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Encerramos nosso especial de Melhores do Ano com nossa tradicional lista de quadrinhos. Segue sendo o trabalho mais difícil, mas também o mais prazeroso para toda a equipe da Revista O Grito!.
Nos últimos anos, o mercado editorial de quadrinhos se diversificou, com diferentes propostas artísticas e temáticas, e ampliou o catálogo de obras relevantes de vários países que se encontravam inéditas por aqui.
Entre os títulos nacionais, o destaque vai para o olhar urgente sobre temas ainda em desenvolvimento, revelando a enorme contribuição dos artistas brasileiros em refletir sobre questões do nosso tempo.
A lista inclui títulos que saíram entre janeiro e dezembro de 2025. Porém, alguns títulos lançados após o dia 15/12 (quando a edição deste material foi iniciada) não foram apreciados. Após serem lidos, se for o caso, iremos inclui-los na edição do ano que vem.
Esperamos que a lista sirva como um panorama de opções instigantes, divertidas e interessantes de leituras de HQs. E vale destacar, evidentemente, que há MUITA coisa interessante que ficou de fora.
Boa leitura e excelente 2026!
Especial Melhores de 2025
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30
Tudo Apodrece, de Kainã Lacerda
Ugra Press
Usando a decomposição como eixo narrativo e simbólico, Kainã Lacerda lida com temas como sexualidade, fetiches e parafilias sem moralismo, tratando esses territórios como matéria estética e psicológica. Novo nome do quadrinho independente brasileiro, Lacerda constrói esse universo com um desenho que alterna precisão técnica e grotesco, dialogando diretamente com a tradição dos quadrinhos underground. Ao mesmo tempo, surgem momentos de afeto que tensionam a lógica da repulsa. Tudo Apodrece se destaca por atualizar o legado do alternativo, usando o choque não como fim, mas como ferramenta para pensar corpo, prazer e finitude no presente. | Compre.

29
O Ladrão de Livros, de Alessandro Tota e Pierre Van Hove
HQueria. Tradução de André Caramuru
Livros que têm o universo da arte como pano de fundo sempre são prazerosos de acompanhar. O Ladrão de Livros, de Alessandro Tota e Pierre Van Hove, acompanha Daniel Brodin, um escritor fracassado que sobrevive roubando livros raros na Paris dos anos 1950 e revendendo-os no circuito literário. A HQ usa esse personagem para desmontar, com ironia, o jogo de vaidades, prestígio e falsos gênios que movem o meio cultural. O roteiro trabalha a ambiguidade moral do protagonista sem transformá-lo em herói, enquanto o desenho de Van Hove alterna realismo e distorção para comentar os delírios de grandeza do próprio personagem. É um livro que fala menos sobre crime e mais sobre como se constrói – e se falsifica – reputação no mundo das artes. | Compre.

28
Replay – Memórias de uma família: Do criador de Prince of Persia, de Jordan Mechner
Conrad. Tradução de Mario C. Barroso
Replay – Memórias de uma família, de Jordan Mechner, mistura três tempos de uma mesma linhagem: o avô na Primeira Guerra Mundial, o pai fugindo do regime nazista e o próprio autor navegando sua carreira criativa após o sucesso de Prince of Persia, um dos jogos mais famosos de todos os tempos. A HQ costura essas narrativas com traços finos, cenários detalhistas e cores que ajudam a distinguir épocas e experiências sem perder o pulso emocional da história familiar. Mechner usa sua narrativa para confrontar como o passado molda escolhas, afetos e identidades, revelando camadas de memória, deslocamento e herança que ultrapassam gerações. | Compre.

27
Starman: David Bowie: A era Ziggy Stardust, de Reinhard Kleist
Hipotética. Tradução de Augusto Paim
O livro de Kleist é uma obra biográfica com um recorte temporal definido, mas que consegue ir além do formato tradicional esperado para este tipo de texto, graças à maneira como ele construiu a narrativa da HQ. Nela, o personagem inventado por Bowie, o visionário apocalíptico Ziggy, emerge da história não apenas como uma criação fictícia, mas como uma entidade viva, um alter-ego que se materializa e conduz a sua própria performance. Bowie e Ziggy atuam como se fossem parceiros agindo juntos, conquistando fãs e seguidores para ambos atingirem o estrelato e se tornarem famosos. Do ponto de vista artístico, essa escolha deu a Kleist a possibilidade de elaborar uma HQ que visualmente vai fundo no universo lisérgico e colorido de Ziggy e, ao mesmo tempo, recontar a trajetória mais real e menos onírica do próprio Bowie. Leia a resenha completa. | Compre.

26
Fóssil dos Sonhos: Todos os Contos de Satoshi Kon
Pipoca e Nanquim. Tradução de Drik Sada
Fóssil dos Sonhos – Todos os Contos de Satoshi Kon reúne histórias curtas que o autor japonês, morto em 2010, publicou no início da carreira, antes de se tornar conhecido no cinema. Já nesses trabalhos aparecem temas que depois marcariam clássicos como Perfect Blue e Paprika, entre eles a fricção entre realidade, sonho e imaginação. Os contos transitam entre o cotidiano, o absurdo e o horror, sempre interessados em como a mente dos personagens distorce o mundo ao redor. O livro também permite acompanhar a formação do estilo gráfico de Kon, que vai do mangá mais tradicional a composições visuais mais experimentais, apontando para a linguagem híbrida que ele desenvolveria mais tarde. A edição caprichada é um deleite visual que faz jus à importância de Kon. | Compre.

25
Vidrado, de Xavier Ramos
Selo Harvi
A história acompanha trabalhadores responsáveis pela montagem e manutenção de obras em um museu, seguindo a rotina de quem lida com caixas, vitrines, cabos e transporte de peças de arte. A trama se constrói a partir desse cotidiano técnico para discutir, em paralelo, o campo das ideias, dos conceitos e dos sentidos que cercam as obras expostas. Xavier Ramos usa esse contraste para investigar como o mundo prático e o simbólico se sustentam mutuamente dentro da arte. O traço solto e o ritmo fragmentado reforçam essa oscilação entre o trabalho físico e a abstração. Vidrado se destaca por deslocar o olhar do objeto artístico para quem o movimenta, revelando uma dimensão pouco vista no circuito cultural. | Compre.

24
Tabacaria, de Greg
Cepe
A obra transpõe para os quadrinhos o poema “Tabacaria”, de Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa), acompanhando um homem que observa a rua de Lisboa enquanto reflete sobre fracasso, desejo e a sensação de não pertencimento. A narrativa visual dá corpo aos versos, transformando imagens poéticas em cenas urbanas habitadas por personagens anônimos, mendigos, cães e transeuntes. Greg constrói essa adaptação a partir de um trabalho cuidadoso de pesquisa histórica, situando a ação na Lisboa das décadas de 1910 e 1920. O desenho a lápis, colorido digitalmente, cria um diálogo entre melancolia e observação cotidiana. Tabacaria se destaca por converter um dos poemas centrais de Fernando Pessoa em uma experiência gráfica que preserva o fluxo introspectivo do texto original. | Compre.

23
A Prisão no Céu, de Marco Kohinata
JBC. Tradução de Christielle Ogura
A Prisão no Céu, de Marco Kohinata, baseado na obra de Mina Sakurai, é um mangá que mistura memórias pessoais e reflexões sobre perda, identidade e pertencimento. A narrativa acompanha uma habilidosa cabeleireira em uma penitenciária feminina, que cumpre sua pena enquanto corta o cabelo de pessoas comuns todos os dias. Com delicadeza e um estilo sóbrio que foge de apelações narrativas, a obra explora como o passado se inscreve no presente de formas inesperadas. O traço de Kohinata trabalha com linhas suaves que convidam a uma introspecção, criando uma sensação de suspensão que combina com o título e o clima da história. | Compre.

22
Água até aqui: Histórias de luta, sobrevivência e recomeço na maior tragédia climática do Rio Grande do Sul: Volume 1, de Pablito Aguiar
Arquipélago e Sumaúma
Pablito Aguiar é um dos principais jornalistas em quadrinhos no Brasil hoje. Seu trabalho é conhecido por revelar histórias escondidas de pessoas comuns, sempre destacando as nuances e contextos de cada história e realçando a humanidade de cada entrevistado. Água até aqui reúne histórias de pessoas afetadas pela maior tragédia climática recente no Rio Grande do Sul, articulando luta, sobrevivência e recomeço sem recorrer a estereótipos. A HQ cruza relatos individuais com cenas coletivas de resistência, mostrando como a inundação reconfigurou paisagens, relações e modos de vida. O traço de Aguiar equilibra realismo documental e potência gráfica, ampliando a urgência dos acontecimentos sem diluir a complexidade das experiências. | Compre.

21
Happy Endings, de Lucie Bryon
Risco. Tradução de Érico Assis
Happy Endings, de Lucie Bryon, é uma HQ que explora relações humanas a partir de finais, nem sempre felizes, mas sempre significativos. A autora do hit Ladras tem mais um livro lançado no Brasil (ainda bem), onde constrói narrativas curtas em que a virada de cada história questiona expectativas e revela desejos, frustrações e vínculos de maneira concisa e sensível. O traço de Bryon, leve e expressivo, potencializa nuances emocionais, permitindo que pequenos gestos ou instantes comuniquem profundidade sem exposição excessiva. Ao revisitar o conceito de “final”, o livro problematiza o que consideramos encerramento ou começo, e dá ao leitor espaço para completar sentidos. | Compre.

20
Reckless: O Fantasma em Você (Vol. 4), de Ed Brubaker e Sean Phillips
Mino. Tradução de Dandara Palankof
Reckless: O Fantasma em Você (Vol. 4), de Ed Brubaker e Sean Phillips, segue em alta forma com seu suspense noir policial, que é nostálgico na medida certa. Neste volume, a investigação se entrelaça com os demônios internos dos personagens, ampliando a tensão entre passado e presente enquanto pistas e segredos se acumulam. Brubaker mantém sua escrita afiada e um enorme talento para criar diálogos, o que ajuda a dar ritmo e desenvolvimento psicológico. Não é por acaso que a série é tão longeva e tem um público fiel. Já a arte de Phillips usa sombras e composições oblíquas para reforçar o clima de paranoia. Sem falar que tem um tom dramático que é divertido e combina com a história. O resultado é uma narrativa que vai além do mistério central, aprofundando os vínculos e rachaduras entre os protagonistas e as consequências de suas escolhas. Se você nunca leu nada da série, nem se preocupe, pois cada volume pode ser apreciado independentemente. | Compre.

19
Você Precisa Saber de Mim, de Helena Cunha
nVersos
Passado no mesmo universo de Boa Sorte, livro que revelou o talento de Helena Cunha, esta HQ entrelaça memórias e confidências para explorar a construção de identidade e vínculos afetivos. Acompanhamos Érica, uma jovem que se vê obrigada a voltar à sua cidade natal para ajudar o pai doente. Apesar de existir amor entre eles, a barreira erguida parece maior do que antes. O modo como Cunha trata de temas como homofobia, insegurança, solidão LGBTQIA+ e a complicada relação familiar é feita com muita sensibilidade, sem apelos melodramáticos. | Compre.

18
Final Cut, de Charles Burns
Darkside. Tradução de Bruno Dorigatti
Final Cut, de Charles Burns, é uma HQ que retoma a atmosfera perturbadora e meticulosa que marca a obra do autor, navegando entre horror psicológico e imaginação distorcida (que te faz pensar “isso parece uma cena de Charles Burns)”. A narrativa mescla memórias, obsessões e imagens inquietantes em sequências que flutuam entre sonho e pesadelo, sem perder coesão narrativa. O traço cheio de contraste de Burns intensifica a sensação de irrealidade carregada de simbolismo e tensão, agora com referências ao universo do cinema e da ficção científica. A partir de uma lente pessoal, Burns aprofunda seus interesses estéticos inspirado, sobretudo, o terror B dos anos 1970. A juventude operando entre a desesperança e inquietação característicos da adolescência, outra de suas marcas, também se fazem presentes aqui. Um autor em seu auge. | Compre.

17
Kabuki: Verão, Outono, Inverno, Primavera, de Tiago Minamisawa e Guilherme Petreca
Pipoca e Nanquim
Kabuki: Verão, Outono, Inverno, Primavera, de Tiago Minamisawa e Guilherme Petreca, revisita o Japão feudal através de uma leitura sensível às estações da vida e às transformações internas de seus personagens. A narrativa desloca-se por quatro ciclos usando a alternância de tempo como estrutura para explorar temas de identidade queer, memória e renascimento. O traço de Petreca alia força e sutileza com um misto de realismo e abstrato que confere um tom quase etéreo à arte. O livro se destaca por propor uma interpretação do folclore japonês e aprofunda a parceria que os autores já fizeram no sucesso Shamisen: Canções do Mundo Flutuante (indicado ao Jabuti). | Compre.

16
Ficcionário, de Horacio Altuna
Risco
Ficcionário, de Horacio Altuna, reúne histórias centradas no personagem Beto Benedetti, um homem comum que navega por uma cidade marcada por corrupção e decadência moral. Publicadas originalmente de maneira seriada na revista 1984 em 1982, a obra se passa em um futuro distópico e serve de pano de fundo para falar de totalitarismo e controle social. Trata-se de um dos maiores clássicos do quadrinho argentino finalmente lançado no Brasil. A edição da Risco reúne ainda a HQ Imaginário, lançada em 1988 pela Dargaud na França e que aprofunda a temática da famosa série. Altuna usa esse jogo entre real e projetado para observar como as pessoas constroem versões de si mesmas para sobreviver. O desenho preciso e expressivo sustenta esse vaivém entre o que é vivido e o que é sonhado, fazendo dessa HQ um trabalho ainda bastante atual em um mundo que caminha perigosamente para os pesadelos distópicos retratados em obras como essa. | Compre.

15
Estive em Horroroso e Lembrei de Você, de Rafael Sica
Quadrinhos na Cia.
Horroroso, imaginado por Rafael Sica, é uma espécie de decalque de uma cidade que se imaginava grandiosa, mas que tornou-se um pesadelo pós-apocalíptico afundado em neurose e angústia, ocupada apenas por seus habitantes presos em suas funções já sem muito sentido. Com seu traço meticuloso e altamente detalhado, o livro é uma coleção de situações que revelam a falência de discursos como o empreendedorismo, a grandeza atávica do agronegócio e as relações tradicionais e ultrapassadas de família. Sica usa o sarcasmo para criticar situações absurdas do nosso cotidiano em um híbrido de charge, cartão-postal e ilustração conceitual. A força da obra está em como o humor seco e o desenho preciso desmontam, página a página, o imaginário de uma cidade que insiste em parecer funcional enquanto tudo ao redor já entrou em colapso. | Compre.

14
Gibi de Menininha 4 – Damas da Noite, de Camila Suzuki, Clarice França, Dane Taranha, Fabiana Signorini, Flávia Gasi, Germana Viana, Kátia Schittine, Mari Santos, Renata CB Lzz e Roberta Cirne
Zarabatana Books
A série Gibi de Menininha chega ao quarto volume com a voltagem altíssima. O título tira onda com a ideia de que a junção de terror e putaria só interessaria aos homens. As autoras já viajaram para diversos cenários e chegam aqui para explorar histórias sobre vampiras e lobismulheres. Há uma diversidade enorme de traços e propostas narrativas, mas todas se apoiam na falta de pudor e liberdade para criar enredos +18 com alta carga erótica e muita violência e tensão. É um espaço seguro para te colocar em contato com o lado mais perverso da fantasia e terror, sempre com doses de ironia e humor. | Compre.

13
Saga, Vol 12, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples
Devir. Tradução de Marquito Maia
Saga, a famosa série de Brian K. Vaughan e Fiona Staples, retoma a trajetória de Alana, Hazel e o legado de Marko em um momento em que a guerra volta a reorganizar forças e alianças na galáxia. A trama acompanha uma família em uma história familiar rocambolesca e interespacial. O volume aprofunda as consequências emocionais e políticas da saga, mostrando como escolhas íntimas reverberam em escala interplanetária. Tudo com o texto cheio de ironia de Vaughan, que conseguiu êxito em criar um universo novo, sem freios quanto ao absurdo de seus conceitos. Já o desenho de Staples, sempre alternando entre o sóbrio e o dramático, continua a expandir esse universo com personagens e cenários que articulam fantasia, violência e cotidiano, mantendo a série ancorada tanto no épico quanto no humano. | Compre.

12
Bossa Nova – Música Popular em Quadrinhos, de Laura Athayde, Helena Cunha,
Cora Ottoni, Alexandre S. Lourenço, Carol Ito, Juliana Russo, João Lin, Lielson Zeni e Samanta Flôor
Brasa
Reimaginar a música brasileira a partir da arte de quadrinistas brasileiros é um projeto editorial da editora Brasa que tem dado muito certo. Agora chegou a vez da bossa nova, um dos gêneros mais reconhecíveis do nosso legado musical. A partir de canções centrais como “Desafinado”, “Chega de Saudade” e “Águas de Março”, artistas como Carol Ito, Cora Ottoni e Helena Cunha trouxeram histórias originais que remetem às obras originais, mas sem obviedades. Cada HQ parte da letra ou do clima musical para construir uma trama própria, transformando ritmo, melodia e sentimento em narrativa visual. O livro funciona como um mosaico de interpretações, em que estilos gráficos e tons variados dialogam com a diversidade da própria bossa nova. Ao adaptar músicas tão conhecidas para o campo dos quadrinhos, a obra propõe novas leituras para um repertório já canonizado, mostrando como essas canções ainda podem gerar histórias, imagens e sentidos no presente. | Compre.

11
Garota à Beira-Mar, de Inio Asano
JBC. Tradução de Caio Pacheco
Neste novo trabalho de Inio Asano, acompanhamos dois adolescentes que iniciam uma relação sexual sem envolvimento emocional, usando esse acordo como forma de lidar com solidão, rejeição e falta de sentido. A trama se desenvolve a partir desse vínculo frágil, revelando como desejo, afeto e carência se misturam em um momento de formação pessoal. Asano constrói essa dinâmica sem romantização, tratando o sexo como algo muitas vezes mecânico e desconfortável. O desenho detalhado e os cenários urbanos e litorâneos criam um contraste entre espaços abertos e um interior emocional claustrofóbico. Garota à Beira-Mar se destaca por retratar a adolescência como um território de incerteza, dor e busca por identidade, evitando qualquer leitura idealizada desse período. Mais uma excelente obra (ainda que difícil pelo seu tom de desesperança) do autor de Boa Noite Punpun. | Compre.

10
Incidente em Antares, de Rafael Scavone, Olavo Costa e Mariane Gusmão
Quadrinhos na Cia
A história se passa em uma pequena cidade do sul do Brasil onde, durante uma greve geral, até os coveiros cruzam os braços e os mortos ficam sem poder ser enterrados. A partir desse impasse, cadáveres passam a circular pelas ruas de Antares, expondo segredos, hipocrisias e abusos de poder diante de toda a população. A adaptação de Rafael Scavone, Olavo Costa e Mariane Gusmão traduz para os quadrinhos a sátira política e o humor corrosivo do romance de Érico Verissimo, usando a visualidade para ampliar o impacto das cenas públicas de acusação e confronto. Incidente em Antares se destaca por transformar um clássico da literatura brasileira em uma narrativa gráfica que preserva sua crítica social e a atualiza por meio do ritmo e da força das imagens. As adaptações em quadrinhos estão retornando ao mercado editorial nos últimos anos e obras como essa mostram que o diálogo entre as duas mídias ainda pode render bons frutos. | Compre.

09
Guerra em Gaza, de Joe Sacco
Quadrinhos na Cia. Tradução de Érico Assis
Joe Sacco é um dos maiores nomes do jornalismo em quadrinhos e uma das vozes mais ativas em relação à guerra em Gaza. Autor de obras como Palestina, Sacco aborda o tema há mais de 20 anos. Esta nova HQ articula reportagem, comentário político e indignação pessoal para falar da absurda desproporção de Israel na Faixa de Gaza a partir de 2023, com um genocídio que deixou dezenas de milhares de mortos e uma infraestrutura praticamente colapsada. O autor parte de dados, imagens e discursos oficiais para expor a escala da violência contra a população civil e o papel das potências envolvidas no conflito (sobretudo os EUA). Sacco usa a sátira gráfica para confrontar líderes políticos e desmontar a linguagem da propaganda e da desinformação. Guerra em Gaza se insere na tradição do autor de jornalismo em quadrinhos, combinando apuração histórica e posicionamento ético para registrar um dos momentos mais brutais do conflito Israel–Palestina. | Compre.

08
Blackbird, de Pierre Maurel
Darkside. Tradução de Aline Zouvi
Uma homenagem à cultura fanzineira, a trama desta HQ se passa em um futuro próximo em que publicar revistas e zines sem autorização do Estado virou crime, transformando a cultura independente em atividade clandestina. A história acompanha um grupo de skatistas que edita um fanzine e passa a ser perseguido por isso, enquanto tenta manter viva a circulação de ideias fora do mercado controlado. O autor Pierre Maurel usa esse conflito para discutir censura, indústria cultural e as tensões entre criação autoral e consumo de massa. O desenho e a estrutura do livro dialogam diretamente com a estética dos próprios fanzines, reforçando a defesa de uma produção gráfica livre e descentralizada. Um comentário direto, mas afetuoso, sobre liberdade de expressão no presente. | Compre.

07
O Corpo de Cristo, de Bea Lema
Comix Zone. Tradução de Fernando Paz
Uma trama sensível sobre saúde mental, O Corpo de Cristo acompanha Vera desde a infância, quando a doença da mãe é interpretada como possessão demoníaca e tratada entre exorcismos, silêncio forçado e medo doméstico. A trama revela como esse ambiente molda a relação entre mãe e filha, atravessada por cuidado, violência simbólica e dependência afetiva. Bea Lema transforma essa experiência íntima em um retrato mais amplo de uma mulher aprisionada por papéis familiares e por uma cultura católica e patriarcal. O uso experimental de bordados misturados a um desenho que mistura delicadeza e estranhamento amplia o impacto emocional do livro. | Compre.

06
Eu Sou o Seu Silêncio, de Jordi Lafebre
Pipoca e Nanquim. Tradução de Fernando Paz
Eu Sou o Seu Silêncio acompanha Eva Rojas, uma psiquiatra brilhante e autodestrutiva que se torna a principal suspeita de um assassinato dentro de uma família bilionária de Barcelona. Para provar sua inocência, ela passa a investigar o crime por conta própria, guiada por vozes de mulheres mortas que a acompanham ao longo do caminho. O artista catalão Jordi Lafebre, um hitmaker do quadrinho europeu, estrutura a história como um thriller cheio de desvios e revelações, combinando humor, suspense e comentário psicológico. O desenho claro e dinâmico sustenta o ritmo da investigação, enquanto a protagonista tem carisma para conquistar o leitor logo de cara. | Compre.

05
Boca de Siri, de Paulo Moreira
Pitaya
Os gibis de Paulo Moreira trazem esse quentinho no coração e são difíceis de traduzir em palavras a capacidade do autor em criar personagens tão palpáveis e reconhecíveis (ainda mais se você for nordestino como a gente). A trama deste novo trabalho acompanha Ygo, Vitória e Duda atravessando João Pessoa de bicicleta para tentar ver o lendário Guaiamum Gigante, que estaria surgindo na orla para impedir uma obra de alargamento da praia. A história mistura boato, aventura e comentário ambiental, transformando um conflito urbano em uma corrida contra o tempo entre adolescentes, prefeitura e um crustáceo colossal (!). Moreira constrói esse percurso com humor afiado e um olhar atento para a relação entre cidade, memória e natureza. O desenho e o ritmo narrativo dão corpo a uma João Pessoa viva, atravessada por bicicletas, mangues e disputas políticas. Boca de Siri se destaca por usar a ficção fantástica para falar de ecologia, pertencimento e espaço urbano sem perder leveza nem inventividade. | Compre.

04
Reflexos do Mundo: Trabalhar e Viver, de Fabien Toulmé
Nemo. Tradução de Bruno Ferreira Castro
O novo volume da série Reflexos do Mundo traz reportagens em quadrinhos feitas por Fabien Toulmé nos Estados Unidos, na Coreia do Sul e nas Ilhas Comores, acompanhando trabalhadores impactados por jornadas exaustivas, demissões, uberização e promessas vazias de empreendedorismo. Cada história parte de experiências concretas para mostrar como o trabalho atravessa corpo, tempo e vida pessoal. Toulmé combina entrevistas, dados e observação direta para construir um retrato múltiplo das transformações recentes do mundo laboral. O desenho simples reforça a dimensão humana dos relatos, mantendo o foco nos personagens e não nos números. Reflexos do Mundo: Trabalhar e Viver se destaca por usar o jornalismo em quadrinhos para investigar como as novas formas de emprego moldam – e frequentemente corroem – as formas de existir. | Compre.

03
Ouroboros, de Luckas Iohanathan
Comix Zone
Após um episódio traumático, um policial decide voltar ao lugar onde cresceu, acreditando que o afastamento pode lhe oferecer algum tipo de recomeço. A narrativa acompanha esse retorno forçado, no qual memórias de abandono e uma relação violenta com a mãe reaparecem como algo impossível de evitar. Luckas Iohanathan, um dos nomes mais celebrados do quadrinho brasileiro contemporâneo, constrói a história como um ciclo que se fecha sobre si mesmo, em que tentativa de fuga e repetição caminham juntas. A paleta fria e o traço preciso reforçam o peso emocional dessa jornada. Ouroboros se destaca por tratar o trauma não como passado superado, mas como uma herança que molda escolhas, gestos e destinos. | Compre.

02
Segue o Baile, de Magô Pool
Veneta
Uma noite que deveria ser de celebração vira um cerco quando Renan e os amigos são abordados pela polícia a caminho de um baile funk. A trama se desenrola a partir dessa batida, transmitida ao vivo por um influenciador, expondo em tempo real a violência e o racismo que atravessam a vida de jovens negros da periferia. Magô Pool estrutura o livro como um registro quase documental, em que cada página carrega a tensão de quem sabe que qualquer gesto pode ser interpretado como ameaça. O desenho de linhas duras e enquadramentos fechados reforça o clima de opressão. Segue o Baile se destaca por transformar uma situação cotidiana em denúncia direta sobre poder, controle e sobrevivência no Brasil urbano. Nada mais atual. | Compre.

01
Dormindo Entre Cadáveres, de Luís Moreira Gonçalves e Felipe Parucci
Comix Zone
No auge da pandemia, um médico português é enviado para trabalhar em um hospital de campanha na Amazônia, enfrentando a falta de recursos, o colapso do sistema de saúde e a rotina diária de mortes por Covid-19. A narrativa acompanha esses dias na linha de frente, mesclando procedimentos médicos, exaustão física e os conflitos burocráticos que o autor enfrenta ao ser pressionado por sua universidade de origem. Luis Moreira Gonçalves transforma sua própria experiência em relato, enquanto Felipe Parucci traduz o caos em um desenho áspero e direto. O livro constrói um retrato cru do que significou combater a pandemia em condições extremas. Dormindo Entre Cadáveres se destaca por registrar a tragédia não como estatística, mas como vivência marcada por medo, improviso e sobrevivência. No país dos esquecimentos, a obra é um documento importante de um passado recente que ainda diz muito sobre o Brasil de hoje. | Compre.


