DESESPERO EM AZUL
Novo manga da Conrad traz expressionismo, violência e sexo no limite do suportável
Por Paulo Floro
OORU
Jun Hanyunyuu
[Conrad, 176 págs, série bimestral em 5 volumes, R$ 12]
Trad: Drik Sada
Kazou Sanou é um mangaka (autor de mangás) que decidiu abandonar uma vida de sucesso e riqueza para se isolar na pequena ilha de Yonatou. Takeshi Antai é um editor de mangás endividado que decide ir atrás do recluso autor para que convencê-lo a desenhar uma nova história. Mesmo irredutível em seu exílio, os dois conversam num bar quando são surpreendidos por um tiroteio entre os yakuza. Este episódio vai mudar a vida dos dois personagens e é o fio condutor de Ooru, novo manga da Conrad Editora, que chega às bancas e livrarias esta semana.
O autor Jun Hanyunyuu é um dos mangakas mais cultuados no Japão pela sua ode à violência, vista nos seus trabalhos como um fetiche sexual. Neste obra em particular, não faltam tensões sexuais, submissão, referências à sadomasoquismo e claro, sodomia. Antes de desenhar Ooru (Azul, em japonês), ele fez Koi No Min, que ficou famoso no Ocidente pela adaptação para o cinema como Otakus in Love, selecionado para o Festival de Veneza em 2004.
A história, por vezes, derrapa em clichês do shonen (mangas voltados ao público masculino), sobretudo nos diálogos. O roteiro parece caminhar para um reducionismo, quando na verdade tem várias possibilidades a explorar. Uma delas, diz respeito ao personagem principal, Sanou, que segue o estereótipo do vingador autista obstinado, cuja missão única é matar alguém. A construção de personalidade mais interessante é de Antai, que em sua ambição não enxerga os perigos em que se mete.
A proposta estética do mangá é interessante. Hanyunyuu abusa do expressionismo nos seus desenhos, sem que para isso adentre no terreno dos mangás de horror, como Suehiro Maruo e Hideshi Hino. Seu traço é muito influenciado pelo pintor austríaco Egon Schiele, protegido de August Klimt e conhecido pelos auto-retratos em que explorava o grotesco e o pornô. Algumas passagens são particularmente perturbadoras. Em uma delas, Sanou mija nas calças como demonstração de prazer, para só então matar um dos mafiosos. Em outra, finge oferecer seu ânus para ser deflorado em troca de não ser morto, e em seguida atira no seu algoz. Tudo desenhado com traços que elevam o desespero ao limite. A busca de sentido para algo tão bizarro torna a série uma difícil leitura.
Lançada pela Conrad bimestralmente, Ooru poderia ter uma edição mais caprichada. Sobram erros de português em alguns títulos e faltam mais informações contextualizando a obra e o autor.
NOTA: 6,5