Um olhar reflexivo e inquietante sobre as relações de trabalho desde a época de colonização brasileira e o paralelo com o cenário atual. Com um questionamento sobre os novos e velhos modelos de escravidão, o artista pernambucano Márcio Almeida leva para a Galeria de Artes Corbiniano Lins, no Sesc Santo Amaro, a exposição Nheë Nheë Nheë, tem início nesta quarta-feira (10/7), às 17h, com acesso gratuito e curadoria de Beano de Borba.
“É um paralelo em relação à questão do trabalho ocidental e ócio tropical e tem como base a interferência das religiões e as estratégias que os colonizadores usavam para catequizar os povos indígenas”, define o artista, que, durante residência no Usina de Arte Santa Terezinha, concebeu a exposição. O nome vem do tupi-guarani “Nhe”, que significa “fala”, e se amplia para acompanhar a mudança de significado que teve no decorrer do tempo e que, hoje, define “quem fala muito”.
Serão quatro instalações, e duas delas são inéditas. Uma das novidades é “Nheë Nheë Nheë”, que leva o mesmo nome da mostra, e traz 13 peças criadas com galhos de oliveira, pás e ferro de cova que dão forma a ferramentas de trabalho. Na tarde de abertura, a artista e performer Flávia Pinheiro vai ungir com óleo de urucum as peças de uma ânfora de 1,5 metro quebrada para mostrar a soma de elementos religiosos e versar sobre a disrupção sobre entendimento de trabalho e cultura.
A outra que será apresentada pela primeira vez ao público é “Nosso descanso é carregar pedras”, que utiliza cartões de ponto pintados com aquarela em formato de pedras. As duas demais são “Waiting for work” com uma série de dez fotografias reais retratando o descanso de funcionários após o intervalo do almoço, e “Truck Sistem”, que lança luz sobre a servidão por dívida.
Por meio de mais de 30 papeis carbono coletados e grafados, Márcio pretende atentar para uma escravidão que se dá a partir de débitos da classe trabalhadora.
O Sesc Santo Amaro fica na Rua 13 de Maio, 455, Santo Amaro. [Com informações do Cultura.PE).