Nosso Sonho
Eduardo Albergaria
Brasil, 2023, 1h57. Distribuição: Manequim Filmes
Com Juan Paiva e Lucas Penteado
Em cartaz nos cinemas
“Nossa história vai virar cinema / E a gente vai passar em Hollywood”, cantaram Claudinho e Buchecha no hit “Coisa de Cinema”. Agora, pouco mais de 20 anos depois do acidente que prematuramente tirou a vida de Claudinho e encerrou a carreira da dupla, os versos da canção se tornam realidade com Nosso Sonho, cinebiografia dirigida por Eduardo Albergaria, que estreia nesta quinta-feira (21) nas salas de todo o país.
Responsáveis por popularizar o funk melody, vertente romântica do ritmo, em meados dos anos 1990, Claudinho e Buchecha conquistaram o Brasil com letras que falavam de amor e sucessos inesquecíveis como “Só Love”, “Quero Te Encontrar” e “Nosso Sonho”, que dá título ao filme. No entanto, a trajetória promissora foi interrompida em 13 de julho de 2002, durante a turnê do sexto disco, Vamos Dançar, quando Claudinho foi vítima de um acidente fatal de carro.
Com roteiro assinado pelo cineasta ao lado de Daniel Dias, Mauricio Lissovsky e Fernando Velasco, o longa destaca a força e o talento dos MCs enquanto revela a história por trás da fama a partir da perspectiva pessoal de Buchecha: desde o início da amizade entre eles na infância em Niterói, passando pelo reencontro na adolescência no Complexo do Salgueiro, até chegar aos dias de estrelato. Tudo isso mergulhado na atmosfera efervescente da cena funk carioca dos anos 1990.
Mas, sem sombra de dúvidas, grande parte da força do filme vem dos atores Lucas Penteado e Juan Paiva, intérpretes de Claudinho e Buchecha, respectivamente. Embora muito tenha se comentado sobre a semelhança física de Penteado com Buchecha em vez de Paiva, a questão se revela insignificante para quem observa a atuação de ambos. A cumplicidade e a sintonia entre os dois, que já trabalharam juntos em Malhação – Viva a Diferença (2017), e o empenho em incorporar o carisma dos cantores e todos seus trejeitos é um dos destaques da produção.
Por privilegiar o olhar subjetivo de Buchecha sobre os acontecimentos, o longa se torna ainda capaz de oferecer uma visão única da conexão profunda que existia entre os dois cantores – o que fica ainda mais evidenciado pela escolha de situar a história entre dois acontecimentos marcantes nessa amizade: o primeiro um afogamento na infância, do qual Claudinho salvou Buchecha, e o segundo, o trágico acidente que vitimou o amigo.
A escolha por trazer essa perspectiva particular faz ainda com que Nosso Sonho enverede também pelo drama familiar, uma vez que a câmera acompanha Buchecha. Isso nos permite adentrar na complexa relação dele com seu pai (interpretado por Nando Cunha), uma verdadeira montanha-russa emocional que deixou uma marca profunda no cantor e reverberou na trajetória da dupla.
Mas, essa escolha também vem acompanhada de limitações. A principal delas é que o longa pouco tensiona para esmiuçar o sucesso meteórico da dupla. Em um contexto no qual eles foram a exceção, e não a regra, ao alcançar o estrelato, fica a impressão de que as nuances desse percurso poderiam ser mais exploradas, sobretudo, para dimensionar melhor o impacto que o sucesso estrondoso do funk melody de Claudinho e Buchecha causou num tempo em que os bailes e o ritmo periférico eram perseguidos.
De toda forma, isso não chega a exatamente comprometer o filme, que desperta a nostalgia, celebra a amizade e funciona como uma homenagem muito bonita ao legado da dupla. Para aqueles que forem conferir nas grandes telas, preparem o lencinho, porque Nosso Sonho vai emocionar.