Como se constrói um preconceito? Quando o Nordeste passou a ser retratado como sinônimo de atraso, miséria e ignorância? E por que essa imagem – injusta, imprecisa e persistente – ainda marca o imaginário nacional? Essas são algumas das perguntas que movem Só sei que foi assim: a trama do preconceito contra o povo do Nordeste, livro do jornalista e pesquisador Octávio Santiago, publicado pela Autêntica Editora.
O lançamento em Pernambuco acontece nesta sexta-feira (18) de julho, às 19h, em Olinda, dentro da programação da Fenearte, a Feira Nacional de Negócios do Artesanato, no espaço Conversas Instigantes. O autor participa de um bate-papo com o jornalista Márcio Bastos, seguido de sessão de autógrafos. Esta será a primeira vez que o livro é lançado no estado.
Resultado de sua pesquisa de doutorado na Universidade do Minho, em Portugal, a obra traça um percurso histórico, político e cultural sobre como se construiu e se mantém uma imagem estigmatizada do povo nordestino. Com linguagem acessível e análise rigorosa, o livro tem sido amplamente bem recebido por leitores e formadores de opinião, a ponto de chegar à segunda tiragem em menos de 30 dias após o lançamento nacional.
A estrutura do livro se inspira na dramaturgia clássica, dividida em cinco atos que abordam os pilares do preconceito: desigualdades estruturais, racialização, monotematização (seca, fanatismo, violência), oposição e interesses regionais, e estereótipos físicos e culturais. Ao longo da narrativa, Octávio articula fatos históricos, discursos midiáticos e referências artísticas para desmontar ideias cristalizadas sobre o Nordeste e propor um novo espelho para olhar o Brasil.

Entre os destaques, o autor propõe o conceito de “Complexo de Macabéa”, em referência à personagem de Clarice Lispector em “A hora da estrela”, como símbolo do apagamento identitário imposto à população nordestina. Ele também analisa episódios emblemáticos, como a repercussão de representações contemporâneas e o infame caso do “homem gabiru”, matéria da Folha de S. Paulo em 1991 que comparava nordestinos pobres a uma “nova espécie humana”.
Outro ponto relevante da obra é o registro da recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que passou a reconhecer injúrias contra nordestinos como crime de racismo, marco jurídico que reforça o papel do livro no debate público contemporâneo.
“Só sei que foi assim” se apresenta como leitura essencial para todos que desejam compreender as raízes da desigualdade simbólica no país e contribuir para desmontar narrativas excludentes que ainda persistem contra a população do Nordeste.


