Retorno do indie apaixonado e sofrido
RYAN ADAMS
Ashes & Fire
[Pax.Am / Capitol, 2011]
Poucos artistas são tão prolíficos quanto Ryan Adams. E músicos que fazem do seu trabalho um eterno work in progress, desenvolvendo e burilando sua sonoridade à vista de todos estão expostos a certos perigos, entre eles o de não conseguir remediar certos erros a tempo ou simplesmente entregar algo muito bruto, que poderia ser melhor trabalhado. Não é o que acontece aqui neste Ashes & Fire. Adams traz um conjunto de canções carregadas de letras autorais e arranjos burilados por um hiato que não é de seu feitio. O tempo fora serviu bem e gerou uma sofisticação que faz deste Ashes & Fire um dos mais melancólicos e delicados discos do ano. Mais calcado nas tradições country americanas na qual sempre se inspirou, RA dedilha seus mais recentes problemas. Com problemas de audição, o poeta indie coloca nas ruas mais um punhado de músicas para embalar pés na bunda. Que Ryan começa a soltar discos como quem faz compras de novo. [RS]
NOTA: 8,5
Stream | Ryan Adams Ashes & Fire
RADIOHEAD
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[TBD, 2011]
O novo disco do Radiohead, King Of Limbs, lançado no início deste ano não teve a repercussão (leia-se: mudar o mundo da música mais uma vez) que os fãs da banda esperavam, mas eles seguiram firmes na sua proposta iniciada desde o início da década passada. Agora, o grupo retorna aos holofotes para divulgar os remixes desse controverso álbum. As colaborações são de nomes promissores da nova cena eletrônica, como Jamie XX, Caribou (a melhor faixa, que abre o disco), Lone, Blawan e Illum Sphere. Se não conhece esses artistas, não gosta de música eletrônica ou o que seja, aconselho correr atrás. A força deste disco é tirada do DNA do Radiohead, presente em cada canção, a despeito do talento e personalidade de cada músico em seus remixes. A outra consequência da audição é a vontade de dar uma nova chance ao King Of Limbs. [PF]
NOTA: 7,0
MODESELEKTOR
Monkeytown
[Monkeytown, 2011]
O novo álbum do duo eletrônico Modeselektor estreou esta semana para download e disco físico, mas circula na rede há muito tempo, seja através de vídeos e faixas da própria banda, mas também através de um empurrãozinho de um fã famoso, Thom Yorke. O líder do Radiohead trabalhou em algumas faixas e não cansa de dizer o quanto esse grupo germânico pode apontar novas diretrizes para a música eletrônica que tem sido feita hoje na Europa. A exemplos dos blips e blops, das batidas retorcidas e um estilo com forte influência do jazz, funky e electro, podemos dizer que o Modeselektor segue a mesma escola de nomes interessantes como o Flying Lotus e até mesmo os trabalhos mais recentes do Radiohead. Monkeytown é o melhor disco da dupla, que já se aventurou pelo Hip Hop. Delicado e cheio de vigor, se encontra sem dúvida na vanguarda das batidas hoje. [PF]
NOTA: 8,0
SPANK ROCK
Everything Is Boring And Everyone Is A Fucking Liar
[Bad Blood Records, 2011]
O produtor e rapper Naeem Juwan, uma das metades do duo Spank Rock, está revoltado pelo que podemos entender do título de seu segundo álbum (Tudo é chato e todo mundo é um filho da puta mentiroso, em tradução livríssima). O triste é que ele está certo em relação ao seu próprio disco: o tédio impera em todo o longo trabalho e suas 14 faixas são repetitivas e não avançam em nada do que o músico já apresentou até aqui, seja em seus projetos pessoais, seja colaborando com outros artistas. Onde está o mojo cheio de tensão sexual de seu primeiro álbum, YoYoYoYoYo (2006). Só o que podemos destacar deste trabalho é a participação de Santigold, que ensaia um retorno aguardado. De resto, temos um momento pouco inspirado de um rapper talentoso. [PF]
NOTA: 4,5
Stream | Spank Rock Everything Is Boring And Everyone Is A Fucking Liar
dEUS
Keep You Close
[V2, 2011]
Os belgas do dEUS lançam o novo trabalho depois de seu trabalho anterior, Vantage Point (2008). Não é ainda o melhor trabalho da banda, mas mostra que eles recuperaram o vigor desde o hiato que vivenciaram no final dos anos 1990. Keep You Close tem sido recebido com simpatia, sobretudo por um motivo que pode parecer uma falha para alguns: é um disco sem riscos. Indo fundo na tradição roqueira de bandas como Elbow e Death Cab For Cutie, o grupo trabalha em uma sofisticada orquestra de instrumentos pra mostrar que sabem bem o que fazem, mas sentimos falta do toque de experimentalismo que fez a fama no início. No entanto, eles são espertos: não há como reclamar de faixas perfeitinhas para qualquer fã de rock, entre elas a pesada “Dark Sets In”, “The Final Blast” e “Second Nature”. [FA]
NOTA: 7,0
THE WEEKND
Thursday
[Independente, 2011]
Poucos meses depois de lançar o ótimo House Of Balloons, o cantor e produtor canadense Abel Tesfaye, mais conhecido como The Weeknd lança sua nova mixtape (como ele prefere chamar seus álbuns). Ele segue na sua proposta de reinventar o R&B, um ritmo que por décadas esteve ligado a uma sonoridade sexy e despretensiosa. Abel deu toques soturnos ao gênero, chegando a ser depressivo, até. Faixas como “The Zone”, com a voz sofrida pontuada por batidas eletrônicas mostram que o músico foi ainda mais longe que o trabalho anterior na tentativa de adicionar experimentalismo num estilo tão pop até então. Com apenas 22 anos, recluso e prolífico, Tesfaye se vende como um dos nomes mais criativos a surgir esse ano.
NOTA: 9,0