No Agreste de Pernambuco, uma região onde a natureza desafia e inspira, a força de um povo e a coragem de um homem transformaram o destino de uma cidade. Ali, no coração de Belo Jardim, a 183 quilômetros do Recife, ergueu-se uma fábrica que iria muito além da produção de doces: a Mariola, fundada em meados de 1915 por Jorge Aleixo da Cunha e sua esposa Quitéria Batista de Lima, se tornaria o alicerce econômico e cultural da região. Com a bravura de quem ousou em empreender em terras áridas, Jorge viu na produção de doces caseiros de Quitéria não apenas uma forma de sustento, mas um legado que refletia a garra de sua gente. Aos poucos, a Mariola foi ganhando espaço, até se tornar uma das maiores indústrias de doces do estado, um símbolo de pertencimento e orgulho para os moradores da localidade.
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A fábrica não produziu apenas doces; ela construiu histórias. Ao longo de quase cinco décadas, a Mariola foi parte do cotidiano de Belo Jardim, movimentando a economia, criando laços afetivos e marcando cada memória de infância com sabor. Agora, essa história volta a pulsar. O prédio da antiga indústria, que hoje é a sede do Instituto Conceição Moura, vai se tornar também um espaço de memória e celebração: o Museu Memórias Vivas.
A partir de fevereiro de 2025, ao cruzar as portas do Museu Memórias Vivas, idealizado e criado pelo Instituto Conceição Moura, o visitante será transportado para um tempo em que cada receita era carregada de afeto e cada doce, uma lembrança. A visita mediada conduzirá o público aos primórdios da fábrica, apresentando as raízes humildes de Jorge e Quitéria, que enfrentaram os desafios de empreender no Agreste e ergueram uma indústria que, até seu fechamento em 1969, foi um pilar da região.
“Trazer a história da Fábrica Mariola para o Museu Memórias Vivas é mais do que preservar o legado de uma indústria; é dar vida às memórias de um povo que ajudou a construir Belo Jardim”, reflete George Pereira, curador do Memórias Vivas. “A fábrica não apenas movimentou a economia e gerou empregos, mas também cultivou afetos, identidade e um sentimento de pertencimento. O museu se torna um espaço onde essa rica história é recontada, não só para aqueles que viveram essa época, mas, especialmente, para as novas gerações que precisam entender o valor desse legado”.
Durante a visita ao Museu Memórias Vivas, os visitantes terão a oportunidade de explorar o espaço onde um dia funcionou a fábrica de doces. No início da visita, o público é transportado para os primórdios da indústria local, conhecendo a trajetória dos fundadores Quitéria e Jorge Aleixo. Fotos antigas e objetos pessoais complementam o ambiente, enquanto réplicas em 3D dos maquinários permitem uma experiência tátil, resgatando as décadas de crescimento e os sucessos que consolidaram a fábrica como um símbolo de Belo Jardim. No encerramento, os visitantes são convidados a refletir sobre o impacto duradouro dessa história para a comunidade local. A visita termina no Cineteatro Cultura com a exibição de um curta-metragem, que aborda temas e memórias explorados na visitação, finalizando com um momento de troca e avaliação entre os visitantes.
Além da exposição permanente, o espaço contará com uma exposição imersiva temporária. A primeira mostra vai celebrar a identidade e o talento do Agreste pernambucano, com assinatura da produtora cultural e fotógrafa Thalita Rodrigues, cuja obra captura a essência e a história local, trazendo reflexões sobre a vida na região. A exposição vai integrar arte, tecnologia e memória, fortalecendo o sentimento de pertencimento e proporcionando uma conexão mais profunda com a riqueza da história regional.
Curadoria
O processo curatorial do Museu Memórias Vivas foi construído a partir dos próprios elementos da antiga Fábrica Mariola, incluindo maquinários e fragmentos parcialmente restaurados. Textos da literatura local forneceram uma base essencial para entender a dinâmica de construção da fábrica, enquanto entrevistas com ex-funcionários e pessoas próximas à sua história trouxeram à tona a afetividade e as lembranças de quem viveu a época. Esses relatos permitiram à curadoria cruzar as informações dos textos históricos com as memórias pessoais, criando um panorama mais humano e visceral do passado. Fotografias e documentos, embora raros, foram fundamentais para capturar momentos específicos e solidificar o retrato de uma época vivida intensamente pela região.
“Ao montar a curadoria, selecionamos cada item com a intenção de construir uma releitura desse espaço que vai além da estrutura física. Queremos que os visitantes sintam o peso da história ao caminhar pelo próprio prédio. Nosso objetivo é disseminar e salvaguardar as memórias vivas, valorizando as histórias que moldaram a identidade econômica e cultural da cidade, perpetuando o orgulho dos moradores por sua herança”, pontua o curador George Pereira.
Acessibilidade
O Memórias Vivas foi projetado para ser um espaço inclusivo e acessível, garantindo que visitantes de todas as necessidades e capacidades possam aproveitar a experiência. Para atender pessoas com mobilidade reduzida, o espaço conta com rampas de acesso, uma plataforma elevatória e banheiros adaptados. A estrutura também inclui sinalização adequada e miniaturas em 3D das peças em exposição, facilitando o acesso ao conteúdo para visitantes com deficiência visual, enquanto QR codes distribuídos nas galerias irão oferecer audiodescrição.
Além disso, o museu se destaca pelo compromisso em promover acessibilidade total, incluindo a presença de intérpretes de Libras para traduzir as informações e conteúdos expositivos para a Língua Brasileira de Sinais, garantindo que pessoas com deficiência auditiva tenham acesso às exposições e atividades. Monitores capacitados estarão disponíveis para acompanhar e orientar visitantes com deficiência ou transtornos mentais.
Museu Memórias Vivas
Endereço: Rua Marechal Deodoro, 45, no Centro de Belo Jardim
Funcionamento: De terça-feira a domingo, das 9h às 20h
Inauguração: fevereiro de 2025
Agendamentos: 81 97314-6655
Entrada gratuita