640px Antonio Carlos Jobim
Foto: Wikimedia Commons.

Opinião: Há trinta anos o Brasil perdia o seu Tom

Conhecido por sua delicadeza e ode às belezas do cotidiano, o músico também marcou posição em um Brasil politicamente conturbado

Como se não percebêssemos, no último domingo (8), marcamos o 30º aniversário de morte de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o maestro soberano. Para muitos era o pai da Bossa Nova, mas não resta dúvidas que Tom Jobim foi um dos poucos e raros que mais divulgaram a beleza que o Brasil tem em todos os continentes deste planeta em que habitamos. Com a serenidade de quem contempla a beleza de um jardim, sob a sonoridade do canto dos sanhaços e outros pássaros típicos, Jobim reforçava em suas canções a beleza da mulher brasileira, o clima que em lugar nenhum encontramos igual, além da sensação única de viver um Brasil diferente do que ultimamente vivenciamos.

Sua obra transcendeu a música. Tom Jobim se tornou um embaixador cultural, levando ao mundo um Brasil de harmonia, ritmo, poesia, amores e encantamentos. Em “Garota de Ipanema”, talvez a sua canção mais reproduzida no mundo inteiro,  é uma reverencia à simplicidade e à beleza do cotidiano carioca, mas também um convite ao amor pela vida. Ao lado de Vinícius de Moraes, João Gilberto, Elis Regina e outros nomes icônicos, ele formou um legado que permanece insuperável na música popular brasileira e mundial.

Tom Jobim também marcou posição em um Brasil politicamente conturbado. Durante o período de repressão da ditadura militar, sua música, apesar de sutil e banhada em pura poesia, foi por inúmeras vezes, um refúgio para quem buscava liberdade em meio ao silêncio imposto. Em parceria com Chico Buarque, deu voz à crítica velada na canção Sabiá, quando trouxe a nostalgia misturada ao desejo de retornar a um Brasil idealizado e livre.

Ele cantou o Brasil das matas, das águas, dos passarinhos e das pessoas que habitam e constroem nossa identidade. Sua paixão pela natureza, expressa em músicas como “Águas de Março” e “Passarim”, mostrava que o cuidado com o meio ambiente também é parte do nosso patrimônio cultural. Hoje, enfrentamos desafios tão distintos daqueles dos anos dourados da Bossa Nova, mas a obra de Tom Jobim nos relembra o que temos a capacidade de sonhar, criar e transformar.

Há trinta anos, o Brasil perdeu seu Tom, mas seu legado segue vivo. Ele nos deixou um mapa melódico para encontrar o melhor de nós mesmos, um lembrete de que, mesmo em tempos difíceis, é possível redescobrir a beleza, a simplicidade e a paz que ele tanto cantou. Seu som ainda ecoa nas rodas de violão, nos palcos de teatros e nas playlists ao redor do mundo, provando que Tom Jobim não é apenas parte de nossa história, mas um símbolo eterno do que o Brasil pode ser.

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