RE-DESCOBRIR OS INVISÍVEIS
Leitores brasileiros ganham, enfim uma edição à altura da importância da obra de Grant Morrison
Por Paulo Floro
OS INVISÍVEIS – REVOLUÇÃO 1
Grant Morrison (texto), Steve Yowell e Jill Thompson (arte)
[Pixel, 236 págs, R$ 45]
Repensar todos os mistérios acumulados em séculos da existência humana não é novidade há muito tempo. Grant Morrison, um dos mais importantes escritores de quadrinhos deste século (e do anterior), conseguiu criar a história definitiva de conspiração. Os Invisíveis – Revolução 1 chegou início deste mês às livrarias brasileiras pela editora Pixel.
A idéia de forças ocultas que dominam o pensamento e ações humanas é o mote da série, que chegou a ser a série número 1 do selo Vertigo, da DC Comics. Tudo pode acontecer nas páginas desta HQ, desde viagens no tempo até aparições místicas de demônios, sem esquecer, claro de alienígenas que invadem a Terra. A trama conta a história de uma célula anarquista que busca a evolução da humanidade. Isto é tudo o que é possível explicar nestas linhas. De resto, o prazer de desvendar o quadrinhos é a principal proposta de Os Invisíveis.
O gênio louco de Morrison tornou possível uma transcendência além-papel para a série. Ele é o primeiro a acreditar piamente em sua ficção, ou é isso que ele quer nos fazer acreditar. Já afirmou se tratar de sua obra “autobiográfica” e chegou a dizer que teve uma experiência de conhecer um outro estado de existência (como viajar a outra dimensão) antes de escrever o texto. Mas, para alguém que diz ser uma estudioso da Magia do Caos, tudo é possível.
Ler a série, sobretudo para quem nunca leu nenhum outro texto deste autor escocês pode ser perturbador. Centenas de referências se escondem em cada quadro, cada cena compele o leitor a se confrontar com o mundo em que vive. Existe um outro mundo além das percepções humanas, uma existência ao mesmo tempo mística e virtual. Foi por esta abordagem de um mundo obscurecido por forças dominantes que fez a série ser comparada a Trilogia Matrix, estrelada por Keanu Reeves e dirigida pelos irmãos Warchowski.
Nenhuma outra HQ rompeu tanto com parâmetros da indústria dos quadrinhos norte-americanos quanto Os Invisíveis. Até hoje, figura como referência primordial em todo tipo de experimentação nos quadrinhos. De todos os gênios da nona arte revelados nos anos 80, como Neil Gaiman, Frank Miller e Alan Moore, Morrison é o mais visionário de todos.
Para muitos, seus argumentos chegam a ser egocêntricos e herméticos, mas à ocasião do lançamento do primeiro volume de sua obra maior, disse que travava um diálogo com seus leitores para que eles “despertassem”, ou numa linguagem pop mais entendível, tomem a pílula azul.
Caos
Mais complicado do que entender os conceitos e idéias por trás de Os Invisíveis era tentar acompanhar a série no Brasil. Obra-prima de Grant Morrison, só agora ela ganha uma edição merecida. Lançado pela editora Brainstore, nunca teve peridiocidade definida, nem mesmo uma boa distribuição. A Pixel tenta agora lançar a série em encadernados com nova tradução e bom acabamento.
Chama a atenção também os extras que tentam contextualizar a série com suas diversas referências. Outro renomado escritor de HQs, Peter Miligham (Shade, X-Táticos) assina o prefácio e o jornalista Delfin fez um interessante posfácio do livro. Entre tantos acertos, o único deslize é o formato, menor que o original americano sem que isso significasse uma diminuição no preço. Lembrando que esta era uma das principais queixas que os leitores Vertigo faziam das edições da Devir.
Mas restam razões para comemorar o lançamento de uma das mais importantes obras de quadrinhos do século 20.
NOTA: 9,5