As múltiplas dimensões da Maria bíblica servem de inspiração para o musical Maria e Outras Marias, que estreia no Teatro do Parque, no Recife, no dia 29 de agosto, às 20h. A montagem do grupo Contracantos em parceria com a 25 Produções utiliza teatro, poesia e música para propor uma reflexão sobre a força, o silenciamento e a invisibilidade das mulheres na sociedade contemporânea.
O espetáculo tem origem em um poema de Genserico Jr., que revisita a oração da Ave Maria à luz das dificuldades impostas por uma sociedade misógina, racista e elitista. Também dialoga com os versos de Rangel Alves da Costa, que evocam o cotidiano feminino. “É uma homenagem e uma provocação à necessidade de atenção às diversas mulheres na sociedade. Mulheres comuns, como nossas esposas, mães, avós, irmãs, que têm o seu papel e isso passa muito despercebido”, observa Matheus Soares, coordenador-geral do projeto ao lado de Yasmin Menezes.
Ambientada em um lixão fictício da periferia recifense, a trama coloca no centro uma catadora de lixo, interpretada por Pollyana Monteiro, que também assina a direção cênica. A personagem é surpreendida pela visita de um “anjo moderno”, com perfil andrógino, que anuncia sua maternidade. “A gente queria fazer essa analogia com uma catadora, que tem zero visibilidade. Ela questiona: ‘Ninguém me perguntou isso, eu tenho mãe, filho para cuidar’, e o anjo diz que ela não estaria sozinha”, explica Matheus.

A montagem se divide em três atos: anunciação (o chamado à maternidade), devoção (a missão sagrada) e a vida comum em uma comunidade de morro, em referência ao Morro da Conceição e às tradições religiosas populares do Recife. O repertório inclui clássicos da Ave Maria de compositores como Franz Liszt, além de canções populares como Ave Maria Sertaneja, de Luiz Gonzaga, Maria, Maria, de Milton Nascimento, e Lata d’Água.
Para a atriz Pollyana Monteiro, o musical busca evidenciar a resistência e a coletividade como formas de superação. “O espetáculo se constrói a partir do desejo de evidenciar a poesia que pode existir no meio da dureza. Queremos mostrar a força que há dentro de uma pessoa ao cuidar de outra e como isto pode transformar vidas. Além de trazer a coletividade como caminho para construção de um mundo menos individualista e mais empático. Para tudo isso, usamos como metáfora o nascimento de uma flor”, afirma.
O projeto, incentivado pelo Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) da Prefeitura do Recife, destina toda a renda arrecadada com a venda dos ingressos à Associação dos Catadores de Pernambuco. A cenografia é construída com materiais recicláveis recolhidos pelas trabalhadoras da entidade, reforçando a metáfora da reciclagem como renascimento feminino.
Serviço:
Maria e Outras Marias, do grupo Contracantos
Onde: Teatro do Parque (Rua do Hospício, 81, Boa Vista, Recife)
Quando: 29 de agosto, às 20h
Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia), à venda no site e aplicativo Guichê Web
Renda: revertida para a Associação dos Catadores de Pernambuco
Produção: 25 Produções

