Entre os novos livros que chegaram, um possível clássico sci-fi, discursos sobre o golpe, um romance estilo Downton Abbey e uma obra anticapitalista essencial
Faca de Água, de Paolo Bacigalupi
Chega ao Brasil o sucesso do autor norte-americano Paolo Bacigalupi, tido como parte do sopro de renovação na literatura de ficção-científica. Autor de cinco romances ele venceu os prêmios Hugo e Nébula, dois dos mais importantes do gênero fantasia/sci-fi. Em Faca de Água ele apresenta um mundo pós-apocalíptico onde a água é um recurso escasso. Na trama, os EUA são uma nação fragmentada e em guerra, devastada pelas mudanças climáticas. Quem tem água tem poder e há diversas disputas envolvendo reservatórios e rios, como o rio Colorado. A narrativa se concentra na investigação de uma suposta fonte de água em Phoenix, no Arizone, onde um mercenário e uma jornalista se encontram em busca de informações. Bacigalupi se esquiva bem dos clichês dos futuros distópicos, mas não consegue abandonar o miopia de focar na América ao imaginar questões éticas e ambientais. O livro mostra que ele é mesmo um dos mais importantes autores de ficção científica em atividade hoje. [Intrínseca, 400 páginas, R$ 39,90] Compre na Amazon.
Por que gritamos Golpe? – Para Entender o Impeachment e a Crise Política no Brasil, por Vários Autores
Coletânea de textos lançada pela Boitempo, Por Que Gritamos Golpe? tem como proposta problematizar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff dentro de uma perspectiva de esquerda. O livro tem um caráter histórico por analisar o fato no meio do furacão socio-político que ainda está longe de arrefecer. O time de autores é um primor: André Singer (cientista político), Armando Boito Jr. (cientista político, professor da Unicamp), Djamila Ribeiro (secretária-adjunta da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo), Esther Solano (professora de relações internacionais da Unifesp), Graça Costa (CUT), Guilherme Boulos (dirigente do MTST), Jandira Feghali (deputada federal), Juca Ferreira (sociólogo e Ministro da Cultura afastado), Marilena Chaui (filósofa e professora aposentada da FFLCH/USP), Marina Amaral (jornalista e cofundadora da agência Pública), Mauro Lopes (jornalista, membro do coletivo Jornalistas Livres), Michael Löwy (filósofo e sociólogo, pesquisador no Centre National de la Recherche Scientifique/França), Roberto Requião (senador), Ruy Braga (sociólogo, professor da USP), entre outros. Os textos são inéditos e buscam uma genealogia da crise política, sobretudo no que diz respeito às ameaças que se colocam à democracia e aos direitos conquistados pela Constituição de 1988. Traz também caminhos de superação dos impasses políticos e busca compreender onde estaremos daqui pra frente. O livro tem charges de Laerte Coutinho, publicadas originalmente pelo jornal Folha de S.Paulo. A coletânea foi feita de maneira colaborativa: as fotos foram cedidas e selecionadas pelo coletivo Mídia NINJA e os textos cedidos pelos autores. Por isso, a edição está sendo vendida pelo preço de custo, R$ 15. Por que gritamos Golpe? é o quinto título da coleção Tinta Vermelha, que aborda perspectivas variadas sobre temas atuais, dando sequência à coletânea Bala Perdida: a violência policial no Brasil e os desafios para sua superação (2015). [Boitempo, 176 pags, R$ 12]. Compre na Amazon.
Belgravia, de Julian Followes
Mais conhecido como autor do hit da TV Dowton Abbey, o escritor inglês Julian Followes retorna à era vitoriana neste novo livro, que acaba de sair pela Intrínseca. O novo livro tem usa como base um pomposo baile oferecido pela duquesa de Richmond, em Bruxelas, às vésperas da Batalha de Waterloo, em 1815. Em vez da decadência da aristocracia inglesa em face às transformações do século 20, caso de Downton Abbey, aqui o mote é a ascenção da classe média britânica. Followes foca na família Trenchardsm que passam de pessoas humildes para nomes importantes do comércio e construção. São eles os responsáveis pela construção da região que batiza o livro. A obra foi lançada originalmente em capítulos através do site do autor. Ainda que se repita ao abordar o universo das elites, Followes tem a sensibilidade para dar complexidade a todos os personagens envolvidos e consegue usar o contexto histórico sem soar didático. A leitura tem momentos em que o autor se rende ao puro entretenimento, como se tentasse capturar a atenção do leitor na apelação emotiva. Teve a ver com o formato folhetim originalmente escolhido para o livro. Ainda assim, Belgravia é uma obra bem representativa de um autor no auge criativo. [Intrínseca, 368 pags, R$ 49,90] Compre na Amazon.
O Adulto, de Gillian Flynn
Gillyan Flynn “pegou” aqui no Brasil. Autora de sucessos como Garota Exemplar (que virou filme estrelado por Ben Affleck) e Lugares Escuros, seus livros saem no Brasil com muito destaque. No curtinho O Adulto ela faz uma homenagem às histórias de terror clássicas ao contar a história de um falso vidente que se depara com uma mansão aterrorizante. Flynn é ótima contadora de histórias e construiu um estilo de escrita calcado no perfil psicológico dos personagens, apresentados ao leitor quase como se estivessem sendo analisados por um psiquiatra. Nesse novo livro ela mostra que tem talento também para caminhar no universo do sobrenatural, o que é bastante bem vindo para o gênero. [Intrínseca, 64 páginas, R$ 24,90] Compre na Amazon.
A Arte de Viver Para as Novas Gerações, de Raoul Vaneigem
A coleção Baderna, da editora Veneta, lança um dos trabalhos mais importantes para o pensamento radical contemporâneo. Escrita por Raoul Vaneigem em 1967, o trabalho trouxe pensamentos que serviram de influência para os acontecimentos de maio de 1968, na França, que incendiou mentes em diversos outros cantos do mundo. Vaneigem faz uma crítica apaixonada do capitalismo e seus efeitos na vida cotidiana. Mas o legado da obra foi ter dado uma melhor exposição das ideias situacionistas. Foi ele, ao lado de Guy Debord, que formou o núcleo da Internacional Situacionista. O movimento político e artístico descreveu a sociedade do espetáculo e fez uma crítica do capitalismo a partir de uma perspectiva das sociedades contemporânas, baseadas no consumo. Pediam “a vida antes de todas as coisas”. O livro chega em um momento importante, onde o anticapitalismo ressoa forte através de novos tipos de organização. A edição da Veneta traz um prefácio inédito escrito pelo autor. [Veneta, 352 pags, R$ 49,90] Compre na Amazon.
Leia Mais
Podcast: Mídia e democracia, tudo a ver
Philip K. Dick e os limites da mente