“As pessoas têm uma visão pré-concebida de que as mulheres do mundo árabe não têm autonomia de nada, que elas são relegadas a um segundo plano sempre, porque vivemos em uma sociedade patriarcal no mundo árabe”, disse a curadora Carol Almeida em entrevista à Revista O Grito!. A afirmação se refere ao conceito central da Mostra de Cinema Árabe Feminino, que busca ampliar a visibilidade de obras dirigidas por mulheres árabes (residentes em países árabes ou integrantes da diáspora) e desafiar narrativas limitadas sobre seu papel na sociedade e no cinema.
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A 5ª edição do evento será realizada pela primeira vez no Recife entre os dias 13 e 17 de agosto, com programação gratuita na Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), no Derby, e no Cinema São Luiz. Com curadoria de Alia Ayman, Analu Bambirra e Carol Almeida, a mostra contará com exibições de filmes, masterclass on-line, mesas redondas, sessões comentadas, atividades formativas e o lançamento de um catálogo com textos inéditos sobre as obras selecionadas.
Segundo a curadora, o evento busca desconstruir visões limitadas sobre a presença feminina no cinema árabe. “O fato é que precisamos desmistificar essa narrativa de que as mulheres no mundo árabe não têm autonomia para criar e estar no mundo, na centralidade das construções de imaginário. Muito pelo contrário: elas são centrais.”

A mostra não se organiza em torno de um único tema, mas reúne obras que refletem múltiplas abordagens. “Acho que não dá para ter algo que possamos chamar de central, um tema único. Mas, dito isso, acho que, de uma forma muito interessante e dentro dessas maneiras plurais de contar histórias, temos uma certa recorrência de narrativas que já se colocam políticas – sejam elas ficcionais, experimentais ou documentais”, afirmou.
Os filmes, explica Carol, dialogam diretamente com questões sociais e culturais. “São filmes que se implicam politicamente no mundo, seja com ficção, seja com documentário, por exemplo, sobre a própria família.”
Um dos grandes objetivos dessa mostra é mostrar não somente que o mundo árabe tem uma cultura cinematográfica, mas que as mulheres no mundo árabe, muitas vezes, desafiam as nossas culturas cinematográficas ocidentais, produzindo novas linguagens e criando desafios estéticos e éticos.
Carol Almeida, curadora
“Pela primeira vez, teremos sessões que combinam filmes de mulheres árabes com filmes de diretoras brasileiras. Aqui no Recife, faremos duas sessões: uma com filme de diretora palestina e filme de diretoras pernambucanas, e outra também com filme de diretora palestina e mais de uma diretora brasileira. Sempre haverá debate depois dessas sessões, e será muito importante estabelecer conexões e pontes entre a vida na Palestina e a vida no Brasil que, apesar de estarem em lugares geograficamente tão distantes, têm tantas proximidades que muitas pessoas talvez desconheçam”, afirma.

Além das exibições, a mostra mantém a tradição de promover atividades de formação. “Atividades formativas sempre existiram na mostra desde a sua primeira edição. Então, essa preocupação em ter mesas de debate, comentários pós-filmes e masterclass com diretoras convidadas acontece desde a primeira edição da mostra, que ocorreu em 2019. Aqui no Recife, a diferença é que, além disso, estamos oferecendo uma oficina uma semana antes da mostra começar. Essa oficina vai acontecer nesta quinta e sexta, na Fundaj do Derby, com dois dias de aulas sobre as questões éticas implicadas nas imagens a partir da história do cinema palestino.”
Para Carol Almeida, essas iniciativas têm um papel central na proposta do evento. “O nosso objetivo com essas ações formativas é justamente desmistificar o olhar para o cinema árabe de uma forma geral, mas, particularmente, para um cinema árabe produzido por realizadoras de ontem e de hoje. Realizadoras que há muitos anos vêm fazendo filmes dentro do mundo árabe, como realizadoras contemporâneas, e que são várias.”
A sessão de abertura, no dia 13, às 17h30, na FUNDAJ/Derby, exibirá Rainhas, de Yasmine Benkiran. No mesmo dia, às 19h30, será apresentado Sudão, Lembre de Nós, de Hind Meddeb. No dia 14, a programação inclui a Sessão Educativa com Slingshot Hip Hop, de J. Reem Salloum, às 16h, voltada para estudantes da Escola Governador Barbosa Lima; Os Três Desaparecimentos de Soad Hosni, de Rania Stephan, às 18h30; e Fatma 75, de Selma Baccar, às 20h, todas na FUNDAJ/Derby.
Serviço:
Mostra de Cinema Árabe Feminino – Recife
13 a 17 de agosto de 2025
FUNDAJ/Derby – Entrada gratuita, reserva de ingressos pelo Sympla (link a ser divulgado)
Cinema São Luiz – Entrada gratuita por ordem de chegada, sujeita à lotação
Oficina “Gestos ético-estéticos no cinema a partir da Palestina” – 7 e 8 de agosto, 9h às 12h, na FUNDAJ/Derby. Inscrições até 6 de agosto ou até o preenchimento das vagas.
Mais informações: @cinema_arabefeminino

