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Os Enforcados
Fernando Coimbra
BRA, 2024. 2h03. Suspense/Drama. Distribuição: Globo Filmes
Com Leandra Leal, Irandhir Santos
Após alguns trabalhos em Hollywood, com destaque para o filme Castelo de Areia (2017) e a direção de dois episódios da série Perry Mason, o cineasta Fernando Coimbra volta o foco da sua câmera ao Brasil. Desta vez, o diretor esmiúça a criminalidade “de alto padrão” no Rio de Janeiro: os ricaços chefões de jogo do bicho e suas intrigas por poder. Espécie de “filme de máfia carioca”, Os Enforcados é um estilizado olhar sobre as infectadas entranhas de um estado corrupto e violento.
O filme mostra a jornada do casal Regina (Leandra Leal) e Valério (Irandhir Santos) em busca da tomada de poder dos negócios ilícitos da família. Para alcançar tal objetivo, ambos decidem assassinar seu tio (Stepan Nercessian); os atos levam a narrativa a uma escalada de violência, traição e sangue, aos moldes do cinema coreano de Park Chan-Wook ou mesmo os filmes de Takashi Miike sobre a Yakuza. Claramente um exercício de estilo do diretor, a produção é certeira ao estabelecer o nível sempre altíssimo de suspense, com a sensação de que tudo vai explodir a qualquer momento.
Tecnicamente, Os Enforcados é um primor. O desenho de som vigoroso realça o desconforto no espectador desde as primeiras cenas (por exemplo, o modo como o barulho da obra na mansão do casal é potencializado para enaltecer o sentimento de aflição). Através da montagem extremamente dinâmica, Fernando Coimbra concebe planos interessantíssimos, demonstrando segurança e maturidade enquanto diretor. Há cenas mais longas, sem cortes, onde a coreografia dos corpos dos atores é notável e bem executada – e escapa de cair em um ritmo mecânico ou sem fluidez.
Todo o elenco é competente, mas Leandra Leal é, de longe, o grande destaque do filme. A atriz demonstra sutileza e intensidade ao construir uma personagem atordoada pela ânsia da riqueza. Entretanto, não consigo engolir facilmente o fato de sua personagem ainda carregar alguns estereótipos desnecessários: a mulher-louca, a que trai a confiança do marido, a chamada de burra. “Tua ignorância é a tua salvação”, diz o personagem de Irandhir Santos para ela, em determinada cena. E por mais que o terceiro ato dê protagonismo à personagem de Leal, sigo com a impressão incômoda de que há um machismo implícito nas entrelinhas do roteiro (incluindo uma cena de estupro que pode ser gatilho para muitas espectadoras).
Dito isto, Os Enforcados tem tudo para fazer um barulhão quando estrear oficialmente no circuito nacional. A previsão, segundo o diretor, é o primeiro trimestre de 2025, com data ainda a ser definida. As reações empolgadas à sessão première que ocorreu na última sexta-feira (4), no Festival do Rio, me levam a crer que o filme será um sucesso de público e de crítica.
Curioso perceber a escolha do título internacional para a obra: “Carnival is Over” (ou O Carnaval Acabou); é uma frase dita e repetida no filme, narrativamente faz sentido. Além disso, é uma inteligente escolha para atrair a atenção gringa. Tanto que a estreia mundial da produção aconteceu no TIFF 2024 (Festival de Toronto), no Canadá. Sem dúvidas, um filme com potencial para ter uma ótima carreira nos festivais mundo afora. Além do clichê do samba e das belas praias, o Rio de Janeiro tem outras, digamos, peculiaridades a serem abordadas na telona. Fernando Coimbra faz isso com arrojo.
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