O ano de 2025 foi cheio de bons lançamentos nos cinemas brasileiros, com destaque para a produção nacional, que segue cada vez mais diversificada. Foi também um ano muito interessante para o cinema de gênero, com destaque para o terror.
E nessa retrospectiva não poderíamos deixar de comentar o sucesso de O Agente Secreto, que ultrapassou 1 milhão de espectadores e tornou-se o filme brasileiro mais visto este ano. Com dois prêmios em Cannes e uma campanha exitosa em busca do Oscar em 2025, o longa de Kléber Mendonça Filho é ótimo exemplo da boa safra de longas brasileiros, que alinham voz autoral marcante com inventividade e primor técnico.
Além dele, O Último Azul, de Gabriel Mascaro, também fez bonito em festivais e ganhou as salas de cinema com uma narrativa futurista sobre etarismo e amizade. E tem ainda a força do cinema iraniano de Jafar Panahi, o hit do terror com crítica ao racismo Pecadores, e excelentes documentários, como é o caso do filme sobre Luiz Melodia, e muito mais.
A lista de filmes dá início ao nosso especial de Melhores do Ano. Entram aqui apenas filmes lançados nos cinemas brasileiros (mesmo que em um circuito alternativo). Ou seja, longas que passaram apenas em mostras e festivais, não são elegíveis. Valem filmes lançados entre 18 de dezembro de 2024 e 11 de dezembro de 2025.
Boa leitura!

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A Hora do Mal, de Zach Gregger
Numa manhã qualquer, todas as crianças da turma da professora Gandy (Julia Garner) desaparecem no meio da noite, sem deixar pistas. Todas, menos uma. É a partir deste fato insólito que se desenvolve a trama de A Hora do Mal, um dos filmes mais comentados do ano e que utiliza elementos do terror clássico para subverter expectativas em uma narrativa circular que prende a atenção do espectador até um dos finais mais insanos no cinema este ano. – Paulo Floro.

24
Levado pelas Marés, de Jia Zhanghe
O renomado cineasta chinês percorre todos os seus trabalhos anteriores neste filme que funciona como mosaico sobre o destino romântico de sua eterna heroína, Qiaoqiao, e do seu próprio país. Mais uma vez, Zhangke registra as transformações sociais da China contemporânea, trazendo inclusive a perspectiva da profusão tecnológica nas interações sociais. – Alexandre Cunha.

23
Criaturas da Mente, de Marcelo Gomes
A partir de uma experiência pessoal, o cineasta Marcelo Gomes conheceu o neurocientista Sidarta Ribeiro, um nome relevante da ciência brasileira contemporânea. Desse encontro surgiu um filme que discute o sonho como elemento central para repensarmos os modos de vida da sociedade. A obra é um documento que nos abre perspectivas interessantes para a conduta de nossa existência. – Alexandre Figueirôa.

22
Extermínio: A Evolução, de Danny Boyle
Mais de 20 anos depois do primeiro filme da saga, Danny Boyle se reuniu com Alex Garland para dar vida à nova aventura apocalíptica. Interessantíssimo perceber como o cineasta insere inovações estéticas que, de algum modo, continuam conectadas ao formato da produção original de 2002. E um novo capítulo já está pronto para ser lançado em 2026: Extermínio – O Templo dos Ossos. – Alexandre Cunha.

21
Paterno, Marcelo Lordello
Embora com as filmagens sendo concluídas em 2017, só este ano o realizador pernambucano Marcelo Lordello conseguiu trazer seu filme para as telas. Segundo ele, o atraso de oito anos se deu sobretudo pelas atribulações políticas dos “desgovernos” Temer e Bolsonaro no Ministério da Cultura. A história de um homem dividido entre a ambição de herdar uma empreiteira e a dificuldade de lidar com o legado questionável do pai é um drama maduro com destaque para as excelentes interpretações de Marco Ricca e Thomás Aquino. – Alexandre Figueirôa.

20
Síndrome da Apatia, de Alexandros Avranas
Diretor grego da mesma safra de Yorgos Lanthimos, Avranas já foi muito criticado por pesar a mão em filmes como Miss Violence (2013) e Não Me Ame (2017). Com uma abordagem mais cautelosa e mesmo política, Síndrome da Apatia reflete sobre o impacto psicológico do exílio para pessoas refugiadas, especialmente as crianças. – Alexandre Cunha.

19
Seu Cavalcanti, de Leonardo Lacca
Tendo o seu avô como protagonista, o filme de Leonardo Lacca é uma criação híbrida mesclando documentário, ficção, encenação e efeitos visuais. Apesar da simplicidade da história de um nonagenário, Seu Cavalcanti é uma obra envolvente onde as imagens nos convidam a nos aproximarmos da intimidade de um homem cativante com suas pequenas excentricidades, seu humor leve e discreto e suas travessuras. É um filme em que o afeto se transforma em magia cinematográfica e poesia. – Alexandre Figueirôa.

18
Luiz Melodia, no Coração do Brasil, de Alessandra Dorgan
Muitos personagens da MPB ganharam nos últimos anos documentários significativos para a história cultural do país. No entanto, poucos atingiram a delicadeza e a espontaneidade desta obra que merece ser vista, pois retrata a vida de um dos maiores artistas brasileiros. Além da sua criatividade, Luiz Melodia foi sempre um defensor da liberdade musical e não teve medo de desafiar o mercado fonográfico. O filme é um belo tributo com entrevistas e imagens do artista em diversas fases de sua vida, encadeadas com suas apresentações musicais, que mostram o quanto ele era original e único. Lindo. – Alexandre Figueirôa.

17
O Que a Natureza Te Conta, de Hong Sang-soo
Com seu cinema de desaceleração, Sang-soo explora o dispositivo fílmico como poucos na atualidade. Aqui, ele repete a estratégia estética de retirar o foco da câmera, como o anterior Na Água (2023), o que causa estranheza em parcela dos espectadores cada vez mais acostumados a imagens impecáveis, em alta definição. Mas o filme é bem maior que sua mera característica estética. Há muita filosofia e ponderações sobre a vida durante seus 108 minutos. – Alexandre Cunha.

16
Baby, de Marcelo Caetano
Os encontros e desencontros de Baby (João Pedro Mariano) e Ronaldo (Ricardo Teodoro) na noite queer paulistana nos conduzem em uma jornada desesperada por afeto neste longa que tira sua força, sobretudo, da potência de seu elenco. Com personagens complexos e ambíguos, Marcelo Caetano consegue trazer humanidade a esses indivíduos marginais às voltas com um relacionamento conturbado enquanto tentam sobreviver no universo da prostituição e drogas. – Paulo Floro.

15
O Brutalista, de Brady Corbet
Apesar de ser um pouco longo e arrastado, o filme ganhador de vários prêmios – incluindo Oscar de Melhor Ator para Adrien Brody e de Melhor Fotografia, além de Melhor Filme Dramático no Globo de Ouro – é uma obra que merece ser conferida. Ele conta a história fictícia de um arquiteto que foge da Europa após a Segunda Guerra Mundial e vai para os Estados Unidos construir sua carreira. Um dos méritos do filme é mostrar como a arquitetura é uma arte cujas obras também refletem os sentimentos dos seus criadores. – Alexandre Figueirôa

14
Anora, de Sean Baker
Após vencer a Palma de Ouro em 2024 e o Oscar de melhor filme em 2025, o novo longa de Sean Baker consagrou-se como representante de um cinema independente dentro da lógica industrial hollywoodiana, além de colocar o nome de Baker como uma voz autoral relevante de sua geração. Assim como outros de seus filmes, Anora aborda personagens jovens navegando pelo lado feio do capitalismo enquanto lidam com questões afetivas e sociais. A narrativa eletrizante do filme, que é quase uma comédia física, deixa tudo bem divertido. – Paulo Floro.

13
The Mastermind, de Kelly Reichardt
Josh O’Connor é o pior ladrão de arte de todos os tempos neste filme de roubo de Kelly Reichardt. Como o título sugere, The Mastermind tem a ironia e o sarcasmo como base. É um trabalho primoroso que discute o valor da arte enquanto bem coletivo ao mesmo tempo em que empreende uma comédia de erros que é justamente o oposto da narrativa eletrizante e tensa de filmes de roubo. E tem tudo o que gostamos no trabalho de Reichardt: os planos contemplativos, as críticas sociais sutis e os personagens bem construídos – Paulo Floro.

12
Misericórdia, de Alain Guiraudie
Diretor conhecido pelas narrativas interessadas na investigação do desejo como força propulsora, Alain Guiraudie mais uma vez concebe um filme onde tensão e tesão faíscam por todos os lados. O grande trunfo de Misericórdia é brincar com o quanto de informação é entregue ao espectador, fazendo com que o público se mantenha no escuro em boa parte da projeção. Em um resumo reducionista, é quase um filme de Michael Haneke queer. – Alexandre Cunha.

11
Homem com H, de Esmir Filho
Ney Matogrosso é um artista ímpar da cena musical brasileira e um filme em sua homenagem é algo muito mais do que justo. As cinebiografias, porém, nem sempre dão certo, sobretudo quando tentam abarcar a vida completa do biografado. O diretor de Homem com H, Esmir Filho, felizmente, consegue pular este obstáculo e o resultado é um trabalho maduro e consistente, cujo valor deve ser creditado principalmente a interpretação do ator Jesuíta Barbosa que consegue levar para a tela o Ney transgressor, criativo e original que todos conhecemos muito bem. – Alexandre Figueirôa.

10
Oeste Outra Vez, de Erico Rassi
Através das peculiaridades estéticas comuns ao faroeste, Rassi compõe um belíssimo retrato da masculinidade e suas tolices. O cenário inóspito, atravessado de solidão, é construído plano a plano pelo diretor, cujo olhar é tão atencioso para a grandiosidade da Chapada dos Veadeiros (onde o filme foi rodado), quanto para os ambientes interiores – que refletem os sentimentos dos personagens. – Alexandre Cunha.

09
O Último Azul, de Gabriel Mascaro
Sem dúvida, o trabalho do pernambucano Gabriel Mascaro, premiado no Festival de Berlim e aclamado pela crítica, é um dos grandes filmes feitos no Brasil nos últimos anos. Mágico, poético, simples e ousado, Mascaro conseguiu criar uma Amazônia distópica e através dela mostrar que envelhecer não é necessariamente o fim da existência, mas uma fase da vida que pode ser um tempo de renovação, de descobertas e de libertação. É um coming of age que mostra ser possível escapar de um destino imposto mesmo aos 77 anos. – Alexandre Figueirôa.

08
Bugonia, de Yorgos Lanthimos
Yorgos Lanthimos construiu sua filmografia a partir dos absurdismos, sempre buscando deixar sua plateia entre o fascínio visual e o choque pelo bizarro. Bugonia talvez seja o seu filme menos ousado esteticamente, mas é um dos mais bem construídos e amarrados, com excelentes atuações de Emma Stone e Jesse Plemons. O filme se desenrola quase inteiramente a partir do diálogo de duas visões de mundo muito distintas, que mostram o dom de Lanthimos em explorar nuances que explicitam o quão complexo é o mundo. A trama desenvolve bem o debate extremista e conspiracionista ao mesmo que traz perguntas incômodas o fim (ou o recomeço) da vida na Terra. – Paulo Floro

07
Filhas da Noite, de Henrique Arruda e Sylara Silvério
Henrique Arruda e Sylara Silvério nos presenteiam com um retrato sincero das vidas de seis artistas incontornáveis da cena LGBTQIAPN+ recifense. Marcia Vogue, Christiane Falcão, Sharlenne Esse, Raquel Simpson, Suellany Tigresa e Paloma Pitt nos dão uma lição: apesar das dificuldades, elas mostram como, por meio da arte, enfrentaram os preconceitos e não permitiram que seus corpos dissidentes fossem oprimidos. O filme é um tributo comovente e amoroso que merece nossos aplausos. – Alexandre Figueirôa.

06
Kasa Branca, de Luciano Vidigal
A lente do diretor carioca apresenta uma geografia afetiva da favela enquanto lugar de sociabilidade e de redes de apoio. Daqueles filmes raros, onde tudo flui e nenhum elemento parece fora do lugar. Sensível e potente, Kasa Branca é um bonito mosaico a respeito daquelas vidas submetidas à dureza de viver na periferia de uma cidade caótica e paradoxal como o Rio de Janeiro. – Alexandre Cunha.

05
Faça Ela Voltar, de Michael Philippou e Danny Philippou
Num ano repleto de boas produções de horror, a obra dos irmãos Philippou examina as dolorosas fissuras provocadas pelo luto na vida de seus personagens. Se em Fale Comigo (2022) os cineastas já demonstraram competência na construção de sequências tenebrosas carregadas de drama, aqui o sofrimento atinge níveis quase insuportáveis – tudo organicamente tecido por um roteiro que, longe de querer surpreender, se atém à essência da narrativa. – Alexandre Cunha.

04
Pecadores, de Ryan Coogler
Ryan Coogler não quer falar apenas de vampiros em Pecadores, ainda que os sanguessugas do longa sejam os mais perturbadores que o cinema já fez em muito tempo. Ambientado na Mississipi segregada dos EUA dos anos 1930, o filme tem uma vivacidade exuberante em sua proposta de ser um espetáculo visual marcado pelo nascimento do jazz. Com diálogos bem construídos e uma trama que se desenrola na velocidade precisa para engajar a audiência, Pecadores traz uma criativa alegoria ao falar de temas como racismo e apropriação da cultura negra por parte do sistema branco e colonizador. A excelente trilha sonora só torna tudo ainda mais incrível. – Paulo Floro.

03
Uma Batalha Após a Outra, de Paul Thomas Anderson
Paul Thomas Anderson segue construindo crônicas sobre a sociedade americana em suas diversas contradições. Uma Batalha Após a Outra é sua obra-prima pela quantidade de temáticas que ele consegue introduzir e discutir com destreza sem se enrolar ou confundir. Racismo, militarização, violência, extremismo político, tudo aparece aqui como pano de fundo, mas há também uma boa história de amor em meio à guerra, a relação do pai (Leonardo DiCaprio) com sua filha (Chase Infiniti). PTA apresentou um roteiro azeitado entre comédia e melodrama, além de ter apresentado as mais lindas sequências de ação do cinema em 2025. – Paulo Floro.

02
Foi Apenas Um Acidente, de Jafar Panahi
As veias abertas da República Islâmica do Irã. No longa-metragem vencedor da Palma de Ouro de Cannes 2025, Jafar Panahi condensa todo seu domínio estético por trás da câmera para esculpir uma obra única, cuja temática ecoa não apenas no Oriente Médio, mas em qualquer nação que já se viu nas mãos de um regime opressor. Com uma das cenas finais mais impactantes dos últimos anos, Foi Apenas Um Acidente merece todas as honrarias conquistadas, durante o ano, festivais mundo afora. – Alexandre Cunha.

01
O Agente Secreto, de Kléber Mendonça Filho
Com a aclamação e consagração internacional com dezenas de prêmios recebidos e até possíveis conquistas no Oscar é até redundante entoar loas ao filme de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Wagner Moura. O Agente Secreto é cinema de primeira com C maiúsculo, mesmo com crítico sulista dizendo que não o entendeu. É um filme feito no Recife e sobre o Recife, portanto queiram ou não queiram os juízes ele é de fato o campeão. – Alexandre Figueirôa.


