Obra “KilomboAldeya”, de Matheus Ribs, é alvo de censura durante festival em Petrópolis e gera repercussão nacional

Remoção da obra durante festival no Rio de Janeiro mobiliza editora, instituições culturais e parlamentares em defesa da liberdade artística

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Foto: Matheus Ribs/Arquivo pessoal.

A instalação artística KilomboAldeya, do artista visual Matheus Ribs, foi retirada do espaço expositivo durante o Festival de Inverno do Sesc, em Petrópolis (RJ), após intervenção da Guarda Municipal no último sábado (26). A obra, uma releitura da bandeira nacional que destaca as matrizes indígenas e afro-brasileiras, foi desmontada sob a justificativa de “descaracterização do patrimônio nacional”, com base na Lei nº 5.700/1971, que regulamenta o uso de símbolos nacionais.

O Sesc, responsável pelo evento, lamentou a ocorrência e destacou, em nota, que a diversidade artística é essencial para provocar críticas e reflexões. Segundo o artista, a retirada foi feita sem diálogo prévio, caracterizando censura e uso autoritário da força estatal. “A decisão de retirá-la não foi fruto de debate artístico, técnico ou institucional: foi um ato de violência policial e de censura direta à liberdade de expressão”, afirmou Ribs em publicação nas redes sociais.

A repercussão se estendeu para além do estado. A editora Ubu, que publica trabalhos do artista, divulgou nota de repúdio, afirmando que a ação configura um atentado à liberdade artística. Em entrevista, Ribs lembrou que a obra já foi exposta em diferentes contextos, inclusive na Sapucaí, no Rio de Janeiro, sem qualquer impedimento.

Movimentos sociais e instituições culturais também se manifestaram. O Museu de Memória Negra de Petrópolis classificou o episódio como reflexo de estruturas coloniais e racistas que insistem em silenciar manifestações culturais que questionam símbolos de poder histórico no Brasil. O Coletivo Povo do Santo reforçou que a cidade é “terra de aldeia e de quilombo” e não aceitará o apagamento da história.

A vereadora Julia Cassamasso (PSOL) afirmou que cobrará esclarecimentos da Prefeitura e considerou o ato parte de um projeto que persegue pensamento crítico, arte e memória negra. A deputada federal Talíria Petrone (PSOL) também demonstrou apoio ao artista, destacando que episódios como esse reforçam a tentativa de negar a identidade e invisibilizar o genocídio histórico e atual de negros e indígenas.

Para Ribs, a mensagem central da obra permanece. “Ainda que tentem removê-la do espaço físico, sua força permanece. KilomboAldeya não é apenas uma presença material: é uma ideia. E ideias não se apagam”, declarou.