Os 30 melhores quadrinhos de 2017

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Revisão histórica, aventura, política, experimentação, drama e humor: o cenário de quadrinhos brasileiro em 2017 foi um monte de coisas

Edição de Paulo Floro e Fernando de Albuquerque.

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Fazer essa lista de melhores quadrinhos lançados no Brasil é um dos maiores desafios editoriais aqui no site! A cada ano, a diversidade e tamanho do cenário tornam o trabalho mais difícil e instigante. 2017 não foi diferente: quanta coisa incrível saiu por aqui. Obras estrangeiras importantes que permaneciam inéditas, novos autores lançando trabalhos de forma independente, álbuns que levaram anos para serem produzidos, adaptações, coletâneas, zines e gibis experimentais, teve de tudo. E os autores seguiram explorando as possibilidades das linguagens dos quadrinhos e falando de temas urgentes a partir de traço e narrativa bastante autorais.

Um dos destaques do ano, e que repercutiu na boa diversidade de lançamentos, foi a chegada de novas editoras ao mercado, caso da Pipoca & Nanquim, Darkside Books, Todavia e o coletivo La Gougoutte, todos com HQs em nosso Top 30. A Pipoca & Nanquim aproveitou sua base de fãs cultivada com muita dedicação ao longo de anos para trazer livros com acabamentos estilosos, bem cuidados, feito de colecionador para colecionador. Lançaram de Alan Moore a Esteban Maroto. Já a Todavia chegou com uma curadoria bem cuidada e estreou com uma obra aclamada de Kim Deitch e muito esperada por aqui. A Darkside Books reeditou Black Hole, clássico de Charles Burns, em volume único, além de HQ de Stephen King.

Como uma menção honrosa ainda vale destacar a chegada da Baiacu, editada por Laerte Coutinho e Angeli (que voltam a trabalhar juntos em uma publicação após fazerem história com a Chiclete com Banana, nos anos 1980). A revista reuniu trabalhos de Powerpaola, Rafael Sica, Fábio Zimbres, entre outros, e contou ainda com uma residência artística. Falando em revista, este ano também tivemos a estreia da Plaf, publicação jornalista aqui d’O Grito! e que trouxe em seu primeiro número HQs de Lu Cafaggi, Raoni Assis, Renata Rinaldi, além de ensaios sobre quadrinhos LGBTQ e entrevista com André Dahmer. Tivemos também a Série Postal, editado por Ramon Vitral, onde artistas desenvolveram uma história em um cartão postal. Vale a pena dar uma olhada na coleção completa.

2017 foi também o ano em que o prêmio Jabuti finalmente reconheceu os quadrinhos como uma expressão do mercado de livros após uma campanha para a inclusão da categoria de HQs. Castanha do Pará, de Gidalti Jr. foi o grande vencedor. Antes de começar o Top 30 temos que lembrar que esse foi um ano incrível para as reedições (a maioria em edições luxuosas caríssimas, infelizmente). Mas é incrível poder ter na coleção a passagem de Brian Michael Bendis em Demolidor, novas impressões de Terra X, a nova edição de Akira e Ghost in the Shell, da JBC, Lobo Solitário pela Panini, entre outras preciosidades.

Agora vamos ao Top 30. Consideramos apenas álbuns lançados no Brasil, sejam eles coletâneas de trabalhos publicados em outro meio ou que tenham saído diretamente em edição própria. Valem HQs online e impressas.

Vale aqui uma ressalva: dado o grande volume de lançamentos em meados de dezembro não foi possível dar conta de obras que consideramos importantes e que, possivelmente, poderiam ter entrado na lista de melhores. Caso de O Maestro, o Cuco e a Lenda, de Wagner Willian, Síncope, de Aline Zouvi, Alho-Poró, de Bianca Pinheiro e Já Era, de Felipe Parucci. Por conta disso, esses álbuns serão considerados na lista de melhores do ano que vem após serem devidamente resenhados aqui no site.

Com vocês, os melhores gibis lançados em 2017.

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Fragmentos do Horror, de Junji Ito [Darkside Books]

Junji Ito é um dos maiores nomes do horror em quadrinhos e é parte de uma longa tradição de mangakás que tratam do gênero horror de forma perturbadora (Suehiro Maruo, Hideshi Hino, só pra citar alguns nomes). Só agora temos a obra de Ito por aqui. Esse livro traz uma coleção de histórias curtas que dão o tom delirante desse autor, que aposta no surrealismo e na mais profunda escatologia para confrontar o leitor com seus maiores medos e repulsas. É uma obra bela e angustiante, com desenhos inventivos que mexem com o cérebro e o estômago do leitor. Compre.

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Linha do Trem (tira online) e Linha do Trem – Best Of, de Raphael Salimena [Independente/Draco]

Cores fortes, discurso direto, assuntos próximos e urgentes são marca do estilo de Raphael Salimena, um dos mais prolíficos e populares autores de tiras do Brasil (você com certeza deve ter visto alguma tira ou charge em sua timeline ou grupo de WhatsApp em 2017). Suas sátiras e críticas sociais abarcam desde política até cultura pop, passando por usuários de Facebook, comentaristas de portal, personalidades da TV, até situações cotidianas. As tiras foram reunidas em livro pela primeira vez este ano pela editora Draco, mas podem ser lidas no site do autor e em seu Facebook. Compre | Acesse.

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Soco™ – Volume 1, de Gabriel Góes [Beleléu]

Gabriel Góes nos apresenta Billy Soco, uma mistura muito doida de Astro Boy seriados japoneses, desenhos animados como Meninas Superpoderosas, G.I. Joe e mais um monte de mistureba. Góes faz uma amálgama de toda a cultura pop que a geração dos anos 1990 cresceu consumindo e dá seu toque autoral com uma narrativa dinâmica e designs bastante inventivo. O gibi também inaugura uma nova e instigante fase da editora independente carioca, Beleléu. Compre aqui.

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Bar, de Benson Chin, Adriano Rampazzo, Thiado A.M.S., Shun Izumi e Breno Ferreira [Mino]

O coletivo Miolo Frito teve suas histórias reunidas em livro. De nossa resenha: O tipo de humor do Miolo Frito é ao mesmo tempo perturbador e catártico, pois se relaciona com o que temos de mais primal, com quase nenhum freio moral. É tipo um carinho em nossa fossa cerebral, aqueles pensamentos que fomos ensinados a suprimir. Tem também um tom nonsense, que é uma forma de lidar com o absurdo do cotidiano. O Brasil tem tradição nessa escatologia nos quadrinhos, com nomes como Marcatti e Lourenço Mutarelli. Mutarelli, inclusive, assina o prefácio do livro. “Gosto do que essas caras produzem porque é algo novo, ao mesmo tempo que é a resistência e manutenção do “underground”.

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Saga Vol. 5, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples [Devir]

Saga segue surpreendendo em manter o nível de sua narrativa em alta, com reviravoltas que fogem das apelações e com uma dose equilibrada de aventura e dramas familiares que tornam sua leitura viciante. O domínio que Brian K. Vaughan e Fiona Staples têm de seu próprio universo fazem dessa HQ uma das melhores histórias de ficção e fantasia dos quadrinhos de todos os tempos. Compre.

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Sshhhh!, de Jason [Mino]

Jason finalmente ganhou edição no Brasil. Um dos nomes mais celebrados dos quadrinhos autorais, o autor é conhecido por experimentar na linguagem dos quadrinhos, fazendo uso de um estilo minimalista para expressar a complexidade das relações humanas. Sshhhh!, com seus personagens antropozoomórficos, consegue explorar do riso à consternação sem usar balões ou recordatórios. É uma boa introdução ao trabalho desse artista dinamarquês, que demorou a chegar por aqui. Compre.

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Pantera Negra – Uma Nação Sob Nossos Pés Vol. 1, de Ta-Nehisi Coates e Brian Stelfreeze [Panini]

De nossa resenha: A chegada de Coates ao título do Pantera Negra deu uma dimensão mais importante ao personagem, que nasceu nos anos 1970 em meio às pressões por mais justiças sociais para pessoas negras. E tem toda a questão da representatividade de cor, o que é raro de se ver na indústria de quadrinhos. Esse primeiro volume reúne as quatro primeiras histórias do título Black Panther e traz ainda a primeira aparição do personagem T’Challa, em Fantastic Four 52. A trama mostra um dramático levante em Wakanda provocado por um grupo terrorista super-humano. Compre.

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Moby Dick, de Patrick Chabouté [Pipoca & Nanquim]

A adaptação de Chabouté para Moby Dick traz o desafio de conservar o texto original de Herman Melville. Escrito originalmente em 1851, a obra narra a obsessão de um homem em encontrar a maior criatura dos mares. O desafio de Chabouté foi trazer novos significados a essa obra já tão conhecida e ainda assim deixar claro sua autoralidade à HQ. Adaptar livros clássicos é sempre uma armadilha, mas o autor francês, até então inédito no Brasil, vence esses desafios. É uma obra que preserva a força do original e provoca impacto durante toda a leitura. Compre.

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Não Tenho Uma Arma, de Roger Vieira [Independente]

O ilustrador pernambucano Roger Vieira lançou esta HQ independente durante a CCXP Tour que aconteceu aqui no Recife e chamou atenção pela originalidade da história e como conseguiu criar empatia com os personagens em uma narrativa tão curta. A HQ mostra a história de uma mãe e seu filho que vivem isolados em uma floresta morando em um tanque de guerra adaptado como residência. É uma bonita HQ sobre relações familiares, amor e guerra. Esta é a estreia em álbum de Vieira, que é ilustrador e publica tiras e cartuns na internet. Compre.

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Rosa Vermelha, de Kate Evans [WMF Martins Fontes]

A escritora e desenhista Kate Evans deu vida ao pensamento de Rosa Luxemburgo, uma das maiores revolucionárias do século 20 e cuja filosofia segue influente até hoje – foi uma feminista pioneira e uma das teóricas mais importantes do marxismo. Mais do que apenas transpor a trajetória de Rosa em uma biografia tradicional, Evans buscou criar paineis bastante subjetivos para dar conta do pensamento da filósofa. Compre.

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Labirinto, de Thiago Souto [Mino]

Thiago Souto é uma das revelações do cenário atual de quadrinhos. Desde Mikrocosmos, passando por Time-Lapse (que entrou em nosso Top 30 ano passado) ele vem construindo um estilo onírico, surrealista, em que questiona noções de tempo e espaço para falar de temas existenciais. Em sua primeira narrativa longa ele explora o modus operandi de lembranças e sonhos para tratar de bullying, amadurecimento e laços amorosos. Uma saga dolorida e tocante sobre amadurecimento. Compre.

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Um Pequeno Assassinato, de Allan Moore e Óscar Zarate [Pipoca & Nanquim]

Alan Moore, criador de Watchmen e V de Vingança (só pra citar os mais conhecidos) se uniu ao artista expressionista Oscar Zárate para essa HQ que trata sobretudo da tênue fachada de normalidade que cerca nossas vidas. Acompanhamos a vida de Timothy Hole, um publicitário bem-sucedido que vê sua vida mudar ao aceitar um dos trabalhos mais importantes de sua carreira. Perseguido por uma misteriosa figura ele vê tudo ao seu redor mudar completamente . A HQ é uma das mais inventivas de Moore, ainda que seja uma das menos conhecidas de sua obra. Ganhou o Eisner em 1994 e chega agora em edição de luxo. Compre.

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O Bulevar dos Sonhos Partidos, de Kim Deitch com Simon Deitch [Todavia]

Estreia da editora Todavia essa HQ fala das obsessões que podem nos destruir e do mundo belo e cruel das animações. Da nossa resenha: “Autor de obras como Shadowland e Alias, The Cat, Deitch teve trabalhos publicados na RAW e outras revistas. Essa obra mostra a história da animação norte-americana, dos primeiros artistas a se arriscarem no gênero até o mundo pós-Disney, das superproduções milionárias e parques temáticos. O livro foca em Ted Mishkin, criador do personagem Waldo, grande sucesso dos anos 1930. Afundado na depressão e no álcool, Mishkin vive um conturbado caso de amor não correspondido e tem um terrível segredo: Waldo, sua maior criação, é na verdade um amigo imaginário doentio e psicótico e está disposto a arruinar sua vida. Compre.

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Condado de Essex, de Jeff Lemire [Mino]

Nessa HQ Jeff Lemire revisita suas raízes no condado de Essex, no Canadá, onde trata de temas como família, morte, luto e reconciliação. São três histórias que se entrelaçam, todas situadas no mesmo local. A obra é considerada o trabalho autoral mais importante do autor, que é conhecido por seu trabalho na DC (na série Sweet Tooth, que saiu pela Vertigo) e na Marvel (no título Surpreendentes X-Men). Lemire remete aos grandes romances americanos para compor uma obra de formação que trata dos duros rumos que a vida toma, quando as certezas caem por terra e é preciso criar carapaças para seguir adiante. Compre.

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Úlcera Vortex, de Victor Bello [Escória Comix]

A narrativa absurda de Victor Bello é uma das belezas dessa Úlcera Vortex, uma das maiores surpresas do cenário independente de quadrinhos este ano. Tem cientista doido, viagem interdimensional e até lagartixa hacker. A estética que remete aos zines alternativos torna ainda mais brilhante essa experiência experimental e original de Bello. Vale a pena conhecer mais sobre a Escória Comix, selo que lançou esta HQ e que aposta em narrativas sem filtros e freios como essa. Compre.

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Formigueiro, de Michael Deforge [Mino]

Demorou para Michael Deforge, um dos mais experimentais artistas dos quadrinhos, sair no Brasil. Neste primeiro álbum em HQ do autor canadense, ele segue uma ninhada de formigas que tentam manter sua civilização em meio a uma guerra. Com uma estética única nos quadrinhos, Deforge é pura estética e impacto, aliada a uma narrativa que foge do lugar-comum. Com isso temos uma obra com densidade, teor político e ousadias na linguagem como poucas. Que venham mais HQs do autor em 2018. Compre.

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Deslocamento, de Lucy Knisley [Nemo]

Da nossa resenha: Lucy Knisley tem uma narrativa cheia de detalhes, que misturam texto em prosa, quadrinhos, ilustração e manuscritos. Esse mix de estéticas dá um dinamismo à leitura e cria uma conexão forte. É um tipo de história que ganha ainda mais peso emocional pelo fato de ser contada na linguagem dos quadrinhos. As cenas em que precisa reconhecer a gravidade da senilidade de sua avó ou o fato de que seu avô não consegue fazer a própria higiene, são bem tocantes. A maior parte do livro vemos Lucy com um olhar complacente sobre eles, tentando compreendê-los, mas a jornada é também pessoal, com uma busca íntima, que a confronta sobre diversos temas. Compre.

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Holandeses, de André Toral [Veneta]

André Toral, nome celebrado dos quadrinhos nacionais desde Adeus, Chamigo Brasileiro, retorna em um álbum que revisita as bases da fundação do País, adicionando detalhes dramáticos sobre a invasão holandesa no Brasil do século 17. Com uma narrativa intrincada e com muita pesquisa histórica ele conta a saga de dois irmãos que chegam por aqui com objetivos distintos: enquanto um quer enriquecer com o comércio de escravo, o outro desafio o status quo para se embrenhar atrás de uma tribo perdida de Israel, que estaria vivendo entre os índios brasileiros. Compre.

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Diastrofismo Humano, de Gilbert Hernandez [Veneta]

Uma das maiores obras de quadrinhos de todos os tempos, a série Love & Rockets sempre teve uma publicação errática aqui no Brasil. A Veneta vem consertando isso com a coleção das histórias de Gilbert Hernandéz passadas na fictícia Palomar. Esse é um dos maiores clássicos das HQs americanas e questiona conceitos de modernidade, trata de memória, afetividade e relações humanas, tudo com personagens cheio de carisma e uma narrativa simples, mas certeira. Diastrofismo Humano tem o mesmo nível da anterior, Sopa de Lágrimas, que saiu no ano passado. Compre.

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Billie Holiday, de Carlos Sampayo e José Muñoz [Mino]

Da nossa resenha: Nesse gibi “jazzístico”, os autores costuram a história de vida da cantora a partir de uma investigação jornalística, 40 anos depois de sua morte. Na trama, um repórter começa a levantar informações sobre a cantora, o que nos leva a uma narrativa não-linear que perpassa diversas passagens de sua vida, desde seu começo nos clubes, passando pelo estrelato, o relacionamento conturbado com seus companheiros e o vício em drogas e álcool. O trabalho de Muñoz e Sampayo é tido até hoje como uma das melhores biografias da cantora e uma das que melhor traduziram seu legado artístico para a música. Compre.

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10
O Homem Que Passeia, de Jiro Taniguchi [Devir]

Oito passeios de um homem por sua cidade japonesa. Com essa premissa aparentemente simples, Jiro Taniguchi constrói uma obra cheia de sensibilidade e que transmite algo de sensorial para as páginas, destacando detalhes preciosos do cotidiano e enaltecendo a poesia das coisas banais. O estilo desse mangaká pede uma desaceleração desse mundo tão urgente e conturbado de hoje e isso já é um desafio e tanto. Taniguchi e seu passeiador questionam um dos maiores paradigmas do mundo moderno e com isso criam uma obra poderosa sobre a vida e o tempo. Compre.

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Meu Amigo Dahmer, de Derf Backderf [Darkside Books]

O que você faria ao ver seu amigo de escola estampando manchetes como um sanguinário serial killer? Tirando o véu da aparente normalidade das coisas, Derf Backderf fez uma obra sobre os dilemas morais que levam os seres humanos a irem ao extremo da sociabilidade. A HQ conta a história de Jeff Dahmer, amigo do autor, que tornou-se um dos maiores criminosos dos EUA, cujos crimes incluíam necrofilia, canibalismo e mais de 17 mortos. A obra foi premiada no Festival de Angoulême e birou filme. Compre.

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08
Sem Dó, de Luli Penna [Todavia]

A quadrinista paulistana Luli Penna escolheu a São Paulo dos anos 1920 para criar uma HQ cheia de memórias. Ela se baseou, em parte, nas histórias de suas tias, para criar uma obra forte sobre liberdade sexual, classes sociais e urbanidade. A narrativa traz paisagens que foram se transformando, como a Avenida Paulista de um século atrás, os bondes que já não andam mais pelas ruas e prédios e praças que ainda hoje são reconhecíveis. É um poderoso documento afetivo sobre a cidade e as pessoas e que levou mais de seis anos para ser finalizado. Compre.

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Beasts of Burden – Rituais Animais, de Evan Dorkin e Jill Thompson [Pipoca & Nanquim]

Remetendo às histórias de aventuras juvenis dos anos 1970-80, Evan Dorkin e Jill Thompson criaram essa adorável série de investigação sobrenatural, mas, para tornar tudo ainda mais interessante eles colocaram cães e gatos como protagonistas. Somos transportados para o subúrbio de Burden, onde a aparência de normalidade esconde acontecimentos bizarros de toda ordem, desde uma convenção de bruxas a lobisomens, passando por chuvas de rãs e um clã de ratos adoradores de uma voz misteriosa. A narrativa é simples, por vezes tenebrosa e o desenho de Jill Thompson, pintado à aquarela, dão origem a uma das mais belas HQs americanas. Compre.

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Boxe, de Alexandre S. Lourenço [La Gougotte]

No ano passado Alexandre S. Lourenço figurou em nossa lista com a aclamada Você É um Babaca, Bernardo. Agora ele retorna com uma HQ igualmente inventiva e com o mesmo estilo meticuloso de sua obra anterior. Desta vez somos apresentados a uma luta de boxe cheia de reviravoltas que desbanca para uma tocante história de pai e filho. É uma das histórias mais belas da HQ brasileira este ano e mostra o domínio de Lourenço para criar narrativas cheias de surpresas e cuja força criativa vem das sutilezas. O gibi marca a estreia do selo La Gougoutte. Compre.

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Mensur, de Rafael Coutinho [Companhia das Letras]

Uma luta de espadas do século 15 inspirou Rafael Coutinho em mais uma empreitada superproduzida das HQs. Ele levou sete anos para produzir a obra, que trata de temas como agressividade em seus mais diversos níveis, além de honra e moral. O traço de Coutinho está mais detalhado, minucioso e cheio de experimentações de narrativas e enquadramentos. As cenas de batalhas possuem dinamismo que parecem dar vida ao desenho, cheios de traços bruscos, incompletos, tremido. Já a trama possui muitas minúcias e reviravoltas. Um dos trabalhos mais impactantes da HQBR em muito tempo. Compre.

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Estudante de Medicina, de Cynthia B. [Veneta]

Estudante de medicina de uma das universidade mais prestigiadas do País, a quadrinista viveu por cinco anos o cotidiano de dissecar cadáveres, estudar doenças e remédios. Toda essa fase é contada nesta HQ autobiográfica que revelou ao grande público um dos nomes mais interessantes dos quadrinhos brasileiros, dona de um traço ímpar, expressivo, gritante. Relatando festas e bebedeiras, dilemas existenciais e seus relacionamentos, esse gibi conquista pela veracidade e vulnerabilidade com que a artista se coloca e também pelo domínio que ela tem de sua própria narrativa, arrancando riso e consternação ao longo de todo o livro. Compre.

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Paciência, de Daniel Clowes [Nemo]

Poder, vingança e viagens no tempo marcam essa ficção-científica de Daniel Clowes, hoje um dos maiores quadrinistas autorais norte-americanos (autor de Wilson e Ghost World). A trama nos mostra Jack Barlow, um homem obcecado em descobrir quem matou sua esposa e, para isso, ele decide viajar no tempo para impedir o assassinato de sua amada. Mas ele acaba descobrindo mais sobre ela e sobre si mesmo que mudará toda a sua vida. Com ironia e humor, Clowes criou uma obra de cores vibrantes cheia de inovações na narrativa e construção dos quadros, forçando seu próprio estilo ao limite. Um clássico. Compre.

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Aqui, de Richard McGuire [Companhia das Letras]

A partir de um canto de uma casa, o artista norte-americano Richard McGuire cria uma obra que perpassa milhares de ano, desde os primórdios da Terra até o futuro mais inóspitos, passando pelo cotidiano tranquilo de uma família de classe média nos anos 1990, passando pela família tradicional nos anos 1950 e 60 e até a construção da casa nos anos 00 do século passado. McGuire, como poucos, mostrou que a linguagem dos quadrinhos pode criar obras únicas, cuja força reside justamente nas possibilidades narrativas do meio. Um trabalho pioneiro cuja importância para as HQs ainda não foi totalmente compreendida. Compre.

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Angola Janga – Uma História de Palmares, de Marcelo D’Salete [Veneta]

Por séculos, a história dos negros no Brasil foi construída a partir das perspectivas do colonizador branco. Isso acabou perpetuando o paradigma da violência que dura até hoje. Marcelo D’Salete quebra com essa narrativa cruel ao contar, pela primeira vez, a história do Quilombo dos Palmares com o olhar e perspectiva dos negros. A obra foi produzida ao longo de 11 anos e trouxe informações importantes deste que é um dos maiores símbolos de resistência conta a opressão trazida pela escravidão. No traço e na narrativa, D’Salete nunca esteve tão sofisticado, apostando em diversos elementos que dão um tom de aventura e drama para a saga de Palmares.

Em entrevista à Plaf #2, D’Salete falou da importância em mudar o olhar de Palmares e do que isso significa para o Brasil de hoje. “Me interessam histórias que sejam significativas pra pensar nas possibilidades de um pensamento crítico sobre o que é ser negro e ser brasileiro nesse país. Esse imaginário do que é ser negro foi elaborado quase sempre por e para pessoas brancas. Se a gente for pensar no público negro lendo literatura, e especificamente literatura negra, isso é mais recente”, diz. ”

No entanto, hoje esse público pode influir no debate público, como aconteceu com a Flip. Considero imprescindível ter autores negros produzindo obras sobre universos negros e sobre outros grupos, não negros. Por outro lado, não criamos essas histórias em um campo neutro. Vamos precisar discutir e dialogar com outras pessoas, autores e leitores, sobre essas representações. E é fundamental que autores negros também façam parte desse debate.” A HQ saiu em uma bela edição da Veneta, com capa dura e muito material de apoio, incluindo glossário e mapas. Compre.

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