DIFICULDADE DE ENVELHECER
Dirigido pelo aclamado David Fincher, O Curioso Caso… tem boas ideias mas é esquemático
Por Gabriel Gurman
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON
David Fincher
[The Curious Case of Benjamin Button, EUA, 2008]
Antes de mais nada, deixo uma coisa clara: O Curioso Caso de Benjamin Button é um excelente filme, mas, cujo maior problema, por mais estranho que pareça, é exatamente este.
Antes mesmo do início dos créditos (que, aliás, inexistem), a ficha técnica do filme é de impressionar: Adaptado de um conto de F. Scott Fitzgerald por Eric Roth, que também moldou, entre outros, Forrest Gump, o filme é dirigido pelo aclamado David Fincher (Clube da Luta, Seven, Zodíaco) e protagonizado por dois dos atores mais bem pagos de Hollywood, Brad Pitt e Cate Blanchett. Some a este cast uma história que lida com o amor e seus contratempos, a passagem (e o retrocesso) do tempo e quilos e mais quilos de maquiagem para deixar os atores o mais “oscarizáveis” possível. Ou seja, seria apenas mais um filme pré-fabricado do Star System norte-americano?
Sim. Durante a sessão de cinema, não tenha dúvidas que enquanto o namorado passará impaciente as mais de 2h30 do filme, sua parceira se emocionará com a história deste pequeno ser bizarro que nasce com as feições de um idoso em fase terminal da vida e que, por conta desta inexplicável (e inexplicada) doença, passa a ficar cada vez mais jovem ao longo de seus anos. Abandonado por seu pai, o “monstrinho” ganha o carinho de Queenie, responsável pelo asilo aonde o bebê foi deixado e que o considera um presente divino.
Na primeira parte do filme, vemos o crescimento, ou melhor, o rejuvenescimento deste personagem que, por conta de todas as dificuldades estéticas e salubres que a doença acarreta, está acostumado a conviver com pessoas que têm a idade que aparenta e não a que possui. Desta forma, o encontro com a jovem garota ruiva, dona de um par nunca antes vistos de olhos azuis, se torna inesquecível para Benjamin.
Obviamente, esta história fantástica é recheada de percalços que incluem a participação de Benjamin na Segunda Guerra Mundial e uma carreira bem-sucedida da menina ruiva que se tornara uma bailarina de talento, mas cuja carreira seria interrompida por um acidente.
Infelizmente, as não poucas qualidades do filme vão desaparecendo à medida que este conto fantástico se entorpece de contornos dramáticos excessivos como os re-encontros desencontrados dos dois protagonistas e a forma com que a história é contada, a partir das memórias, em off, de um diário escrito por Benjamin, lido pela filha de sua amada, agora uma idosa em seu leito de morte.
O romance designa entre outras coisas, as casualidades temporais que permeiam e norteiam os rumos de nossas vidas. A ideia, que aborda o efêmero e o inquietante tema dos encontros e desencontros vivenciados ao longo de duas existências, acaba por esbarrar no mesmo romantismo que vem determinando os grandes sucessos de Hollywood e faz com que uma excelente premissa se torne mais uma desculpa para encher o balde de pipoca amanteigada e gastar mais de duas horas que provavelmente serão esquecidas no próximo genérico assistido.
NOTA: 6,5
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