim Anotsu
Um dos nomes mais conhecidos dos quadrinhos autorais norte-americanos, Daniel Clowes é um cronista da falência do “american way of life”. Suas obras se apegam às falhas na aparente normalidade do cotidiano para compor tramas complexas sobre transtornos compulsivos, paranoia e medo. David Boring adiciona um outro aspecto ao trabalho do autor que é a narrativa de suspense e também o nonsense. Na HQ, um vigia de 19 anos obcecado por bundas e com sérios problemas com a mãe se vê metido em uma trama rocambolesca envolvendo assassinato e traições. Lançada em 2000, a obra apenas agora chega ao Brasil e é item indispensável na biblioteca de grandes obras de quadrinhos americanos alternativos. | Compre.
11
Aquele Verão, de Jullian Tamaki e Mariko Tamaki
Mino; Tradução de Dandara Palankof
Esta HQ chega ao Brasil cinco anos após ganhar os prêmios Eisner e Ignatz e de se tornar um fenômeno de vendas e público nos EUA. Feito pelas primas Mariko Tamaki e Jillian Tamaki, a obra traz uma sensível narrativa de duas amigas adolescentes durante as férias de verão no Canadá. Impresso em tons de azul, a obra retrata os dilemas do amadurecimento, as descobertas sobre a sexualidade e conflitos geracionais. Ainda que seja uma obra de ficção, a HQ faz parte da tradicional escola americana de obras de formação, a exemplo de Persépolis e Fun Home. | Compre.
10
Sob o Solo, de Bianca Pinheiro e Greg Stella
Pipoca e Nanquim
Dois soldados – um deles ferido – descem a um bunker durante um conflito. Naquele espaço diminuto, um rato representa o perigo e a derrocada da dupla. Este é o mote de Sob O Solo, de Bianca Pinheiro e Greg Stella, uma HQ existencialista sobre a fragilidade do ser humano e sua relação com a morte. A dupla mostra bastante domínio da linguagem dos quadrinhos em uma HQ toda trabalhada no minimalismo (os personagens são desenhados como aqueles bonecos de palitinho). Esse recurso trouxe ainda mais dramaticidade à história e levou o leitor para dentro daquela clausura. | Compre.
09
Viagem em Volta de Uma Ervilha, de Sofia Nestrovski e Deborah Salles
Veneta
Esta HQ de Sofia Nestrovski e Deborah Salles mostra como os quadrinhos conseguem carregar poeticidade para narrativas mais experimentais. Alargando fronteiras do próprio meio, as autoras propõem aqui um ensaio visual que se aproxima ora da literatura ora das artes plásticas. Ao mesmo tempo é uma história em quadrinhos com tudo que requer o gênero. O uso criativo de elementos do meio – profundidade, desenhos, ambientação, tipografia – aliados ao lirismo do texto servem para contar a história de Sofia e sua gata, a Princesa Ervilha. | Compre.
08
Eu Matei Adolf Hitler, de Jason
Mino; Tradução de Dandara Palankof
Conhecido por seus personagens antropomorfizados, o norueguês Jason também é conhecido pelo formalismo com que constrói suas narrativas: número fixo de quadros, raros diálogos ou recordatórios. Essa narrativa visual mostra o interesse do autor em explorar as possibilidades do meio. Eu Matei Adolf Hitler é uma das duas melhores obras (venceu dois Eisner) e é uma mistura de ficção científica de viagens no tempo com romance. Na trama, um matador de aluguel precisa viajar no tempo, matar o líder nazista e, assim, impedir o Holocausto. Só que esse trabalho temporal vai afetar a sua vida amorosa. Esta é a segunda obra do autor por aqui (a anterior foi a ótima Sshhh!, em 2017). | Compre.
07
Intrusos, de Adrian Tomine
Nemo; Tradução de Érico Assis
Um dos nomes mais celebrados da HQ autoral norte-americana, Adrian Tomine tornou-se best-seller do New York Times com suas narrativas sobre dilemas da classe média americana. Intrusos é a primeira HQ longa do autor a chegar ao Brasil e traz uma coletânea de histórias aparentemente distintas sobre indivíduos bem diferentes: um pai em crise com a filha que sonha em ser comediante de stand-up; um torcedor de futebol que é violento com a namorada; um veterano que tem dificuldade em se desapegar de seu antigo apartamento, uma universitária que é confundida com uma atriz pornô famosa, uma mãe que escreve ao filho sobre sua vinda aos EUA e um homem que investe na prática do “hortescultura”. Com uma arte minimalista e bastante realismo, Tomine costura suas histórias a partir das nossas necessidades (e dificuldades) de interação. Lançado originalmente em 2015 e já considerado um clássico pela crítica especializada norte-americana, o livro finalmente ganha uma edição brasileira. | Compre.
06
Spinning, de Tillie Walden
Veneta; Tradução de Gabriela Franco
Spinning, a HQ ganhadora do prêmio Eisner 2018 na categoria de livros baseados na realidade, traz uma bem construída narrativa de amadurecimento. Usando elementos criativos para compor a história, a autora aposta em composições mais experimentais para refletir os estados de ânimo da protagonista. Assinada pela jovem revelação Tillie Walden, a obra trata das memórias da autora em uma saga sobre desafios da adolescência. Tillie Walden é um dos nomes mais importantes da nova geração de quadrinistas dos Estados Unidos. Com apenas 23 anos, ela já publicou sete livros e ganhou diversos prêmios, entre os quais o Ignatz, o Broken Frontier e o Los Angeles Times Book Prize. Spinning fez dela a mais jovem ganhadora do prêmio Eisner, aos 22 anos. Leia matéria completa. | Compre.
05
Saga Vol. 09, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples
Devir; Tradução de Marquito Maia
O último volume de Saga finaliza uma das mais populares e aclamadas séries em quadrinhos norte-americanos. O autor Brian K. Vaughan e a desenhista Fiona Staples conseguiram criar familiaridade e envolvimento com os personagens em todos esses anos a ponto de transformar a obra em uma das principais referências de um quadrinho autoral dentro da indústria mainstream de gibis dos EUA. Saga é um novelão interplanetário com direito a diversas reviravoltas, dramas, mortes e perseguições. Sua força maior, no entanto, reside no modo como os autores conduzem a trama e a complexidade de seus personagens, que são bastante carismáticos. É um space opera com dilemas domésticos e muito sarcasmo. O último volume deixa a série em um hiato (Vaughan diz que retomará a história em algum momento) e leitores devastados com os acontecimentos finais. | Compre.
04
O Homem Sem Talento, de Yoshiharu Tsuge
Veneta; Tradução de Esther Sumi
Escrita e desenhada por Yoshiharu Tsuge, a obra conta a história de um mangaká que decide se opor às pressões do trabalho e faz de tudo para tornar sua vida uma ode ao fracasso. Ele passa a vender pedras retiradas de um rio perto de sua casa. Tsuge faz da história de fracasso do protagonista uma crítica à sociedade atual, mas com bastante humor e ironia. Pouco conhecido dos leitores ocidentais, Tsuge é celebrado pela crítica e bastante estudado. Nascido em Tóquio em 1937, Yoshiharu Tsuge é um dos mais importantes mangaká da história. Foi um pioneiro do estilo gekiga, de quadrinhos realistas para o público adulto, e publicou na influente revista japonesa de vanguarda Garo, nos anos 1960. Este seu livro traz uma narrativa autobiográfica com um nível de lirismo e narrativa poética ainda não alcançado por nenhum outro mangaká. Leia a matéria completa. | Compre: Amazon.
03
Minha Coisa Favorita é Monstro, de Emil Ferris
Quadrinhos da Cia / Companhia das Letras; Tradução de Érico Assis
Com o tumultuado cenário político da Chicago dos anos 1960 como pano de fundo, Minha Coisa Favorita é Monstro, de Emil Ferris, é narrado por Karen Reyes, uma garota de dez anos completamente alucinada por histórias de terror. No seu diário, todo feito em esferográfica, ela se desenha como uma jovem lobismoça e leva o leitor a uma incrível jornada pela iconografia dos filmes B de horror e das revistinhas de monstro. A obra ganhou o Eisner de melhor álbum do ano em 2017, o Fauve D’Or no Festival de Angoulême em 2019 e já é considerada um dos cânones das HQs autorais americanas pela sua inventividade na narrativa e por trazer novos parâmetros estéticos e linguísticos para o meio. | Compre: Amazon.
02
Luzes de Niterói, de Marcello Quintanilha
Veneta
Marcello Quintanilha buscou em suas memórias a inspiração para criar sua nova HQ, Luzes de Niterói. Estão presentes aqui reminiscências de sua infância em Niterói e lembranças de seu pai, Hélcio Carneiro Quintanilha, que era um promissor jogador de futebol em início de carreira. Quintanilha retorna novamente a dois universos que são centrais em sua obra: o cotidiano dos subúrbios fluminenses (presentes também no brilhante Talco de Vidro) e o futebol (tema de Fealdade de Fabiano Gorila, seu primeiro gibi). Mas o maior talento de Quintanilha — e que aqui aparece com força sobretudo na dinâmica dos dois personagens principais — é sua capacidade de criar personagens complexos, cheios de nuance. O autor é um dos melhores contadores de história dos quadrinhos brasileiros e este livro é talvez seu trabalho mais pessoal. | Compre: Amazon.
01
O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos, de Clarice Hoffmann/ Abel Alencar, Maurício Castro, Greg, Paulo do Amparo e Clara Moreira
Cepe HQ / Cepe
Há 15 anos, durante um trabalho de pesquisa para a realização de outro projeto, Clarice Hoffmann precisou consultar os arquivos do Dops, cujo acesso não era permitido. Ao contar à funcionária do Arquivo Público Jordão Emerenciano que a avó materna, Guta Gamer, judia de origem russa, havia sido fichada por ser artista de teatro, a arquivista mostrou a Clarice prontuários de várias pessoas como sua avó. O obscuro fichário rendeu quatro histórias, ambientadas nos anos de 1934 a 1958: A perseguição aos vermelhos, Josephine Strike – A mulher sem ossos, Grande Hotel, e Os cossacos e o tabu. Em algumas delas, os roteiristas escolheram transcrever textualmente parte dos documentos. A HQ – estreia do selo Cepe HQ – traz uma narrativa bastante inventiva dentro da linguagem das histórias em quadrinhos. O misto de ensaio, documentário e ficção faz dessa obra um trabalho complexo tanto na forma quanto na temática. Ao mesmo tempo em que traz novos olhares para um pedaço da história pouco explorado – a perseguição aos artistas pelo DOPS – o livro busca novas experiências estéticas para os quadrinhos. A HQ se vale ainda da diferença entre os estilos de seus artistas, cujos traços bastante distintos foram explorados para dar contornos e climas específicos às histórias. Uma obra que merece ser melhor descoberta. Compre: Cepe.