Natania Borges
I
Independente, 2024. Gênero: R&B/Soul, Afrobeat
I é o disco que apresenta Natania Borges. Seu primeiro trabalho de estúdio solo e ainda com uma estética sonora bem diferente do EP Encosto (2020), parceria da cantora com Davi The Producer e Vaine, um trabalho focado no rap e hip-hop.
O álbum navega entre gêneros com raízes na cultura negra – pagodão, afrobeat e R&B, principalmente, mas ainda arrisca uma pitada de ritmos latinos, com uma pegada de Cumbia, como em “Passageira”, por exemplo. A produção, assinada pela própria Natania em parceria com Xavbeatz, mostra que, de maneira geral, o disco é muito bem pensado a partir das suas referências, com uma exploração musical que traz mais de uma faixa dentro de um determinado gênero.
Um dos destaques da produção do álbum é o trabalho com as texturas de voz. Natania, além de ser uma boa intérprete, se diverte com a plasticidade da vocais nas alterações eletrônicas, como bem evidenciado em “Protegida”.
Existe uma divisão entre a primeira e a segunda metade do álbum, de acordo com os gêneros musicais e as letras. A primeira metade é quente, com foco no Afrobeat e up-tempos, e letras que falam da autoafirmação de Natania em relação ao seu corpo e seu lugar social. “Burn”, segunda faixa – e uma das melhores do álbum – já abre esse espaço para as letras mais destemidas. Apesar dos bons instrumentais, a temática chega no limite sob o risco de soar repetitiva por ser estendida em sete faixas.
Positivamente, a faixa “Há um vazio” – outro destaque – dá o lugar da vulnerabilidade. A partir desse ponto Natania mostra outro lado seu, mais sensível, sem a armadura que ela veste durante a primeira parte. Ainda que exista uma ponta solta – “Power”, uma faixa que tem todas as características das primeiras sete faixas -, a sequência mais calma guarda os tesouros do disco.
“Oasis” é a melhor faixa de I, se destaca em muitos pontos, e interessante pelo uso da citação como uma outro antes do início da música. O tom introspectivo e muito pessoal dessa faixa é o que faz com que ela brilhe – assim como “Há um vazio”. Se diferenciam das músicas românticas/ sensuais que as cercam e nos dão acesso a parte mais íntima de Natania.
I é uma ótima estreia, exibe bem os talentos de Natania como cantora e compositora – principalmente se pensarmos que quase todas as canções do álbum foram escritas especialmente para ele. Existe muita criatividade e muita personalidade por trás da concepção do álbum, tanta certeza que até corre o risco dele ser redundante, mas esse é um problema que quase passa despercebido.
Escute I, de Natania Borges
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